30.6.07

Nelson Rodrigues & As tragédias cariocas hoje

Lá está meu nome entre os selecionados para a Oficina de Contos sobre as tragédias cariocas de Nelson Rodrigues: http://www.flip.org.br/noticias.php3?id=192
Em breve terminarei o conto que estou escrevendo pra participar também do Concurso.
É maravilhoso ter Nelson de volta na minha vida, agora como escritora, e não mais atriz!
Segue o resumo que fiz de "Toda nudez será castigada" para a inscrição na Oficina, com exatas 350 palavras:

Geni, morta, narra a Herculano sua história por meio de uma gravação.
Antes de conhecê-la, Herculano está inconsolável pela morte da esposa.
Suas tias temem que ele cometa uma loucura.
Seu filho, Serginho, deseja que o pai permaneça num luto eterno.
Patrício, seu irmão, contrata a prostituta Geni para resolver o caso.
Leva ao irmão uma foto da prostituta nua e uma garrafa de bebida.
Herculano acorda no quarto de Geni, dizendo não saber como foi parar lá. Insulta a prostituta, que conta como ele a desejou e repudiou a própria esposa nas 72 horas que passou lá. Desesperado, ele nega as acusações, despreza a prostituta e vai embora.
Geni acaba se apaixonando por Herculano, e Patrício manipula a situação, orientando Geni na conquista do irmão, que mesmo resistente, continua a encontrando, até resolver tirá-la daquela vida, pois não se permite amar uma prostituta. Mas para assumir esta relação, há outro empecilho: a aceitação do filho e das tias. Especialmente de Serginho, um menino frágil e atormentado que insiste no luto do pai.
Herculano não consegue assumir para o filho que tem outra mulher.
Até que Serginho flagra os dois e, fora de si, põe-se a beber, se mete em confusão e vai preso. Na cadeia, é currado por um ladrão boliviano. O pai se consome com a culpa e volta a desprezar a prostituta. Geni, tomada de pena pelo menino, vai visitá-lo no hospital. Influenciado por Patrício, Serginho exige seu casamento com o pai para dele vingar-se tendo um caso com ela. Casada com Herculano, Geni assume ares de “mulher honesta”, deixando seu passado para trás. Mas mantém um caso com o enteado, por quem se descobriu completamente apaixonada.
Serginho se sente perseguido pelo ladrão boliviano e resolve fazer uma longa viagem para o exterior para tentar apagar o trauma. Geni se desespera, mas, enfim, acaba por aceitar a separação, pelo bem do amado. Mas não suporta a situação quando descobre que Serginho, na verdade, parte em lua-de-mel com o próprio ladrão boliviano. Dá fim à própria vida, não sem antes amaldiçoar a todos numa fita, sua carta suicida.

27.6.07

Mais uma noite...

1h20 da manhã. Visto a camisola, os cabelos molhados e despenteados do banho que acabo de tomar. Vou pra cozinha. Abro e fecho os armários e a geladeira, desisto de comer. Encho um copo de suco de manga. Vou pra sala bebendo o suco, caminho até a janela e dou uma espiada lá fora. Silêncio. Só então me dou conta de que realmente as pessoas dormem à noite. No prédio da frente, em todos os prédios em torno, todas ou quase todas as luzes apagadas. Me pergunto se meu prédio estaria como os outros. Apenas minha luz acesa. Talvez mais uma, ou duas. São 28 andares. Mas as pessoas realmente dormem à noite. Vai ver que o que eu gosto da noite é justamente isso, que as pessoas dormem e me deixam em paz. E quem não dorme, quem gosta da noite como eu, em geral me é boa companhia, quando resolvo ver a noite por outros ângulos, lá de fora. Mas isso tudo é tão irrelevante. O que tenho eu com os outros que dormem aconchegados em suas camas?! Que durmam, ora bolas! Vou me deitar no sofá com meu suco de manga e ler Bukowski até adormecer com os primeiros raios de sol entrando pela minha janela... Dizem que não é bom dormir de cabelos molhados.

Saldo do 1º semestre de 2007 ou Roteiro de Comercial

Cena 1: tralálálálá menininha saltitante carregando balões coloridos entra no Banco pra tirar o extrato...
Clonagem de Cartão de Débito: R$3.566,40

Cena 2: iupie! menininha sorridente com olhos brilhantes corre pra pegar a carta que chegou do correio...
Multa por Infração de Trânsito não cometida em local desconhecido: R$102,15

Cena 3: êhêhêh... menininha inocente e feliz vai brincar de carrinho...
Roubo de estepe e grade arrebentada do carro novo: R$553,43

Ser fodida e mal paga, NÃO TEM PREÇO!
Não vou descrever a Cena 4. Imaginem...

Porque tem coisas que só a imaginação faz por você. Para todas as outras existe esse país maravilhoso chamado Brasil!

25.6.07

Último Ato

eu armo a cena no palco dos teus olhos
meus olhos derramados frente aos teus
meus pés pisando abismos
as mãos tocando o ar
um, dois, três atos
com longos intervalos de saudade
nos conduzem ao grand finale
e exaurida da trágica performance dos dias
das noites de valsa interrompida,
dessa estranha dança de passos parados, de ausência e negação
eu paro de bater os braços e buscar o ar
e me deixo levar pela correnteza
de um rio de lágrimas
encerro, magistralmente,
nosso último ato.

22.6.07

27 comprimidos

27 comprimidos depois
resta no rosto uma expressão vaga e calma

de espera

Diante do espelho

Cansada de se encarar
Bela, lívida e nua
Tingiu as mãos de vermelho

Com um caco quebrado do espelho

O anjo do 18º

Um anjo despencou da janela do 18º andar
O anjo se atirou da janela, porque anjos sabem voar
O anjo nem disse adeus, pois sabia que ia voltar
Deixou um disco na vitrola
A garrafa de vinho pela metade
3 cigarros no maço

e saudade

20.6.07

Os meninos malabaristas

hábeis mãos malabaristas
sinalizam desequilíbrio
sinais que se fecham
num mundo que avança

são eles na corda bamba,
são eles no globo da morte,
são eles lá no trapézio
sem rede de segurança

há aqui um circo de palhaços tristes

há aqui um circo de mágicos sem cartola
há aqui um circo de elefantes raquíticos
e girafas na degola

aqui leão engole domador
e gargalhada é grito de dor

18.6.07

O CEP está de volta (e de casa nova)!

CEP 20.000

TEATRO DO JOCKEY

(Entrada À PÉ, pela Bartolomeu Mitre, próximo do Hospital Miguel Couto
DE CARRO, pela Mário Ribeiro, 410 - Lagoa - Barra - no Jockey )

TERÇA FEIRA / 19 DE JUNHO / 20 hs / 6 reais.

- POESIA . MÚSICA . TEATRO . VÍDEO -

16.6.07

Nelson Rodrigues, minha obsessão!

A FLIP este ano é em homenagem a Nelson Rodrigues. Eu amo Nelson, de paixão! Suas peças, romances de folhetim e contos foram minha obsessão na adolescência, dessas que só mesmo ele consegue alimentar! No teatro eu fui Engraçadinha, Glorinhas, Alaíde, a mulher sem pecado, viúva, mulher traída, até prima encalhada de Anjo Negro! E era uma delícia estudar suas personagens e mais ainda levá-las ao palco, de protagonistas a quase figurantes, nenhuma personagem é insignificante, são todas fortes pra caralho! A prima de Anjo Negro era um papel minúsculo e foi foda demais fazê-lo! Enfim, eu, que não sou de ter ídolos, se elegesse um, seria ele: Nelson Rodrigues!
Pois bem, estou eu de madrugada vasculhando sites pra procurar hospedagem pra FLIP, entro no site da FLIP e vejo a divulgação de uma oficina de contos tendo como tema as tragédias cariocas rodriguenas, com a Sônia Rodrigues, filha d'O Cara. Curiosa, dou uma olhadinha no regulamento. Pra seleção eles pedem o resumo de uma das tragédias em até 350 palavras. Resolvo tentar escrever sobre alguma pra ver se sai algo que preste no tamanho exigido, quem sabe. Sem sequer consultar os livros (que eu tenho todos, claro!), começo a escrever sobre "Toda nudez será castigada", que além de já ter lido várias vezes, vi o filme do Jabor e a peça recém-montada do Armazém. E não é que saiu um texto, redondinho, com exatas 350 palavras?!! Aí pensei, bom, já que fiz o texto, vou fazer a inscrição. Fui lá, preenchi tudo, dados, currículo, texto e enviei. Quando eu me dou conta são 6 horas da manhã e eu virei a noite vidrada na história do Nelson! É ou não é obsessão?!
Agora é esperar o resultado da seleção.
E depois que sair, eu publico meu resuminho aqui.
E pra quem não leu a peça, não viu o filme nem a encenação, já aviso logo que eu conto o final...

7.6.07

Está escuro aqui

“Tem alguma coisa me incomodando
Acho que sou eu”
(Woody Allen)

...
E tem tanta luz piscando na cidade que eu já não encontro a minha
Alguma coisa se apagou aqui
Alguma coisa me larga sozinha no escuro e eu sempre tive medo do escuro
E da solidão
E era um medo assim tão forte que me atraía para si
Eu não vejo as luzes que brilham lá fora
Aqui tudo é medo e abandono, aqui tudo é real
Aqui tudo me atropela e eu não sei onde botar as mãos
Aqui eu aperto os dedos e contraio os lábios
Aqui rolam lágrimas que eu não sei de onde vêm, pra onde vão
Aqui tem uma ausência corroendo uma qualquer coisa que eu não sei
Aqui faz tanto frio, chove, venta e eu não trouxe guarda-chuva, nem um casaquinho sequer, não sabia que ia chover, não podia prever
Aqui é tudo gelo e escuridão e não há ninguém que possa me dar a mão
Aqui ninguém sabe onde é, ninguém pode me achar
Daqui ninguém me resgata
Aqui não há interruptores ou luzes de emergência
Não tem gerador, o elevador parou de subir, ou descer, mas ele pode cair
E cair assim dentro de uma caixa é como ser atirada ao mar sem saber nadar
Aqui o ar me falta, uma coisa me sufoca, uma coisa que eu não sei dizer
Aqui eu estou tão encolhidinha, com tanto frio e pavor que eu quase não sou
Aqui é silencioso e emergem ruídos estranhos, medonhos
Aqui tem alguma coisa que eu não sei me empurrando para o que eu não sou e eu não quero ir mas não tenho forças
Eu sempre quis sair daqui e aqui sempre estou, fechada, sozinha, no escuro e na dor
Eu às vezes finjo que não estou nem aqui, e encontro gente, e vejo acender uma luz qualquer, mas o escuro sempre me toma de volta e me envolve em seu manto de treva
Estou presa a ele como a meu próprio corpo, como se fosse parte de mim, como se fosse meu, como se fosse eu, como sou
Se eu corresse ele se adiantava e me tomava em seus braços na linha de chegada
Se eu fingisse ele ainda mais se dissimulava e de mansinho me fisgava
E se eu morresse, não, nem se eu morresse ele não me largava, ia velar-me com velas apagadas e se fechar sobre mim como um túmulo sombrio
Eu não sei, meu deus, não sei explicar esse medo infantil, esse medo de escuro, não sei porque ele não ficou lá atrás, escondido embaixo da cama sem nunca pegar meu pé
E hoje, que eu não sou mais criança, é tudo tão escuro aqui
Eu sinto frio nos pés e estou descalça
O chão frio que eu pisava se fez abismo de repente
Eu não tenho onde segurar nem quem me aparte a queda
Eu fui engolida pela minha própria boca
E por meus dentes dilacerada
Já não me resta nada
Só uma boca, no vazio, me regurgita em palavras
E não há sequer ouvidos para resgatá-las
São palavras sozinhas, perdidas, com medo do escuro
São palavras apagadas, que deixam no papel apenas sua marca indelével de terem sido escritas um dia
Como eu de ter sido outrora escrita, mas jamais lida, e uma vez apagada, levando a marca do que teria sido, sem jamais ser