11.10.05

Ressaca

Entreabro os olhos
Sinto um clarão invadir minha retina
Baixo as pálpebras
A luminosidade inunda minhas têmporas
Dói-me a fronte
Numa pulsação ritmada
Sinto minhas veias saltarem do crânio
Um gosto amargo percorre todo o meu paladar
Entreabro a boca seca
Que clama por alguma salivação
O mundo gira em mim
Giro na cama
Desejo voltar a não ser no mundo
Engulo uma espessa saliva acre
Minhas vísceras clamam por água
Gélida e límpida
Preciso me reerguer
Enfrentar a luz cortante
Caminho cambaleante
Viro um copo, uma garrafa
Tudo seca em mim
Eu mesma me evaporo
Não sinto nada em solidez
Encontro-me com o espelho
Meus olhos verde-musgo
Fitam-me pesados e soturnos
Um caco de gente
Cabelos desgrenhados
Emolduram-me a face pálida
Vãos de olheiras contornam-me a vista turva
Jogo-me tapas de água na cara
Gotas me escorrem
Acariciando-me a cútis
Olho, mais uma vez, meu reflexo insólito
Sonâmbula, deixo-me cair no aconchego do meu leito
A boca ainda amarga e seca
A cabeça ainda palpitante
As entranhas retorcidas
Abandonada ao sono e à preguiça de viver
Retorno à minha não existência temporária
Ansiando por um novo despertar...

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