20.2.13

POUR ALINE

para Aline Vargas 

lá vem ela incendiando os meus olhos
seu sorriso ora doce ora quase cruel
sempre abocanhando lascas inteiras de vida
deixando escorrer um filete de sangue
q dá vontade de lamber
ele toda tem esse gosto agridoce
q é flor e espinho
mas nunca me espetou os dedos
é para pegar com delicadeza, entende?
tem coisas q são fortes e ao mesmo tempo suaves
o mar, por exemplo.
então eu mergulho nela
e ela amansa as ondas
e inventa peixes e gaivotas
pra enfeitar nossa paisagem.
ela não deixa o riso despregar do meu rosto
e às vezes ele tá quase caindo
e ela chega com prego e martelo
e conserta tudo.
ela sabe deixar tudo brilhando
quando inventa de limpar azulejos
e tristezas
não deixa nem uma poeirinha de lágrima
se acumular nalgum canto
nadica de nada
então a gente já pode perder as chaves da casa
o último metrô
a cabeça
explodir a ponte
e até meter o carro no poste
mas eu guardei os explosivos no peito
pra ela riscar o fósforo
e eram fogos de artifício
e eu já perdi o medo do barulho e das faíscas
(tenho me concentrado no colorido)
ela sempre inventa mais cores
do q é possível
fica muito bonito
como um silêncio entre amigos

19.2.13

sem voz

passei uma semana rouca
querendo gritar seu nome
enquanto marchinhas de carnaval
arranhavam a minha garganta
uma semana com seu nome
escondido entre duas
cordas vocais
soterrado por confete,
serpentina, purpurina,
doces doces,
álcool, drogas,
samba & rock’n’roll...
a fala começa a voltar
e seu nome parece agora ainda mais longe
do alcance da minha voz
acho que o meu coração andou rouco demais
e parece que vai continuar
tumtum tumtum só som de batuque
e o carnaval acabou
aqui,
silêncio.