12.8.05

Numa noite qualquer...

Numa noite qualquer
Alguém pede “mais uma”
Eu peço “uma caneta, por favor”
Tento capturar a poesia de um instante
Que corre livre em mim, rodopia, se esvai
Retenho uma palavra-chave
Desenho um pensamento fugaz
Transponho uma sensação qualquer
Tomo um gole, fumo um trago
Paro por um segundo e vejo-me num ambiente transformado
Transtornada com ruídos que já não sei bem de onde vêm
Movimentos de copos e cacos de gente
Sorrisos borrados, rostos transfigurados
Um mundo fora de foco
Ambienta os rabiscos do que me vem de dentro
Olho o guardanapo molhado
Encho-me de lágrimas presas na fonte
Que não me escorrem na face
Retornam à nascente
E voltam na forma de um novo verso
Vejo-me sozinha em meio à multidão
Povoada por mil de mim
Deslizando ardente a caneta sobre o papel
Na tentativa vã de reter um instante infindo
Que se desfaz e se refaz a seu bel prazer
Não deixando-me saída que não a de ser
O próprio elo translúcido
Entre o etéreo instante poético que brota sem mais nem porquê
E a concreta poesia que surge num guardanapo sujo
Sob ímpeto do meu querer...

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