24.12.05

o resto são fogos de artifício e pisca-pisca!...

Em breve, pousarei e repousarei no Pouso da Cajaíba. Nada de e-mails!... meus meios de comunicação serão ventos, mares, matas, céu estrelado, lua, sol, areia, terra, sombra e água fresca... (e uma cachacinha de vez em quando, que ninguém é de ferro!...) vou dilatar meu tempo, vou devagar no tempo, vou divagar no espaço... – já vou tarde!... vou sem deus, vou em paz, vou com os meus... ficarei na casa das onze mulheres – e temo pelos pescadores da região, que podem virar pesca!... vou me ditar tudo o que pretendo realizar em 2006, meditar... e me ditar tudo diferente... meditar mais uma vez... até não me ditar mais nada e simplesmente ser... talvez, quem sabe, na medida do impossível, eu tenha um feliz ano novo... E é na medida do impossível que eu desejo a quem pousar neste blogue, neste tempo de vacas aladas, um natal longe da histeria frenética do consumo, dos presentes sem amor, dos sorrisos sem calor... um ano que não seja novo só no nome, mas que renove em cada um a disposição de construir um mundo novo... o resto são fogos de artifício e pisca-pisca!...

Republico abaixo meu texto sobre o natal, pra que repique como um sino pequenino blém, blém, blém...

Clima de Natal

Calor infernal!
Pessoas se acotovelando, nos shoppings, nas ruas do Centro, por todos os cantos, piscam luzes, luzes, lu-zes co-lo-ri-das, piscam, piscam, fre-né-ti-cas-co-lo-ri-das, nas árvores da cidade, nas sacadas dos edifícios, nas barracas de camelôs, na sua casa, na cabeça pisca-pisca, lojas lotadas, vendedoras frenéticas empurrando tudo: “compre, compre, compre”, “ai, tá uma graça!”, “é a sua cara!”, “tá na última moda!”, “tem saído muito!...”, “quer que embrulhe pra presente?” Presente... Pressente que tem alguma coisa errada? Papais Noeis encasacados, coitados! - calor infernal! - trabalham, trabalham, trabalham suados..., dão beijinhos nas filhinhas da mamãe - “Eu quero a Barbie super-splish-splash-glitter-girl-pink-link-now!”, “eu quero, eu quero, eu quero!!!” Papais Noeis cansados, ensopados, desempregados, desanimados dizem “ho, ho, ho”! Piscam pessoas de todos os lados, acendem co-lo-ri-das, apagam desbotadas, ascendem co-lo-ri-das, descendem desbotadas, sobem, descem, escadas rolantes, rodam, rodam, rolam, doam um quilo de alimento pra ceia natalina daquele miserável ali da esquina – e que se dane o resto do ano! -, e armam presépios, e trocam presentes, e rezam, e ceiam: “Feliz Natal!”, “Feliz Natal!” (no subtexto eu te odeio, mas não faz mal...) E mais um ano se vai... - e tá tudo igual: menino malabarista no sinal tentando se equilibrar na vida... “Liga não, daqui a pouco é carnaval!” Mas nada como esse clima de natal! Infernal!
É..., se nascesse hoje um menino Jesus, ele mesmo que se pregava na cruz!

23.12.05

Odiável diário, hoje eu não prestava, hoje o metrô era mais que uma boa metáfora, hoje vi que os olhos do cristo eram cegos e de concreto, hoje senti de novo o empuxo pelos avessos, hoje queria me jogar fora, hoje eu era uma pedra no sapato, hoje os trilhos falaram meu nome, hoje foi salgado o preço da lágrima, hoje eu quis dar um chute no traseiro, hoje queria ser veloz, veloz, veloz até sumir daqui, hoje sentei e pensei um modo de me dar um murro bem dado no focinho, hoje eu quis ser uma parede, hoje eu sei o de que eu quero me esquecer, hoje o vagão me levou mais um rosto borrado na janela.

22.12.05

corpo-a-copro

devora a minha boca
ávida de teus beijos
agarra minhas ancas
grávidas de desejo
arranca minha roupa
despe minha alma
com teu verso cru
com teu corpo nu
meu corpo nu
teu corpo
no meu

21.12.05

carta fora do baralho

meu verso é carta
fora do baralho
carta curta que me ronda, decisiva
às vezes carta-bomba!
outras carta suicida...

meu dragão

meu dragão
é puro fogo
e cospe fumaça
meu dragão
de pequeno porte
porta em si o universo
sobrevoa as estrelas
e vira láctea

20.12.05

Veja bem, meu bem

de Marcelo Camelo

Veja bem, meu bem:
sinto te informar
que arranjei alguém
pra me confortar.
Este alguém está
quando você sai
e eu só posso crer,
pois sem ter você,
nestes braços tais.

Veja bem, amor,
onde esta você?

Somos no papel
mas não no viver!

Viajar sem mim,
me deixar assim...

Tive que arranjar
alguém pra passar
os dias ruins.


Enquanto isso,
navegando eu vou
sem paz.

Sem ter um porto,
quase morto,

sem um cais.
E eu nunca vou
te esquecer, amor,

mas a solidão
deixa o coração

neste leva-e-traz.

Veja bem além
destes fatos vis.

Saiba: traições
são bem mais sutis!

Se eu te troquei
não foi por maldade...

Amor, veja bem,
arranjei alguém
chamado saudade.

Flor da pele

de Zeca Baleiro

Ando tão à flor da pele,
que qualquer beijo de novela me faz chorar
Ando tão à flor da pele,
que teu olhar flor na janela me faz morrer
Ando tão à flor da pele,
que meu desejo se confunde com a vontade de não ser
Ando tão à flor da pele,
que a minha pele tem o fogo do juízo final

um barco sem porto sem rumo sem vela cavalo sem sela

um bicho solto um cão sem dono um menino um bandido
às vezes me preservo noutras suicido

19.12.05

Veja bem,

nem todo fogo
é de artifício
nem todo osso
é de ofício
nem toda carne
é de pescoço
nem todo fruto
chupado é caroço
nem toda matéria
é disciplina
nem toda poesia
é rima

e eu...
não rimo com nada disso!

sou fogo!
de carne e osso
sou fruto
de matéria e poesia

18.12.05

tratante,

não quero mais trato contigo
trate de ir embora!
já não te basta tratorar meu coração?!
não, não...

é preciso triturar ainda.

15.12.05

entre sem bater

se fosse cela
meu coração era superlotado
mas livre e vasto
te cabe folgado
entre e fique à vontade!...

cláusula de escape

já rasguei tantos contratos
que nem assino mais
amor não reconhece firma
só se afirma, se afirma, se afirma...

não me venha com artigos e normas!
meu parágrafo é primeiro e único:
na alínea da paixão não há burocracia
só se cria, se cria, se cria...

ps. "a vida é curta pra ser pequena” (Chacal)

12.12.05

A bonequinha viu...

Tudo bem que eu não sou nenhuma bonequinha, e me comparar ao bonequinho d’O Globo é uma afronta... A MIM! Mas hoje senti vontade de dar uma de crítica de teatro e de cinema, que são minhas grandes paixões – mais que poesia, mais que literatura...! Ainda estou embriagada pela peça e pelos chopes que se seguiram a ela, mas putaqueopariu, o Armazém Cia. de Teatro é realmente um dos melhores grupos de teatro deste país! Já vi tantas atrocidades feitas a partir de textos de Nelson Rodrigues, tantas!... E “Toda nudez será castigada” nas mãos de Paulo de Moraes e daquele elenco de feras, mesmo depois de ler a peça quinhentas mil vezes, ainda conseguiu me surpreender!... Uma conjunção de talentos, desde o gênio do autor, ao diretor, atores, cenógrafos... Que cenário! Quase nada e era tudo!... O ritmo da montagem, quase cinematográfica... plano-a-plano... os “cortes” quase imperceptíveis... a iluminação, o som... que precisão! tudo impecável... e todos os pecados rodrigueanos lá! todas as vírgulas, todos os parêntesis, todas as rubricas... e a força da montagem era tal que ultrapassava o texto, embora se mantivesse “fiel” (entre aspas, porque esse conceito de fidelidade é problemático e eu não quero desenvolver conceitos, só impressões, que isso aqui não é um trabalho acadêmico). Enfim, enfim... enfim, uma excelente montagem de Nelson Rodrigues! Antes dessa, a única que me vem à mente é a do meu ex-professor de teatro, Luiz Carlos Persy, de “O beijo no asfalto”. Mas isso foi em 1997, se não me engano... E eu negligenciei algumas, porque me recusei a assistir! Os filmes, eu vi quase todos! - só não vi o que não tinha disponível em locadora... E não gostei da maioria! Mas “A falecida”, do Leon Hirszman (que eu vi no telão do Cine Arte UFF!), e o “Boca de Ouro”, do Nelson Pereira dos Santos, são indispensáveis! Este último me rendeu até um trabalho acadêmico... Aliás, as análises do Ismail Xavier em “O olhar e a cena” são também muito boas! Mas de cinema eu ia falar mesmo é do “Vinícius”... O Vinícius eu amei, mas o filme nem tanto... Pra mim o que segura o filme é a figura fantástica do Vinícius de Moraes, seus textos, suas músicas, suas histórias de vida... (bons depoimentos!) Mas da estrutura narrativa do filme eu não gostei, não. E achei que a Camila Morgado, que considero uma boa atriz, estava declamatória demais... O Ricardo Blat falou os textos com simplicidade e profundidade. A Camila estava um pouco acima do tom. E aquele palquinho eu achei desnecessário. Nada melhor pra ambientar os textos e músicas do Vinícius que os cenários do Rio de Janeiro, as praias, as esquinas, os botecos, as calçadas... as garotas de Ipanema... Tudo bem que elas não sejam mais as mesmas, mas... Aquela formalidade toda me pareceu firula de diretor... e as paisagens eram pausas, não eram textos! (Eduardo Coutinho que faz uma imagem falar mais que mil depoimentos!...) Além dos textos e músicas de autoria reconhecível, não vi muito Vinícius de Moraes ali! Ele não cabia naquele espaço! Ele é muito maior!... Mas é graças a ele que o filme se sustenta e termina super “happy end”... Isso até me lembrou um pouco o “Cazuza”, aquele vídeo-clipe com um sósia perfeito que tem uma historinha mal contada no meio... Você vibra com o Cazuza, porque é o Cazuza, mas o filme em si... deixa muito a desejar!... No mais, vou desejando, boas peças, bons filmes, boas poesias, boas músicas, arte, arte, arte!... E o mercado que se exploda!!!

9.12.05

A rede é boa, dá pra pescar!...

O Chacal publicou meu texto no blogue dele, e o Paulo Stocker pescou de lá, e eu pesquei essa tira no blogue do Stocker...
Paulo Stocker

7.12.05

CEPisca-pisca

CEP 20.000, dia 13, terça, às 20h, no Sérgio Porto: eu vou falar essa palavra presa na garganta!

6.12.05

Clima de Natal

Calor infernal!
Pessoas se acotovelando, nos shoppings, nas ruas do Centro, por todos os cantos, piscam luzes, luzes, lu-zes co-lo-ri-das, piscam, piscam, fre-né-ti-cas-co-lo-ri-das, nas árvores da cidade, nas sacadas dos edifícios, nas barracas de camelôs, na sua casa, na cabeça pisca-pisca, lojas lotadas, vendedoras frenéticas empurrando tudo: “compre, compre, compre”, “ai, tá uma graça!”, “é a sua cara!”, “tá na última moda!”, “tem saído muito!...”, “quer que embrulhe pra presente?” Presente... Pressente que tem alguma coisa errada? Papais Noeis encasacados, coitados! - calor infernal! - trabalham, trabalham, trabalham suados..., dão beijinhos nas filhinhas da mamãe - “Eu quero a Barbie super-splish-splash-glitter-girl-pink-link-now!”, “eu quero, eu quero, eu quero!!!” Papais Noeis cansados, ensopados, desempregados, desanimados dizem “ho, ho, ho”! Piscam pessoas de todos os lados, acendem co-lo-ri-das, apagam desbotadas, ascendem co-lo-ri-das, descendem desbotadas, sobem, descem, escadas rolantes, rodam, rodam, rolam, doam um quilo de alimento pra ceia natalina daquele miserável ali da esquina – e que se dane o resto do ano! -, e armam presépios, e trocam presentes, e rezam, e ceiam: “Feliz Natal!”, “Feliz Natal!” (no subtexto eu te odeio, mas não faz mal...) E mais um ano se vai... - e tá tudo igual: menino malabarista no sinal tentando se equilibrar na vida... “Liga não, daqui a pouco é carnaval!” Mas nada como esse clima de natal! Infernal!
É..., se nascesse hoje um menino Jesus, ele mesmo que se pregava na cruz!

4.12.05

Dizer Poesia

Dia 05/12 - O Projeto Cultural Dizer Poesia, iniciativa artístico-cultural-extensionista da UNIVERSO, realiza sua última edição do ano em Niterói, reunindo poetas e amantes da poesia para a leitura de suas próprias obras ou textos de seus autores prediletos. O grande e esperado momento do Dizer Poesia é a roda aberta, quando todo o público pode protagonizar a cena principal, dizendo os poemas que sente vontade. Entrada franca. Apoio cultural: Ótica Maxvision, Editora Impetus e ONG LEIA BRASIL.
Local: Livraria Ver e Dicto. Rua Moreira César, 158 - Icaraí.
Horário: 19h30


Fonte: Assessoria de Cultura - UNIVERSO

3.12.05

Amanda Petardo

Ao ouvir falar dAmanda,
fui tomada duma inveja.
Mas veja só!
Ao vê-la assim tão bela,
tal estrela, tão nadela,
não quero sê-la,
quero tê-la,
ela na minha tela:

Amanda Petardo é uma pantera caótica, o alicerce de todas as paixões possíveis. No dia em que a conheci, foi tesão à primeira vista, eu nunca havia visto um espectro com tal aspecto. Ao dar de cara com essa fera mitológica, górgona dos olhos azuis, todo homem é tomado por um estranho estado de estupor não-estipulado. Diante da improbabilidade de tê-la como propriedade, cientes da impossibilidade de possuí-la por completo, hordas de investidores se debatem num desespero wallstreetiano. Nada a compra. Homem nenhum conquistou nem vai conseguir conquistar o coração e alma dessa top-model-pop-rock-star, Amanda escapa por entre seus dedos, tal qual uma lavadeira a voar veloz. Pasmos com sua auto-suficiência, sua ignorância, seu coração de aço, filósofos e boêmios especulam em rodas de bar - de onde Amanda vem, pra onde Amanda vai? Será que existe vida após Amanda, será que existe Amanda após a morte? Será que Amanda tá com encosto, será que Amanda é o Anticristo? Será que Amanda veio ao mundo somente para partir os pobres corações de jovens poetas românticos da Zona Sul como eu, ou será que Amanda é só mais uma ingênua Julieta, à procura de seu Romeu?


prAmandaPetardo

nAmanda questá meu mundo

Amanda no mundo anda

a mando dAmanda

amando Amanda

Amanda manda

Amanda anda

Amanda dá

Aman-dá
Daniel Soares&Dudu Pereira

Trem de samba e chuva pra lavar a alma!

“Foi um rio que passou em minha vida, e meu coração se deixou levar...” Ao som deste samba, partia o trem pra Oswaldo Cruz. E meu coração se deixava levar, e minha alma se deixava lavar... Chovia uma chuva fina e insistente. Eu olhava pela janela experimentando a sensação (nova para mim) de pegar um trem da Central. A batucada no vagão dava o ritmo da minha pulsação. As paisagens do Rio que não estão estampadas nos cartões postais passavam quadro-a-quadro na minha frente. O trem lotado pulava sobre os trilhos e todas as vozes entoavam as canções e todas as mãos se faziam percussão... E assim seguia o Trem do Samba... E assim, no Dia Nacional do Samba, tomamos banho de chuva e de samba em Oswaldo Cruz pra lavar a alma... Eita, trem bão!

1.12.05

Tá comprovado: vaso ruim não quebra fácil!

Deu hoje no Jornal Hoje:
A maior expectativa de vida do país é no Distrito Federal...
(e o povo continua nessa expectativa de morte...)

29.11.05

aviso aos navegantes...

...que em breve será publicado um outro texto meu sobre o Poesia Voa na seção de cultura do site do Fazendo Media: http://www.fazendomedia.com/cultura.htm (já tá lá!)
...e que em breve haverá uma coluna de poesia lá. Mas para isso preciso que "poetas de todo o mundo, uni-vos" me mandem seus trabalhos: biatavares@yahoo.com.br

apodrece com qualquer um...

Quem é vivo sempre aparece
Quem é morto sempre apodrece
Pra que tanta prece?
Pra que tanta pressa?
Pra que paraíso em que se padece?
Desce ao inferno, se estressa,
entrega a alma ao capital
Morrer em vida é já fato banal


E no final das contas
O que conta?
Pede a conta!
Faz as contas!
Vem aqui e me conta:
de que valeu?
Viveu no céu quando morreu?
Ou apodreceu em vida e depois...
também apodreceu?

28.11.05

Por quem minhas asas ruflam?

É humanamente impossível traduzir aqui o que foi o Poesia Voa. Só posso dizer que a poesia voou alto, muito alto, deu várias piruetas no ar, voou em várias direções, às vezes em bando, outras em vôos solitários, algumas esquadrilhas da fumaça deixaram versos escritos no ar em vôos rápidos e certeiros, não faltaram asas ruflando poesias por toda a parte, e muita poesia voou dentro de mim, me percorreu e foi-se embora, deixando apenas seu eco distante...
Voa, oa, oa, oa, oa...
Voei muito pegando carona nos vôos alheios... Voei alheia... E como é bom estar sozinha pra decidir a direção dos meus vôos!...
Vou destacar apenas alguns dos nomes que fizeram minhas asas se agitarem:
Camerata Stoyyan, lindo show, fiquei hipnotizada como se ouvisse um canto de sereia.
Aline Arteira, linda, visceral, serena e forte...
Mano Melo, sem palavras, o cara é foda! E afinal de contas, ele comeu a Madona!... (e ainda fez sexo em Moscou...)
Viviane Mosé, fala maravilhosamente bem e tem o que falar! O tempo não foi bom comigo, ela podia ter ficado mais tempo no palco!
Graça Carpes, que é uma graça e me presenteou com dois cartões lindos, lindos! Está mesmo condenada à poesia!
Incrível, mas os Versos da 1/2 Noite me resgataram das trevas!
Patrícia Carvalho-Oliveira, com seus cabelos de fogo, sua presença puro-fogo, mulher fantástica!
Putaqueopariu, viva o CEP 20.000! Chacal é foda. Foda. Foda com Chacal deve ser foda! Parador Bangu, Falapalavra, Seqüelândia... E quem é essa vadia dessa Amanda?! (controle-se, Bia, inveja não é um sentimento bonito pra se expor em público...)
A banda Fullgás baixando os santos de Cazuza e Renato Russo no palco do Circo me fez dançar como se não houvesse amanhã... (eu sou mesmo exagerada!)
O último dia me surpreendeu. Cheguei ao som dos PoETs. Ouvi Desmaio Públiko. Vulgo Qinho e Os Cara e Omar Salomão arrebentaram. A poesia funk me sacudiu da cadeira. Jorge Mautner - e eu amo violino! Jards Macalé. Elen Nas, sereia que extasia, não anestesia. Rolou uma fila pra falar poesia, e eu odeio fila! Mas ouvi algumas coisas boas. Tavinho Paes mandou ver metendo o pau na falta de apoio ao festival! E no final, aquela roda de poetas lá, mas eu já estava mais pra lá do que pra cá - ou mais pra cá do que pra lá - e resolvi atravessar a poça, terminar este texto e me deitar.
Mas não posso deixar de falar do João Luiz, lindo, que me abriu as portas do Dizer Poesia, e do meu amigo Ricardo Jacomo, o homem voador que pousou no Circo.
Meus pulmões e fígado quase não se agüentam mais, pedem uma trégua, e eu lhes digo: descansem na segunda, que terça eu não perco o CEP no Sérgio Porto nem que eu continue tossindo... cof, cof...

26.11.05

Crônica da semana

Cara-a-cara com o público

Nada como um dia após o outro, e muita cachaça entre eles!... Comecei a semana me apresentando no Dizer Poesia, na Livraria Ver e Dicto. Poucas pessoas, clima aconchegante, perfeito para vencer a inibição. Mesmo assim tive palpitações e uma tremedeira que parece tomar meu corpo inteiro, mas só se reflete levemente nas mãos...
No dia seguinte, mesma coisa. Na verdade, um pouco pior: palco montado na Praça de São Domingos, público bem mais numeroso. Mas a cachaça mineira do Mãe d’água me serviu de combustível e calmante!
Na quarta-feira, começou o Poesia Voa no Circo. Eu só me apresentaria na quinta, mas um amigo entregou um fanzine meu pro Tavinho Paes, que me chamou ao microfone. E eu quase tive um treco!... Mas encarei o microfone e sobrevivi...
Na quinta, foram muitos e muitos chopes antes da minha apresentação e eu falei descalça, pés no chão, o que me deu uma segurança bem maior. No final, rolou um roda de poesia com os sobreviventes e a essa altura eu já nem me lembrava mais de como era sentir aquelas palpitações e tremedeiras...
Na sexta, falei num microfone montado na “lona B” do Circo. E nunca me senti tão à vontade! De fato, nada como um dia após o outro, e muita cachaça entre eles!...

Palmas pra Niterói!

Enquanto Niterói completava seus 432 anos, o Movimento Pop Goiaba comemorava sete anos com sete dias de festas. A Prefeitura armou um mega-evento na Praia de Icaraí, com show da Elba Ramalho. O Pop Goiaba montou o palco na Praça de São Domingos, sem apoio da Prefeitura. Mas Niterói é realmente uma graça de província: um show na Praia e o mundo pára em função disso! Eu, que queria ver os shows do Pop Goiaba, fiquei presa em Icaraí, porque a rua da Praia fechou, o trânsito foi desviado, e ninguém sabia onde foi parar o 47! Tive que andar até a Miguel de Frias e pegar um táxi! E vendo o trânsito caótico no sentido inverso, me compadeci dos pobres mortais que trabalham no Rio, portanto, não tiveram feriado, e estavam tentando regressar para suas casas com uma das principais avenidas da cidade fechada!

Poesia voou, foi pra América...

Sem desmerecer o trabalho dos organizadores do festival Poesia Voa, que, mesmo sem apoios, conseguiram trazer à cena uma enorme quantidade de poetas dos mais variados estilos e gerações e colocar a poesia em foco, me senti como no movimento estudantil: nós falando pra nós mesmos! Cobrar 20 reais de entrada pra um evento de poesia é uma insanidade! Era natural que ficasse vazio. E que a maior parte do público fosse formada pelos próprios poetas, que, naturalmente, seguiram o caminho do portão de trás e não pagaram pra entrar. A gente precisa investir mais em eventos que democratizem o acesso à arte, e não que elitizem. Adoro o espaço do Circo Voador, mas é muito elitizado. Um copo de chope a 3 reais! Com 3 reais eu compro uma garrafa e bebemos todos juntos da mesma fonte! E da fonte da poesia, quem beberá? quem beberá? quem beberá? quem beberá?...
Mas a nata da poesia carioca estava toda lá bebendo, falando, ouvindo, confraternizando... E o Tavinho Paes parecia uma pomba-gira frenética!
O evento termina no domingo, e como eu tenho entrado pelo portão de trás, lá vou eu... Depois eu destaco aqui os melhores momentos do Poesia Voa, já adiantando que Mano Melo é realmente um show!

16.11.05

Em busca da onipresença: sobre poesias, goiabas e vôos...

Um semana agitada se aproxima, daquelas em que eu queria me partir ao meio para estar em todos os lugares ao mesmo tempo! Podia pedir uma dica ao Sady, mas sua onipresença já não é mais a mesma... Enfim. De 21 a 27 de novembro rola em Niterói uma programação intensa em comemoração aos sete anos do Movimento Pop Goiaba. E de 23 a 27, outra programação intensa do festival Poesia Voa, no Circo Voador. Como fazer minhas poesias sacudirem as goiabeiras em Niterói e alçarem vôos no Rio ao mesmo tempo?! Oh, céus! Minha quase solução é uma busca da onipresença: 21 e 22, Pop Goiaba; 23, 24 e 25, Poesia Voa; 26 e 27, ponte Rio-Niterói, poesias, goiabas e vôos... E haja fígado e pulmões pra agüentar a maratona!

A programação do Poesia Voa está disponível no site do Circo: www.circovoador.com.br .
A programação do Movimento Pop Goiaba segue abaixo:

7 DIAS DE FESTAS PARA 7 ANOS DO POP GOIABA

SEGUNDA DIA 21/11
ARTE JOVEM FAZ GELÉIA DE GOIABA
Horário: 20 horas
Ingresso: R$ 1,99
Local: Espaço Convés – Gragoatá

No Espaço Convés tocam as bandas Bagabalô (Reggae) e Cume Q Podi (Forró), ainda haverá gincana cultural, exposições e encerramento com uma Jam Session intitulada Geléia de Goiaba. O evento é produzido pelo Movimento Arte Jovem Brasileira, que tem programa na Rádio Pop Goiaba UFF.

TERÇA 22/11:
POP GOIABA HOMENEGEIA SANTA CECÍLIA PADROEIRA DE NITERÓI E PADROEIRA DOS MÚSICOS.
Horário: 17 horas
Local: Praça de São Domingos, ao lado da Tasca
Entrada Franca

No aniversário de Niterói, dia de Santa Cecília, padroeira dos músicos, Movimento Pop Goiaba realizará na Praça de São Domingos um ato/show, com MPB, Rock, Jazz, Hip Hop, Reggae, e as participações já confirmadas de Fred Martins, Marcos Lima, Caô de Raiz, Cláudio Salles e os @liens, Benflos (RJ), Dino Rangel, Araribrothers, e de Nova Iguaçu ainda virão os grupos Cabeça de Nego, JL Rapper, Roberto Lara (músico e secretário de cultura de Nova Iguaçu) e Desmaio Público, além da participação de Poetas e do grupo “Comunicativistas”.

QUARTA 23/11
SÃO DOM DOM – “A menor casa de shows do mundo”
Horário: 21 horas
Local: Praça de São Domingos

Festa do São Dom Dom, “a menor casa de shows do mundo”, como é conhecida, realizará uma homenagem ao Movimento Pop Goiaba com shows da banda Morrice, Cláudio Scoth e Cássio Essir trio, entre outras canjas.

QUINTA 24/11
DUELO DE DJs
Local: Praça de São Domingos
Entrada Franca

A Rádio Pop Goiaba UFF vai realizar um duelo de DJs na Praça de São Domingos. Presenças já confirmadas de Dj Bob Pai, Pop Salles e Alexandre Lyra.

SEXTA 25/11
DELÍRIO DA GOIABA
Horário: 21 horas
Local: Praia de Piratininga – Projeto Pop Oceânico, em frente ao Toboágua.
Entrada Franca

Pop Goiaba, Araribóia Rock e Arte Jovem Brasileira realizam shows com o grupo Rhunas, Cláudio Salles e os @liens e banda AJB.

SÁBADO 26 /11
POSTE GOIABA
Horário: 21 horas
Local: Galeria do Poste
Entrada Franca

O tradicional evento da Galeria do Poste homenageará o Pop Goiaba com um “Poste de Goiaba”, feito pela artista Cristina Salgado, que também realizará uma exposição. Haverá também shows com Fred Martins, Marcos Lima, Cláudio Salles e Roberto Lara, além da participação dos Malabares circenses Juan Saucedo e Carolina Soído, vídeos de Gê Carvalho, números de dança com Simone Nascimento (Sobre as águas) e Marta Nunes (Em dias), DJ Pop Salles e lançamento da CAMPANHA PAN CULTURAL 2007 – Niterói merece!

DOMINGO 27/11
BLOCO DOS SEQUELADOS E RIO MARACATU

Horário: 17 horas
Local: Praça de São Domingos – Em frente ao bar Mãe d´água.
Entrada Franca

O encerramento da festa dos 7 anos do Movimento Pop Goiaba será em grande estilo comemorando a “diversidade cultural”, com as participações do Bloco dos Sequelados de São Domingos, formado por estudantes da UFF e jovens do Morro do Estado, e do grupo Rio Maracatu.


Fonte: Cláudio Salles

13.11.05

dos outros...

Seguem duas leituras recentes e extremamente prazerosas!...Espero que seus autores não me processem, porque eu não pedi autorização para publicá-los!
beijo antropófago

quero provar
da carne dos seus lábios
e tomar saliva
no cálice de sua boca
soltar meus caninos
nos seus incisivos
e sorver sua língua nervosa
até a última sílaba-gota

quero te comer pela boca


Makely Ka,
do livro “Ego Excêntrico”
Será que você está no mesmo engarrafamento que eu?
E aquele vinho, será que você bebeu?

Será que você leu a mesma notícia no jornal?
E aquele programa, será que você está ligada no mesmo canal?

Será que você se lembrou da mesma coisa,
quando aquilo aconteceu?

E se te chamarem pra dançar aquela música,
você vai se lembrar de nós dois?
Será que você vai me ligar depois?

E o meu cheiro, será que você sente em qualquer lugar?
E se te tocarem daquele jeito, você vai estragar tudo
e começar a chorar?

Será que você vai rir do mesmo jeito que eu?
E se usar uma frase que eu costumava dizer,
será que você vai perceber?

Quanto de mim
será que você
ainda tem?
Fabiano Reis,
do livro “Biscoitos Finos de Argamassa”

11.11.05

Timidez?!

Ontem eu fui ao Circo Voador, último dia da Mostra Livre de Artes. Eu olhei para o microfone, ele me olhou, e ficamos assim nos paquerando horas e horas, enquanto eu ouvia atentamente os poetas que falavam suas poesias e de outros poetas, de poetas consagrados, de poetas variados. E eu fiquei naquela paquera inocente, cultuando um amor platônico, e não tive coragem de pegar o microfone! Tem gente que, me conhecendo, não acredita, mas eu sou tímida. E aí agora eu leio Veríssimo, uma passagem que eu já conhecia, mas veio parar novamente nas minhas mãos num momento em que se encaixa perfeitamente: "O tímido, em suma, é uma pessoa convencida de que é o centro do universo, e que seu vexame ainda será lembrado quando as estrelas virarem pó". Acho que é por aí!... Uma amiga, certa vez, ao me ouvir dizer que não gostava das coisas que eu escrevia e não tinha coragem de publicar, enfim, todo aquele discurso autocrítico típico de pessoas inseguras, disse que isso era porque eu achava que não podia fazer nada que não fosse perfeito, que era prepotência, arrogância ou sei lá o quê!... Depois disso, eu publiquei! Acho que vou andar com a frase do Veríssimo no bolso, pra ver se me incentiva a falar também...

4.11.05

Folhas voam no Circo Voador!...

O lançamento do fanzine ontem no Circo Voador foi melhor do que eu esperava! Depois de tanta correria pra conseguir rodar as cópias, cheguei lá às 20 horas e dois minutos! E por dois míseros minutinhos, tive que pagar entrada! Entro e dou uma volta, pensando em qual seria a melhor forma de distribuir os zines sem me expor. Primeiro, encontro um amigo, Gê Carvalho, que estava vendendo uma revista de cinema chamada Visão Independente, e deixo uns com ele. Depois, deixo alguns no balcão do caixa e mais alguns no porta cartões da entrada dos banheiros. Encontro outro amigo, Cláudio Salles, que estava comandando o som com a Rádio Pop Goiaba, e entrego pra ele, que anuncia ao microfone e lê um dos poemas. Passo por uma instalação que propõe uma questão a ser respondida em uma folha de papel pendurada numa prancheta: “Você reprime seus instintos?”. Não reprimo os meus e imediatamente penduro uns fanzines lá! Depois, entre um chope e outro, entre um papo com um amigo e outro, entre uma apresentação e outra, fico circulando e reabastecendo os “postos de distribuição”. No final – no meu final, que não coincidiu com o final do evento (estou ficando velha!) –, dou mais uma volta e pra minha surpresa, não sobrou nenhum! Calma, calma! Segunda-feira tem mais: Dizer Poesia e Arte Jovem, em Niterói. Até lá!

E no meio dessa correria...

Na quarta-feira, descubro que não terei a colaboração dos amigos que ilustraram o primeiro número do zine. E agora, José?! Eu mesma não desenho nem boneco de palitinho!... Tive que fazer às pressas uma colagem improvisada! Até que não ficou tão tosco... Mas, na correria, acabei esquecendo de mencionar no zine o apoio do Instituto de Arte e Comunicação Social da UFF para a impressão das cópias! Então, registro aqui o meu agradecimento ao IACS, em especial ao Serra e ao Zé Luiz!

31.10.05

Lançamento das Folhas ao Vento... (fanzine)

Depois do lançamento do meu primeiro fanzine poético em julho, na Festa Literária de Paraty, que foi um fracasso de distribuição, por incompetência desta que vos escreve, motivado por uma timidez absurda e patética - mas incontrolável -, vou arriscar mais uma vez! O lançamento das próximas Folhas ao Vento... está previsto para esta quinta-feira, dia 3, no Circo Voador, durante a Mostra Livre de Artes (que rola também no dia 10). Na segunda, dia 7, levarei para o Dizer Poesia, na Livraria Ver e Dicto. Às segundas-feiras, distribuirei no Arte Jovem Brasileira, no Bar Convés. Ambos em Niterói. E de 23 a 27, volto ao Circo Voador, para o Poesia Voa. Fechado o mês de novembro, vou pensar no Natal e no Ano Novo, que eu também sou filha de Papai Noel!

29.10.05

Canto de Aquário

Por que olhas para baixo? Se o que procuras
Não rasteja. E nem o céu tem por limites!
Por que olhas para baixo? Por que insistes?
Não vês que sonhos nunca são loucuras?

Repara em tuas feições assim tão duras
Percebes como tão fácil desistes?
Por que não crês em ti, por que persistes?
A mirar o chão, por que perduras?

Não finca tuas raízes nessa esfera
Felizes, só se for numa outra era
Por que ela vir havemos de esperar?

Ergue teu rosto em flor ao infinito
Abre tuas asas, rufla-as, eu insisto
Ganha os ares, que tu sabes voar!...

27.10.05

D’O Homem Voador

Segue abaixo um poema do livro “O Homem Voador”, do meu amigo Ricardo Jacomo, recém-lançado pela editora Ibis Libris. Saboreiem!

ESCRITA GELATINOSA

Quando escrevo
Arranco o gomo da palavra
Com os dentes
E o visgo da poesia
Me escorre pelos lábios

Ao entreter-me nessa fruta
Meu corpo sorve o melaço
Espalho o mel pelos meus braços
Cuspo fora
O caroço da conduta

Esse desejo viscoso
De afogar-me em gozo
Transtorna o meu itinerário
Borbulha um som gelatinoso
Na mente do visionário

Calo, engulo
Esta clara preciosa
E regurgito bonito
Muito verso e muita prosa

As palavras são assim
Dentro do bicho homem
As palavras para mim
Alimentam
E me consomem

26.10.05

Olhos lidos

Nunca me lerás em meus versos
Mais do que podes ler nos reversos
de meus olhos

E se avistares uma centelha de verdade
a iluminar meu olhar,
me conta!

Se puderes discernir o que aponta
minha mira de estrabismos,
me diz!

Se fores capaz de mergulhar em meus abismos,
me ensina,
que eu não passo de aprendiz!

Se tens gosto pela leitura,
pula a sinopse, não corre ao final.
Folheia, olhos nos olhos, meu livro de capa dura!

E não me vem com críticas de jornal!...

23.10.05

Luto fechada

Minha alma está de luto fechada.
E eu, vestidinho florido a desfilar...
Contorno meu olhos tristes
com lápis preto da Payot
Cubro minha boca defunta
com um batom cor de boca
E quanto mais eu rio,
Mais minha alma correnteza!...

22.10.05

Como se morre de amor

Sou assim como um brevíssimo beija-flor
Que de flor em flor sorve o néctar da vida
De boca em boca, eu vou, vertendo o amor
Que me escorre, agridoce, da saliva...

Já não me cabe todo o amor que guardo
Há-de matar-me! Está me sufocando...
Se não escoa, frente ao teu resguardo,
Em rubras lágrimas, vai-se derramando...

Passam-se os dias e eu sem teu beijo
E as bocas outras já não mais desejo
Meus olhos secam de tanto chorar

É tanto amor que dele eu me apavoro
Já não m’escorre, eu já nem mais choro

E o meu peito pronto a rebentar!...

21.10.05

Minha cidade, meus olhos de turista

A Vinícius Piedade e Marcela Giannini

Niterói é realmente uma cidade abençoada, para quem sabe aproveitar.
Vez por outra, olho-a com olhos de turista, atenta e curiosa, desvendando seus mínimos detalhes.
Na última semana, o que me despertou esse olhar foi a visita de um amigo paulista.
Em Itacoatiara, mergulhei fundo nas ondas do mar, me pus no pôr-do-sol, voei com as asas do vento...
Em Jurujuba, ouvi as histórias da Fortaleza como se fosse a primeira vez, parei como uma perda a observar as águas batendo na pedra, comi peixe olhando o mar, caminhei e caminhei e caminhei acompanhando a orla dos pescadores...
Em Icaraí, admirei encantada a vista mais bela do Rio, viajei no museu do disco voador como uma flor que se abre ao sol, lamentei mais que sempre a poluição da Baía de Guanabara, com vontade de pisar na areia e limpar os pés na beira da praia...
Em São Domingos, a noite se fez mais som e estive sóbria a ouvir o seu canto...
Em São Francisco, o saco não esteve um saco, mas sereno como um abraço...

Hoje, meu amigo paulista seguiu viagem, e eu continuei turista em minha própria cidade. Caminhei pela Praia de Icaraí olhando céu e mar e Cristo e Pão de Açúcar e Fortaleza e MAC e Ilha da Boa Viagem e pedras portuguesas e areias e tudo o mais ao meu redor... Sentei num banco para aguardar o sol se pôr, li alguns poemas, escrevi uns versos e pus-me a contemplar o crepúsculo avermelhado que se erguia no céu, pensando orgulhosa “é pra mim que ele se faz”... Sol posto, sigo caminho para casa, com escalas na Ver e Dicto e na Vídeo e Cia. Livros e filmes serão minha companhia desta noite, decidi.
No caminho tinha um chorinho e eu parei para ouvir Pixinguinha... Encantada com os velhinhos cantando na esquina “vem, vem sentir o calor / dos lábios meus / à procura dos teus”... E a menininha com menos de dois anos aproximando-se do palco e olhando curiosa o trabalho dos músicos... Um dia seus lábios ainda vão procurar outros lábios e ela vai entender o encanto daquela gente a ouvir, a cantar e a sonhar numa esquina de Icaraí...

Não quero mais fechar meus olhos de turista, vou caminhar mais...

14.10.05

Incurável

Sim, estou amarga
amargando tanta amargura!...
Não me beba,

Eu, xarope que não cura.

12.10.05

Venha e diga!

Alguém por favor me diga:
qual é a saída?
que eu não encontro!

me confronte e me conforte
mas desperte-me da morte
que me leva em vida...

Alguém, por favor, alguém diga
qualquer coisa que me atice
que eu não agüento essa chatice

Busco alguém que, firme e forte,
fale do que quero ouvir
que me atente pro devir...

Por favor, eu peço, alguém diga:
qual é a saída?
Alguém venha ao meu encontro!

que eu me encontro tão perdida...
Eu me busco e não me acho
E chego a achar que não existo

Não desisto, venha e diga:
“Te mostro a saída”.
Que eu não dou conta!

Cansei de fazer de conta...

Ânsia de.

Eu me dilato
me espaço no tempo
me dialeto, me esperanto
não me espanto
me instigo
mastigo
a dor do mundo
me espasmo
vomito tudo!

O mundo me é indigesto.

11.10.05

Pinga

Engulo o pranto
no gole da pinga
ou pinga
ou me derramo!...

Ressaca

Entreabro os olhos
Sinto um clarão invadir minha retina
Baixo as pálpebras
A luminosidade inunda minhas têmporas
Dói-me a fronte
Numa pulsação ritmada
Sinto minhas veias saltarem do crânio
Um gosto amargo percorre todo o meu paladar
Entreabro a boca seca
Que clama por alguma salivação
O mundo gira em mim
Giro na cama
Desejo voltar a não ser no mundo
Engulo uma espessa saliva acre
Minhas vísceras clamam por água
Gélida e límpida
Preciso me reerguer
Enfrentar a luz cortante
Caminho cambaleante
Viro um copo, uma garrafa
Tudo seca em mim
Eu mesma me evaporo
Não sinto nada em solidez
Encontro-me com o espelho
Meus olhos verde-musgo
Fitam-me pesados e soturnos
Um caco de gente
Cabelos desgrenhados
Emolduram-me a face pálida
Vãos de olheiras contornam-me a vista turva
Jogo-me tapas de água na cara
Gotas me escorrem
Acariciando-me a cútis
Olho, mais uma vez, meu reflexo insólito
Sonâmbula, deixo-me cair no aconchego do meu leito
A boca ainda amarga e seca
A cabeça ainda palpitante
As entranhas retorcidas
Abandonada ao sono e à preguiça de viver
Retorno à minha não existência temporária
Ansiando por um novo despertar...

9.10.05

Chama que eu ardo!

Em teus olhos, vejo o brilho dos meus
E tua boca a despertar meus desejos
Como envoltos numa aura de ateus
O pecado é me negares teus beijos

Infla as chamas, vem arder em meu leito
Ah, me espeta com tua grelha em brasas!
Despe o pudor, sem vergonha ou respeito
Que de inferno nenhum mais te salvas!

Meus demônios são meus lábios vazios
De tua boca, teu sabor de mistérios
E a serpente é que é o meu paraíso

De teu corpo em meu corpo preciso
Rumo ao céu só de anjos venéreos
Come o fruto desses meus desvarios

3.10.05

Leva o que é teu!

Do cinzeiro sobe a fumaça da chama recém apagada
Ainda vejo teus rastros na cama que outrora era nossa
Ainda posso sentir tua saliva em minha boca, teu gozo em meu sexo
Tenho tuas digitais marcadas em todo o meu corpo
Registrando em mim tua identidade que só eu sei
Leva tuas malas, mas não podes levar tuas marcas
Carrega os retratos, rasga os contratos,
Mesmo assim não te apagas de mim
Leva teus livros, que eu li
Leva os CDs, que eu ouvi
Carrega também a TV, que esse filme eu já vi
Mas terás também de levar minha alma, que é tua
E abandonar inerte uma carcaça vazia e nula
Se queres partir, leva tudo o que é teu
Não me deixa...

22.9.05

Ouve o mar!

“Ouvindo o mar de Itapoã
Falar de amor em Itapoã”
(Vinicius de Moraes/Toquinho)

Ouço o barulho das ondas que lambem a praia
Num infindo vaivém, vejo além do horizonte
Mesmo que o Sol mergulhe, que a tarde caia
A Lua nua que me enlouquece não te esconde

Não entendo o que o mar orquestra em seu som
Eu não sei o que a luz aponta no brilho do céu
Nesse leito de areias finas não conto um só grão
Nem te conto como me abandono assim ao léu...

Sei que estás em mim, ainda que tão distante
Quero ouvir teus passos firmes na beira-mar
Que do barulho, faz sinfonia; da luz, brilhante
Quero sentir o calor do teu corpo a me evaporar

Sei que ainda virás embalado na maré-cheia
Ainda me tomarás em teus braços quentes
Atraído e dominado por meu canto-de-sereia

Unidos que estamos por não sei que correntes...

21.9.05

Não sigo só...

“é mais fácil mimeografar o passado
que imprimir o futuro”
“nem quero ser estanque
como quem constrói estradas e não anda”
(Zeca Baleiro)

Eu sinto a vida entrecortada
Corto meus próprios caminhos
Caminho só no breu da estrada
Ao extremo sul, sigo sozinho

Ando seguindo a pista oculta
Que pisca e pesca o meu olhar
Eu olho e vejo, estou na escuta
Não sigo só, ando a sonhar...

Eu vejo a vida aniquilada
Aquilo pesa, há só espinho
Espio perto essa caçada
Sou eu a caça, um passarinho

A passos largos, vou à luta
Estufo o peito e tomo ar
Artista louco, louco batuta
Não sigo só, vou a voar...

Eu canto a vida nesta toada
Fora do tom faço meu ninho
Tomo de assalto a barricada
A outros tantos me avizinho

A noite é longa, a vida curta
Curto a imensidão do mar
A maré enche e tudo muda
Não sigo só meu caminhar...

7.9.05

Como quem vaga...

Escrevo assim como quem não quer nada
E tudo quero como quem nada fala
E como quem cala a voz do silêncio
Irrompo em versos como penitência

Sem paciência, as palavras emanam
E me enganam dizendo-se belas
Não sendo mais do que vãs e profanas
Ah, condenadas! Malditas sejam elas!

Mal escritas em meus versos tortos
São verbos mortos em putrefação
Se empilham lado a lado absortos
Na vala funda que se cava ao chão

Eu não escrevo seguindo estradas
Eu me afundo, eu vou ao deserto
Sou a poetisa das horas vagas
Que vai vagando sem rumo certo...

4.9.05

Sem título

"Eu vou pagar a conta do analista
pra nunca mais ter que saber quem eu sou"
(Cazuza)

Eu leio livros gastos
Gasto no que não preciso
Gosto do que não toco
Sinto o gosto do não vivido

Caminho por ruas tortas
Me entorto na linha reta
Me corto, mas não me curvo
Não curto a palavra certa

Me faço bem com o que faz mal
Fico de mal não sei com quem
Espero alguém pra me guiar
E não me guio por ninguém

Sinto vazio quando me encho
Eu me transbordo no mar profundo
No mar-de-rosas, eu me afogo
E me sufoco no ar do mundo

Eu ando sempre a dar de ombros
Soterrada em meus próprios escombros
Viro pó na poeira espalhada
E me espelho nas margens do nada

30.8.05

Inverno da alma

Minh’alma corre branda
Nesta noite invernal
Silenciosa, sussurra-me algo ao pé do ouvido
Redobro a atenção para captar palavras fugidias
Que se perdem ao vento, rodopiam, evaporam sem adeus
E riem da minha tentativa vã
Esse sussurro doce e malévolo
Atormenta-me num segundo
Não entendo, meu deus, não entendo
Que me diz mi’a própria alma
Minh’alma corria branda
E agora se angustia
Atordoada, sinto pesar-me a fronte
Corro quente em mim
Piso em cacos que me talham a carne
Escorre-me um sangue grosso
Que me apavora
Apavorada, sinto pender-me o dorso
Numa tontura lânguida
Jogo-me para trás
Caio lenta em mim
Vejo-me estirada ao solo
Contorcendo-me, doída, medrosa, envergonhada
Dói-me a alma nesse sussurro infindo
Nessa sugestão inalcançável
Nessa ânsia insuportável de ser
Ouço um grito aterrador
Quem gritou?
Ninguém mais há neste perímetro
Além de meu próprio corpo contorcido
Em duro embate com minh’alma
Gritos e sussurros povoam meus tímpanos
De acordes magistrais
Já não sei bem de onde vêm
Se do fundo da alma
Ou das cordas vocais
Num corte profundo
Jorro o líquido da vida
E minh’alma corre livre
Ao encontro do infinito...

22.8.05

Notívaga

Já é mais de meia-noite
Um turbilhão de pensamentos me arrebata,
enquanto enrolo incessantemente os cabelos com as pontas dos dedos
Estou imóvel na escuridão do leito
Vez por outra, viro-me para o outro lado
Afofo os travesseiros
E volto a enrolar os cabelos
O mundo inteiro perpassa minha mente em segundos,
Mas estes parecem não passar
Passado, presente e futuros possíveis...
Fatos e ficções...
Tudo se funde em imagens e palavras
que povoam minha cabeça nesses segundos infindos
Os dedos frenéticos entrelaçados às madeixas
são o único movimento exterior que acompanha esse turbilhão
que me invade a alma sem pedir licença

Duas horas da madrugada
Penso que preciso dormir,
que tenho que acordar cedo,
que tenho que parar de pensar e de contorcer incontrolavelmente os cabelos,
relaxar, relaxar, relaxar...
E logo estou pensando nessa vida
que me leva a precisar dormir
na justa hora que me põe a pensar livremente...
E logo sou invadida por tantos pensamentos
que esqueço de dormir
Viro e reviro na cama
Meus olhos ardem
Minha alma arde
Minha cabeça pulsa
Tudo se agita dentro de mim,
acompanhado pelo gesto ritmado
das pontas dos dedos que acariciam
os pelos macios que me brotam da cuca fervente

Quatro e vinte e três
Como que sonâmbula,
ponho-me a vagar pelos cômodos da casa
à procura do sono que não me encontra
Encontro-me perdida em minhas próprias divagações
Não quero me encontrar
Não agora
Preciso fechar os olhos e não pensar em nada
Deixar de existir por algumas horas,
para uma existência tranqüila na manhã que se aproxima
A manhã se aproxima
Um amanhã que é ainda hoje
Os primeiros sinais de sono vêm acompanhados
dos primeiros raios da aurora
Nem ouço o primeiro galo cantar
No meu apagar da consciência

Toca o despertador... Sete horas
No mundo embaçado que se ergue diante de mim,
existo mecanicamente
Quase não existo
Sou uma sombra
Estou sonâmbula
Transitando por um mundo sem vida
Tão diferente do que me percorria
quando eu era na madrugada!

21.8.05

No âmago de uma paixão...

“Onde aprender a odiar para não morrer de amor?”
(Clarice Lispector)

Não conseguiste viver
A espessa paixão que dediquei a ti
Levei meus olhos ao encontro dos teus
Que desviaste para o teto ou para o chão
Fixaste o horizonte e seguiste teu solitário rumo
Tomaste meu corpo de um só gole
Mas não suportaste o peso de minha alma
A ti, entreguei meus versos, meu ser
Não soubeste simplesmente ser
Não contemplaste por um segundo sequer
A beleza de uma entrega abnegada
Recusaste, sem te dares conta
O que há de melhor em mim
O que só a ti poderia dar
O que se perdeu ao vento
Do meu abandono total
Ao teu desinteresse atroz
Agora, entregue à melancolia
De quem viveu demais, amou demais
Foi a própria essência de uma paixão
Boiando no ar da indiferença
Mergulho na solidão
E me entrego a mim
Vivo, lésbica de mim mesma,
Toda a densidade de uma alma intensa
Que contigo impulsionei-me a partilhar
E arremessei ao encontro de teu vulto inerte
Com toda a ânsia de meu instinto feroz
Entregue ao vendaval de um vazio
Numa brisa leve retornou
Ao âmago de minhas entranhas
Onde habita a imensidão
Onde reluz a escuridão
Onde tudo se mistura a um gosto agridoce de vida e morte
De tudo ou nada
De antes, agora e depois
De ser ou ser, eis a questão!

19.8.05

Tem-me em tuas mãos!

“Todo amor é eterno. E se acaba, não era amor.”
(Nelson Rodrigues)

Tenho os beijos de inumeráveis bocas
Olhos e olhares e arrepios fugazes
Toques excitantes, carícias loucas
Que quero de ti e não me fazes...!

São muitos os que deitam em meu leito
E se deleitam em minha carne intensa
Têm-me inteira e plena e, com efeito,
Nada têm de mim que não te pertença

Queria dizer-te: toma meu corpo que minh’alma é tua
Abandonar-me em ti, ardente e nua
Sentir que tuas peças me completam

Não sei como falar e então me calo
Distante estou de ti e sem teu falo
Deslizo em tantas mãos, que não me pegam...

Rito do adeus

"Nos curtos meandros do longe
os olhos são feitos de rio."
(José Kleber)

Ainda te sinto entre minhas pernas
Meu ventre ferve contraindo-se em êxtase
Ainda sinto tuas mãos frias que me aquecem,
me descobrem, me penetram
A boca aflita ainda aguarda o beijo
Guarda os beijos vorazes, voluptuosos
Vestígios de ti em mim
Sinais de ti marcados a ferro e fogo
ardem em dor e desejo
Ainda me vejo refletida em tuas retinas
Teus versos ainda ecoam em mim
Tua língua me arrepia a pele
Tua voz me arrepia a alma
Tudo se eriça em mim na lembrança de nossos instantes...
Tão vivos ainda e já tão distantes
Num derradeiro gesto, ainda nos vejo, nós
Mãos vazias se acenam “tchau”
Olhos se olham “será?”
Resta na boca um gosto de doce roubado que se acabou...

Explosão!

“Odeio-te!
Desprezo-te!
Não te quero ver
nunca mais!”
Por que não agarras logo
meus braços com força
e beija-me como nunca?
Desliza tuas mãos pelo meu corpo
Agarra-me os cabelos na nuca
Pendendo levemente minha cabeça para trás
deixando minha boca ainda mais aflita pelo beijo
Levanta minha coxa e encaixa-te em mim
Esmagando meu corpo quente
contra a parede fria
Revela-te vampiro em meu pescoço
Mostra-te gato em minha pele
Tem-me toda tua, toda nua
Cala a minha boca agora
Que dela sairão apenas
gemidos entrecortados pela respiração ofegante
E no suspiro após o gozo, “eu te amo”!

12.8.05

Numa noite qualquer...

Numa noite qualquer
Alguém pede “mais uma”
Eu peço “uma caneta, por favor”
Tento capturar a poesia de um instante
Que corre livre em mim, rodopia, se esvai
Retenho uma palavra-chave
Desenho um pensamento fugaz
Transponho uma sensação qualquer
Tomo um gole, fumo um trago
Paro por um segundo e vejo-me num ambiente transformado
Transtornada com ruídos que já não sei bem de onde vêm
Movimentos de copos e cacos de gente
Sorrisos borrados, rostos transfigurados
Um mundo fora de foco
Ambienta os rabiscos do que me vem de dentro
Olho o guardanapo molhado
Encho-me de lágrimas presas na fonte
Que não me escorrem na face
Retornam à nascente
E voltam na forma de um novo verso
Vejo-me sozinha em meio à multidão
Povoada por mil de mim
Deslizando ardente a caneta sobre o papel
Na tentativa vã de reter um instante infindo
Que se desfaz e se refaz a seu bel prazer
Não deixando-me saída que não a de ser
O próprio elo translúcido
Entre o etéreo instante poético que brota sem mais nem porquê
E a concreta poesia que surge num guardanapo sujo
Sob ímpeto do meu querer...

Folhas ao vento...

Lanço ao vento estas folhas
Sem saber onde vão dar
Amedronta-me perdê-las de vista
Mas não posso mais reter
O que me veio livre e me vai leve e solto...


Voa ao vento, folha breve
Sente a brisa que te leve
Pisca ao olho do furacão
Corre contra o vendaval
Nunca deixa de voar...


Contigo, me levas um pouco
São minhas essas asas que agitas
Pelos ares do mundo
São minhas essas águas que brotam
Em olhares profundos
Minhas as paixões e angústias
Meus os fatos e ilusões


Não te preocupes:
O que carregas de mim
O tenho de sobra
Leva-me, que me fazes voar contigo!

1.8.05

O verdadeiro mergulho...

Eu menti. Foi um belo salto para uma principiante. Mas não, eu não mergulhei de verdade. Estou apenas boiando, boiando, boiando... Nessa imensa superfície espelhada em que me encontro. Águas verdadeiramente turvas distorcem aquilo que espelham. E é nessas que devo mergulhar mais fundo... Nesse oceano que sou eu... No mar revolto de meus pensamentos... Nos redemoinhos que me afundam e na maré que me cospe na praia... Nas ondas que quebram em mim e me quebram por inteira... Nas âncoras que atiram para me parar... Nas tempestades que me põem em movimento feroz... Na calmaria angustiante de dias sem graça... Na maresia anestésica de dias sem rumo... Na terra à vista de dias esperançosos no mar sem fim... No mar de mim. Mergulho. E devo dizer que não estou pronta para o que vier...

Mergulho na virtualidade 2

A água é muito fria... Inclino-me levemente para frente e vejo-me refletida em sua superfície. Mas essas águas turvas de superfícies espelhadas amedrontam-me. Não posso ver o fundo. Hesito por um instante. E se eu não mergulhasse? Não sentiria frio nem medo do desconhecido. Mas talvez não tivesse a alegre surpresa de lá no fundo descobrir uma pérola escondida dentro de uma concha... Quem sabe?! Tomo fôlego e mergulho de cabeça, pronta para o que vier...!

Mergulho na virtualidade

Primeiro, molho as pontas dos dedos dos pés, para sentir a temperatura da água.