25.11.13

Eu te vi, mas fingi que não. É sempre difícil cumprimentar alguém com o coração na mão. Você ia fingir que não viu o coração ali, e ia apertar com força, e depois me lagar lá, com toda aquela sujeira nas mãos. Então eu montei barricadas na mesa da bar, só pra você passar. Talvez você tenha percebido, e visto com o canto do olho que eu apertava com tanta força o coração na mão (pra ele não escapar até você), que tenha me feito o favor de também fingir não me ver. Entre mortos e feridos, restam os fantasmas vagando pela cidade no lugar errado, na hora errada. E um poema tolo sobre coisas tolas pra encerrar a madrugada.

21.11.13

goteira

há uma goteira no teto do quarto
caindo diretamente
sobre a minha cabeça
ela ainda não tinha nome,
então dei o seu.
(como dormir com seu nome pingando
a noite inteira
sobre a minha cabeça?)

20.11.13

Um coração desocupado não significa um coração esvaziado. Desocupado, o coração seria um vagabundo. Mas tal como Kerouac, um vagabundo iluminado. Dormindo em vagões de trem abandonados, e dividindo um vinho de quinta categoria com outros corações, digo, outros vagabundos. Enfim, esses desocupados. Livre, o coração pega carona na boleia de um caminhão sabe-se lá pra onde. Não existe um lugar pra chegar, não há o que fazer; só há esse vento gelado na cara cortando a madrugada, e toda essa estrada. E todas as visões iluminadas que um coração pode ter, como esse insight de perceber equivalência entre desocupado e vagabundo, e resgatar a velha alma beat que une vagabundagem e iluminação! E então a desocupação perde toda a amargura de retirada forçada, e o coração, de lugar vazio. Desocupado, guarda dentro de si o mundo, como todo belo coração vagabundo.

#ocupacoração

19.11.13

Meu coração foi flagrado pela sua transmissão ao vivo... Meu coração foi flagrado num ato de vandalismo, ali, batendo. Por você. Mas meu coração é ninja. Conhece golpes que você nem imagina. Mais do que ninja - meu coração é livre. Continuará batendo. Vandalismo é você não estar mais aqui dentro.

#ocupacoração

18.11.13

Noite passada sonhei que tinha uma marca feia no lugar da covinha, bem funda, só de um lado do rosto. Era estranho... Pensando bem, meu sorriso carrega uma cicatrizinha. 

15.11.13

A ocupação acabou. Era uma Zona Autônoma Temporária. Você não poderia morar para sempre no meu coração. Aliás, meu coração nunca teve acomodações próprias para moradia. Sempre foi lugar de passagem, tipo uma hospedaria. Os viajantes vêm de longe, com seus mochilões, barro na bota, poeira da estrada nos pulmões, se jogam na cama e sentem um imenso prazer em estar ali. Por alguns segundos o meu coração é tudo o que alguém pode querer. Mas a estrada é muito grande pra parar por aqui. Eu mesma me irrito, fico entediada, largo o coração ali e pego sozinha a estrada. Quem precisa de um coração? É sempre uma sensação tão boa esse vento na cara! Quem precisa de um coração, ali, parado? - a cama desfeita e aquela preguiça danada de arrumar o quarto. Ah, mas você acha mesmo que eu devia enfiar o coração no mochilão e carregar comigo?! Você não sabe o quanto pesa! - meu coração é um chumbo. Um gigantesco prédio histórico no centro da cidade – ou você ocupa ou explode de vez. Além disso, não serve pra nada. Mas eu vou fazer com ele uma coisa esperta: na próxima manifestação, a PM vai ter que revistar aqui dentro pra encontrar a pedra.


#ocupacoração
Dessa vez a Guarda Municipal chegou, e destruiu a barraca. Foi logo metendo a mão e te arrastando pra fora do meu coração. Você nem ofereceu resistência. Parece que já tinha um plano de reocupação em outro lugar. Deixou lá a carcaça, a barraca destruída, a lona rasgada, as varetas quebradas. Deixou lá meu coração arrasado no meio da praça, como um enforcado, pra servir de exemplo. Ele então foi se arrastando a um poste, se acorrentou, fez greve de fome. Todo dia grita por liberdade (e todo dia fala baixinho o seu nome). Já está perdendo as forças, desmaiando, enlouquecendo. Esquecido atrás das grades esperando o julgamento. Você, com suas provas forjadas, vai engordando o processo. Cada dia, adia o parecer. Pra você pouco importa se meu coração está preso, se está sem comer. Acho que aquela ocupação era coisa de P2, pra me destruir por dentro. Não adianta amarrar uma camisa na cara e ficar aí, com essa postura de polícia. Você viu quando eu fiz do meu coração um coquetel molotov, e entreguei na sua mão. Você podia explodir em qualquer lugar. Pois é, esse flagrante não foi forjado. Fui eu mesma, e eu estava sem máscaras. Isso consta no relatório? Guardou meu coração como prova? Pronto, agora mais essa pra me incriminar. Taí, pega meu coração e faz o que quiser. Eu já deixei você entrar e ocupar, já dei na sua mão, nunca fui boa com GTs de segurança. Mas vou fazer uma campanha, você vai ver. Anistia internacional, direitos humanos. O mundo inteiro vai saber. Meu coração está sendo investigado, está sofrendo perseguição, O Globo já noticiou que ele é financiado por músicas bregas e poemas de amor. CONTRA A CRIMINALIZAÇÃO DA PAIXÃO, vou botar numa faixa bem grande na porta da sua casa. Vou convocar uma grande manifestação: 1 milhão nas ruas contra a criminalização da paixão. 1 milhão nas ruas pela libertação imediata do meu coração. 1 milhão nas ruas. E eu aqui, sozinha, esperando por um.


#ocupacoração

7.11.13

PREFERÊNCIAS

Eu amo a coxinha com requeijão do Fornalha! Sempre amei coxinha. Não sei por que o termo é tão mal aplicado hoje. Também sempre gostei de pimenta – tenho um pezinho na Bahia. Spray é que é novidade. Pimenta mal aplicada. Sempre gostei de olhares. Olhos nos olhos. E aí pouco importa se tem uma camisa amarrada na cara. Teus olhos nos meus são sempre bem aplicados.

#vandalismopoético + #ocupacoração (combo)