29.9.12

Show

Pães & Cigarros

sempre que meu cigarro acaba
eu penso em pão
tem uma padaria na rua ao lado
que faz entregas
e me traz os cigarros
pães e coca-cola
os entregadores são ágeis
e me trazem na mesma hora
os pães ainda quentes
os cigarros saltando pros dedos
e a coca-cola saciando a sede
das minhas ressacas
os pães costumam esfriar
sem serem tocados
se eu pudesse substituir pão
por você
as coisas seriam bem diferentes

24.9.12

hoje foi o dia de pôr as coisas em ordem:
roupas, sapatos, bolsas, papelada...
tudo q andava espalhado pela casa
tudo nos seus devidos lugares.
peraí, tem alguma coisa fora do lugar...
uma coisa mal guardada
num espaço apertado:
coração.
(sempre esqueço no lugar errado)

ruídos

as coisas sempre acabam assim
eu indo embora pra casa sozinha
mergulhando em ladeiras e escadas
largando os pés nalgumas pedras
perdendo o chão nalguma lágrima
um pouco assustada com a luz de um poste
que acende e apaga, acende e apaga
ruídos de curto-circuito no ouvido
as chaves balançando nas mãos
portas batendo às minhas costas
a agulha arrastando no disco
que já terminou de tocar
e ninguém se lembrou de virar
ruídos e mais ruídos
e todo o silêncio que fica
quando já não há nada a ser dito

DO LADO DE CÁ DO CORDÃO DE ISOLAMENTO

tem uma coisa que vai explodir dentro do peito
aí parece que o peito encolhe pra segurar
vai afundando e vai recolhendo as pernas e os braços
até que você fica ali como um feto
embaixo das cobertas
quieto, muito quieto
(qualquer movimento brusco e...)
a coisa querendo explodir e você lá
tentando desarmar a bomba
sem saber que fio cortar
suando frio
chorando baixinho pra não acordar os vizinhos
você sabe que dos explosivos que carrega no peito
qualquer fio que cortar vai fazer detonar
o suor frio
os fios
contagem regressiva
cordão de isolamento
e você lá
quieto, muito quieto
como um feto
do lado de dentro