26.3.13


pequena criança louca, perdida
você nunca vai sair de dentro de mim,
não é mesmo?
com suas perguntas inconvenientes
suas respostas cruéis e risadinhas
seu jogo de esconder
e me pegar desprevenida
pequena criança descontrolada
não faça essa cara triste no espelho
eu nunca sei se a razão do seu choro
é fome ou trapaça
se a sua dor é carência
ou um braço quebrado
criança, eu não posso fazer nada
você me pegou num momento difícil, sabe
e veio assim, chutando essa bola na minha vidraça
questionando o porquê das coisas
e todo esse estardalhaço
você não sabe o tanto que eu tenho de dúvidas
e janelas quebradas
e já não me lembro de nenhuma oração
pra espantar fantasmas
criança, você deve saber alguma
talvez possa me ensinar

25.3.13

achados & perdidos


já enfiei a mão num saco de confetes
e lancei cheia para o alto
não sei o que o meu coração estava fazendo ali
- ficou no chão com outros confetes enlameados.

já chutei a gol
e espatifei meu coração na trave
uhhh... vibrou a arquibancada
- foi quase.

costumo atirar pela janela do carro
junto com as guimbas de cigarro
nem vejo no retrovisor o coração atropelado

certa vez pus sem querer na lata de lixo reciclável
fui advertida por um ambientalista:
“lixo orgânico é do outro lado”
- eu sou muito distraída.

mas sei lá... ele sempre dava um jeito e voltava.

não lembro onde pus da última vez
já revirei todo o quarto, a papelada, as gavetas, armários
não vi nenhum acidente nos noticiários, nada, nada

ando enfiando qualquer coisa no peito
um relógio, um trator, uma garrafa de uísque,
uma pedra, uma montanha inteira
ficou um buraco, sabe.

lembro da sua voz quase paternal que insistia:
“cuida melhor do que é seu”.
e eu ia ficando irritada e pegava e te dava:
“toma, é teu, cuida você e não me enche o saco!”
numa dessas, vai ver você enfiou no bolso
e levou embora
siiiiiim,
foi isso mesmo!
depois de você,
ando enfiando qualquer coisa no peito.

19.3.13

fritada


pessoas reconhecidamente estúpidas
com mestrado e doutorado em estupidez
e toda a sua estupidez comprovada pelo mercado
e aprovada em todos os editais de fomento
e aplaudida por tudo que é ensaio crítico
e por todo mundo que quer ser ‘in’
são a elite artística e intelectual desse país.

(a arte não tem vida
sem a arte de viver)

eu seria muito estúpida
se não andasse no meio da ralé
fritando um novo poema
na velha frigideira
com o tefal todo arranhado
pra gente comer