28.10.07

"Não está vendo? Pescar nos penhascos. É o meu destino!"
(O Rei da Vela, Oswald de Andrade)

27.10.07

estou cheia
de gente

vazia

26.10.07

ser mulher
é antes

pirar
que
parir

23.10.07

Os Sertões, a batalha final

para Mariano Mattos Martins,
o corifeu (e autor do último verso)

a noite se descortina
última batalha em cena
o ato final se anuncia
e os olhos pedem sangue
numa guerra de cem anos
suas águas límpidas
escorrem dos aplausos
as palmas erguem taças
os dorsos vertem danças
todos os deuses são baco
cada corpo, um verso
a ciranda, epopéia costurada
no tear da madrugada
e assim não se faz a trégua
e assim se prolonga o ato
e da vertigem
se chega à queda
o trágico coro do fim do fim
cala com ar nos pulmões
suspiro do corifeu, alívio do coro
o canto tomado de fôlego novo
até o fechar dos portões trás de si
de repente
contornos da noite nos olhos
face à calma clara do dia
mas de repente
há coro no cantar dos galos
colheres, xícaras, bocejos, ah...
há uma orquestra
nas cristas do que desperta
ainda contida, mas viva
mais viva,
gira a ciranda nas bordas do sol
cavalos alados crinas ao vento
a vigília onírica dos incontidos
perfura névoas de claridade
pra lavar de música
a face seca do asfalto
e enfim, a fina chuva os leva:
“bárbaros amanhecidos”

Poemas para se ler a qualquer hora (no meu caso, foi à noite)

Publico abaixo a mensagem que eu mandei pro Augusto (de Guimaraens Cavalcanti, d'Os Sete Novos), comentários sobre o livro dele, "Poemas para se ler ao meio-dia", que ele me deu há meses atrás e só agora eu devorei inteiro:

Augusto, vc é um excelente poeta! Poeta de imagens fortes e belas, mesmo as feias e trágicas, belíssimas em seu horror ou tragicidade, "como dois pássaros se chocando em pleno vôo"!... Te digo isso agora porque só agora li teu livro inteiro, do início ao fim. Até então só tinha lido alguns poemas selecionados ao acaso... Uns de que tinha gostado muito, como o Capa de abismo, que eu já tinha até te falado. Mas mergulhar no livro inteiro de uma só vez é uma experiência bem mais intensa! Seus poemas são como cinema. Cinema experimental bom. Não historinhas. Mas imagens. Um mosaico de sensações. Pra vc ter uma idéia, li marcando as páginas dos poemas que mais gostei, e tenho quase metade do livro marcado! Várias dobrinhas nos topos das páginas... E eu que só ia ler o que vc fez pro Zé Celso, pensando em pôr no meu blogue, tô agora extasiada... pensando em pôr vários no blogue, mas acho que só vou publicar esta carta. Aí quem quiser pega o livro e lê inteiro, que é mais gostoso. E também o belíssimo "tempo" que vc fez parar no teu blogue, suspenso. Queria te dar um abraço agora, mas daqui não te alcanço. Então dorme, ou acorda, ou receba um outro dia, quando abrir esta mensagem, os meus beijos virtuais,
Bia

19.10.07

IÓ! José Celso Martinez Corrêa


vai, anjo profano, sagra de amor os que sangram
singra os mares em que nos derramamos
pesca êxtase
pesca palmas
pesca lá do fundo nossas almas afogadas
dos que penam,
pega as penas,
tece asas
e as lança
e num relance
majestosas aves
a flanar nos ares
colchas de nuvens retalhos se amalg-
amando
vem, orgíaco combatente das armas do fogo
contra a treva
refletores
de entraves,
gols
estádio em ola
atacantes do desataque
exército do desmassacre
a sacar baionetas de flores
bandeirolas multicolores
pra fazer do en noir
en rose
rosa que no céu floresce sem ser bomba
a fauna a flora de desejos
converge verte em todo o canto
coro de tantas cores
vem, louco lúcido, com seu manto lúdico nos cobrir
para nos descobrir
brasis
que somos cada
e somos todo
tin-tin, a nós, ao desatar
vai, assustadora fera, indomável, inominável
me deixa só
com estas asas
com este manto
estas pegadas

que decalco

meu mapa

15.10.07

DISCURSO DO ZÉ CELSO

IÓ! Brasileiros

Nós brasileiros, do Rio Grande do Sul ao Amazonas, em 5 de outubro de l897,
nós, representados então, por 6.000 militares, massacramos em nome da Liberdade, Igualdade, e Fraternidade, a segunda maior cidade da Bahia ,depois de Salvador.

25.000 habitantes, edificada em Mutirões, de doze casas erguidas por dia, organizada em Conselhos, exportadora de Couro de Bode pra Europa.

Esta cidade possuía gente de crença enorme em si mesmo, em seu poder, 'uma crença forte e consoladora' como escreveu Euclides da Cunha.

Tudo isso foi Massacrado.

Ninguém da cidade de Canudos, se entregou. 'Caso único na história'.

Nossos representantes fardados, jogaram querosene e queimaram tudo e ainda,com gente viva lá dentro.

Nós, Recém Nascidos Republicanos, tornamos cinzas,
apocalipse de yesterday como os de now,
a rebelião de Canudos,
a última da República Velha,
a mais perigosa,
a mais rica,
a mais audaciosa,
a mais empesteadoramente bela!

Sobre esse sangue degolado, derramado no Palco da Luta, foi erguido o fundamento, a legitimidade a 'Ordem e o Progresso' da nossa atual Velhíssima República.

Depois do Apocalipse do Fogo, pouco a pouco, os sobreviventes da guerra e outros doidos de deus, retornaram ao lugar Tabu e construíram uma segunda Canudos.

A ditadura militar,
trouxe depois do Apocalypse do Fogo, o Dilúvio das Águas.

A Cidade renascida foi inundada,
A estátua árvore de Conselheiro, de Mário Cravo,
onde o povo acendia velas ao Bom Jesus, foi retirada da praça de Salvador Bahía, depois do golpe de 1964.

Canudos foi reconstruída pela terceira vez.
Teve seu apogeu no centenário de Conselheiro: quando foi asfaltada a estrada que levava ao Caminho da Jerusalém do Sertão,

Mas o asfalto da estrada virou pedra, não foi conservado.

A 3ª Cidade de Canudos, está agora, isolada de nós, e do Globo.
E não se conforma com isso, como Dona Joselina da Pousada Recanto Pôr do Sol.
Isailton, o guia memorialista do Museu de Canudos, guardião do Morro da Favela, tombado aos cuidados da Universidade da Bahia.

Está hoje, quase exatamente, como Euclides descrevia o lugar de antes da Guerra : 'a Terra Ignota'

A estréia mundial da mídia Telégrafo foi na Guerra do Fim do Mundo de Canudos, que tornou-se lugar conhecido em todo Planeta . Todos grandes artistas brasileiros Glauber, Oswald, Gilberto Freyre, Nelson Rodrigues, Guimarães Rosa, e muitos e muitos, ligaram-se na anunciação do povo brasileiro de ' Os Sertões'.

É o grão da nossa revolução cultural, a rocha viva regenerando, o ser-estar brasileiro,
sempre.

Hoje o Sertão virou Mar, mas de lixo plástico. Canudos tem agora 11.0000 habitantes menos que em l897.

Mas há lá, um povo novo, querendo crescer, com Lan House instalada há pouco tempo na rua principal, com a gestão do Prefeito Adailton, que faz aniversário no dia seguinte a Cosme Damião, um Historiador, uma criança muito apaixonada, por fazer tudo, por sua região, pela terceira vez.

Esta na hora de que todos nós brasileiros fazermos a redenção, a justa história, o pedido de perdão por estes Massacres, onde se inclui principalmente , o da nossa negligência de mais de 100 anos, por não ter feito nada pelo lugar, quando tomamos consciência
que tínhamos destruído a nós mesmos, a cidade deste povo irmão, deste sertanejo, antes de tudo um forte.

O Livro 'Os Sertões', foi o primeiro ataque ao o escândalo de dois Brasis desiguais,
com a Repressão do próprio Estado Brasileiro, massacrando, degolando, seu próprio povo. Euclides foi inspirado por todas as línguas de fogo do Espírito Santo. Escrito em todas as línguas, linguagens, ciências, poesias, começou a interpretar, através do Crime praticado pela nacionalidade, o próprio Brasil, para nós mesmos brasileiros e para todo mundo.

'Os Sertões' é o livro mais traduzido do Brasil. Da China, que o define shakesperianamente como 'Poema Ilimitado'
Á Alemanha, onde é lido em Papel Bíblia , numa edição da SurkampfVerlag, a maior editora alemã, como grande poeta da Guerra Atual Mundial do Terror de hoje ainda.
8 de outurbo de 2007, 40 anos do assassinato do Che na Bolívia pré-Guarani.

'Fanáticos' de todas as universidades do mundo, vem conhecer a cidade do DNA,
inspirador do conceito de 'crime das nacionalidades' criado pelo brasileiro Euclides da Cunha em 2 de 12 de 1902 (data do lançamento do livro) no Rio de Janeiro; atraídos pelo sertanejo, antes de tudo, esse forte; pela estruturação ao vivo, política da cidade em forma de Muritão e Conselhos.

Desde o primeiro Massacre, nenhuma atitude concreta por nós brasileiros, foi tomada .

As cidades do mundo que passaram pelo que passou Canudos, foram reerguidas, Hiroshima, Berlim, Leningrado, Bagé, e tornaram-se pontos irradiadores de vida , Corações-Chacras do Amor Des-Massacrante.

Daqui do Rio de Janeiro , de onde o Brasil inteiro era convocado para Massacrar Canudos, escrevo, preparando-me para temporada em Quixeramobim, cidade Natal de Antônio Maciel, o Conselheiro. Esta cidade está em plena Primavera. Há movimento de seus jovens que nos convidaram e criaram condições juntamente com o Prefeito Edmilson Junior, que bancou 50% do alto Custo das 5 partes de ' Os Sertões' para estrearmos lá, no dia 14 de novembro próximo. A Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, sob gestão de Auto Filho, apoiou fortemente, e criou uma logística para que ônibus de todo Estado acorram para o coração do Ceará como é chamado Quixeramobim, e montem acampamentos para estar no evento. Um pra lá de Woodstock dos tempos atuais.

De lá seguimos para Canudos, para fazer 'Os Sertões' no Belíssimo Estádio de Futebol, de Canudos. Propusemos o apoio pessoalmente ao Governador da Bahia Jacques Wagner , e por telefone para a Pra lá de Primeira Dama Fátima, que tem se destacado como revolucionária incansável do crescimento da cultura na Bahia.

O Secretário da Cultura do Estado da Bahia, Márcio Meirelles, diretor do grupo de Teatro do Oludum, é um dos entusiastas desta ação.

Mas, não basta fazermos lá por cinco dias nosso espetáculo . Baixa a Magia do Teatro, a Internet Transmite,
o mundo comove-se ou não, e nós voltamos a São Paulo e Canudos retorna a Terra Ignota. Não, isso não vai acontecer. É hora do Desmassacre!

Pela luta contra o crime das nacionalidades, a favor do crescimento do Sertão Brasileiro , quero que os anos e anos de trabalho que nós da Associação Teatro Oficina Uzyna Uzona, tivemos, para fazer a incorporação de Theatro do livro de Euclides,
como um real Desmassacre, inspirem como estão inspirando a mim, TeAtos: atos, de investimentos maciço na irrigação das águas paradas do açude de Cocorobó,
que serviu até agora, somente para afogar a Memória de Canudos.

Que se abram artérias e mais artérias da água no corpo da Terra, e faça da cidade um Vastíssimo Pomar Sem Donos.

Que
Luciano Coutinho na Direção do BNDES,
Gedel Vieira Lima ministro de integração nacional, do Ministério da Integração Nacional, o Ministro de Assuntos Estratégicos recém nomeado filósofo jurista Mangabeira Unger,

Marta Suplicy, Ministra do Turismo,
Gilberto Gil, Ministro da Cultura,
promovam um movimento de investimento real
naquele belo e riquíssimo losango da bandeira brasileira,
Canudos, a Jerusalém dos Sertões, capital de todos os imensos quintais dos Estados do Nordeste que para lá dão.

O desenvolvimento econômico da região vai propiciar a epifania da Caatinga sob Guarda da Universidade da Bahia: o lendário Morro da Favela, assim chamado pela planta que é chapa fervente envenenada se a invadimos, mas que a carícia dos ventos das madrugadas, provoca orvalho do sons das lágrimas de Paulinho da Viola.

De lá veio a primeira Favela do Brasil ? a da Providência, onde, pra não morrer, foram morar os soldados do Exército Brasileiro contra Canudos, que não tiveram seu soldo pago pelo Estado, que faliu com a Guerra .

Canudos acesa, acende, o Monte Santo, o Razo da Catarina, a Pedra do Reino, as Cavernas de São Bom Jesus da Lapa e todas os sítios Iluminados do sentimento órfico brasileiro pagão chamado de 'fanatismo' pelos positivistas.

Para o Ministério das Relações Exteriores, de Celso Amorim, para o Iphan e a Monumenta de Fernando de Almeida fica a missão de liderar o movimento pela transformação de Canudos em Patrimônio Mundial da Unesco.

Neste lugar, poderemos os que estivermos vivos, brevemente proclamar a Nova Abolição do Cativeiro: O Fim da Guerra do Narcotráfico com a Descriminalizacão da Droga no Brasil e sua passagem pro Ministério da Saúde e sem deixar a Souza Cruz tirar o comércio das mãos dos que por ele lutaram, estes anos obscuros e sangrentos.

Presidente Lula, seu jogo de cintura, sua política de Caetê Antropófago, tem de estar na Pagelança deste movimento.

Esclarecimentos: Luis Paulo Neiva,da Universidade do Estado da Bahia (popularmente UNEB).a frente de uma equipe de cientistas, tem os estudos feitos para fazer realmente o Sertão virar PoMar, já. Informa:

1-No Parque Estadual de Canudos, que também implantamos e administrado pela UNEB, temos aí o bioma caatinga precisando ser preservado e repovoado (algumas plantas estão em processo de extinção). É Uma zona de combate da Guerra, com 1.321 hectares,, está com seus sítios históricos e arqueológicos demarcados (Alto/Morro da Favela; Vale da Morte, Hospital de Sangue da primeira e segunda Colunas; Fazenda Velha, Alto do Mário, Degola, etc).

2-O Açude Cocorobó, foi iniciado na década de 40 e inaugurado em 1987. Tem uma capacidade de acumulação de água de 293 milhões de metros cúbicos de agua, poderia abastecer mais de 2o municípios da região - hoje abastece Ós, a cidade e a zona rural é abastecida por carro pipa (seguindo o clientelismo etc). Produz poucos peixes e poderia produzir 800 a 1 mil toneladas de peixes por ano, ou seja 3 ton por dia - o que dinamizaria a região.O Perímetro irrigado Vaza Barris (PIVB) poderia irrigar 5 mil hectares, hoje irriga menos de 1 mil utilizando culturas muito demandadoras. Hoje, há DESPERDÍCIO E O SISTEMA DE IRRIGAÇÃO É INADEQUADO. Existem áreas já salinizadas etc. etc. A minha pesquisa anterior constatou que os agricultores auferiam uma renda inferior a Hum salário mínimo, enquanto agricultores alí perto, em Juazeiro estão se articulando com mercados exigentes da Europa e EUA, etc, etc.
Há uma réplica da Estátua do Conselheiro, de Mário Cravo, que está no Memorial Antonio Conselheiro da Uneb em Canudos. Ali também tem um museu, uma pequena biblioteca, e um jardim com plantas citadas em Os Sertões - esse jardim tem o nome Praça João de Regis (filho de Conselheirista. Falecido recentemente e um dos melhores depoentes sobre a Guerra).

Sem perda de tempo, aproveitemos este momento excepcional do Brasil

José Celso Martinez Corrêa
M E R D A

11.10.07

Um certo sertão

p/ Zé Celso Martinez Corrêa e atores do Oficina

O enorme caralho que solta fumaça branca quando goza, paus e bucetas quase sempre à mostra, punheta a jorrar esperma, siriricas mil, oral e coisa e tal. Não é só isso que define o que vi, como quereriam os (falsos)moralistas que o condenam. Zé Celso em ação. Ritual. Multidão. Sentir-se parte. Sentir-se todo. Sentir o corpo do ator. Sentir a pulsação do público. Sentir fome, sede, vontade de ir ao banheiro e segurar até a bexiga quase estourar. Ficar seis, sete horas lá. As vinte e seis direto se duvidar! A alma nua, com a roupa do corpo ou não, entregue em oferenda para a multidão. Sentir no rosto a chuva que molha o chão seco do sertão. Mergulhar nas ondas do mar. Ser rio ou correnteza. Ser vereda. Pássaro ou espinho. Sentir na pele o calor das queimadas. Ver o homem que fode a terra em que se funda. Zé Celso conclamar a reconstrução de Canudos, nos chamando para ir lá. Querer ir lá. 29 de novembro, ele disse, a 2 de dezembro. Será que cabe na agenda? Fui. Embarquei nessa viagem aos sertões de Euclides da Cunha, levada pelo Zé da Oficina. Caí no meio de um campo de batalha. Estrondos, explosões, brigada anti-incêndio em alerta. Sangue, mutilações. Caem uma, duas, três expedições. Canudos resiste. Até o fim. Até seu último combatente cair morto, na quarta. Cinzas. Sentir a morte do sertanejo. O abandono dos soldados mutilados. Sentir também tesão. Mais que isso, sentir paixão! Sentir no olhar de cada ator toda a paixão que move o grupo e se apaixonar, querer ser mais uma roda a girar nessa engrenagem. Viver o teatro na carne. Fazer da carne viva teatro. Antropofagiar-se. Se entregar. Sem medos ou máscaras. Cair na dança. Quadrilha. Ciranda. Samba. Funk. Ser um movimento nos movimentos. Sentir o vento. Ou o sol rachar. Marchar; Marchar; Marchar; Murchar. Evaporar-se na seca. Delirar. Ouvir o canto das bacantes ou de Iemanjá. Se deixar levar. O amor por princípio. O amor!... O ritual indescritível dos beijos e afagos, a coisa mais linda! Apoteótico. Hipnótico. Transcendental. Como definir o que vi, vivi? “Os sertões” não é uma peça de teatro. É uma ação teatral. É um acontecimento. Ou você vive. Ou você não viu. “Os sertões” se prolonga na sua vida muito mais que as tantas horas que o limitam no espaço. Vou-me embora pra Canudos! Simbora, Zé! Chegou a hora do desmassacre! A hora do amor chegou! E antes que eu me esqueça, MERDA!!!

6.10.07

os bjs sem lábios

teu olhar vidrado na tela
petrifica
como endurece teu corpo
que não abraça, digita
como seca na boca a saliva
de um beijo que se abrevia
como se encolhe você
espremido entre duas letrinhas
que eu não consigo te ver
mas eu sei que a tua solidão
não é senão a minha
cada lágrima que brota no canto de um olho teu
vem desaguar pelo meu rosto, me molha as teclas
sou essas teclas, mas sou as mãos
mãos que suam, vazias
como sou braços que carecem de outros braços
sou fios, tomadas, sou cabelos
cabelos onde enrosco meus dedos quando me deito
sou umbigo, ventre, cólicas
sou fome, joelhos, cheiros
sou tudo isso mais a tela
sou sem a tela, sem espelhos
sou tatos no escuro, tropeços
basta um clique e desapareço
se quiser me veja a foto, o perfil, o meu e-mail
me escreva poemas com os nós do corpo e envie
mas engraçado,
envie em francês é desejo, vontade
nós podem ser duas pessoas, podemos
com os nossos corpos escrever poemas

5.10.07

COME ANANÁS

Come ananás, mastiga perdiz.
Teu dia está prestes, burguês.

Maiakóvski, 1917
(Tradução de Augusto de Campos)

Alguns cartazes de Maiakóvski e Rodchenko!!!

(Rodchenko, 1925 - O Encouraçado Potemkin)

(Rodchenko, 1924 - O cinema-olho)


(Maiakóvski, 1921 - World stands on Vulcan... (The Window of glavpolitsovet))


(Maiakóvski, 1920 - Each absence is joy for the enemy...)