22.8.05

Notívaga

Já é mais de meia-noite
Um turbilhão de pensamentos me arrebata,
enquanto enrolo incessantemente os cabelos com as pontas dos dedos
Estou imóvel na escuridão do leito
Vez por outra, viro-me para o outro lado
Afofo os travesseiros
E volto a enrolar os cabelos
O mundo inteiro perpassa minha mente em segundos,
Mas estes parecem não passar
Passado, presente e futuros possíveis...
Fatos e ficções...
Tudo se funde em imagens e palavras
que povoam minha cabeça nesses segundos infindos
Os dedos frenéticos entrelaçados às madeixas
são o único movimento exterior que acompanha esse turbilhão
que me invade a alma sem pedir licença

Duas horas da madrugada
Penso que preciso dormir,
que tenho que acordar cedo,
que tenho que parar de pensar e de contorcer incontrolavelmente os cabelos,
relaxar, relaxar, relaxar...
E logo estou pensando nessa vida
que me leva a precisar dormir
na justa hora que me põe a pensar livremente...
E logo sou invadida por tantos pensamentos
que esqueço de dormir
Viro e reviro na cama
Meus olhos ardem
Minha alma arde
Minha cabeça pulsa
Tudo se agita dentro de mim,
acompanhado pelo gesto ritmado
das pontas dos dedos que acariciam
os pelos macios que me brotam da cuca fervente

Quatro e vinte e três
Como que sonâmbula,
ponho-me a vagar pelos cômodos da casa
à procura do sono que não me encontra
Encontro-me perdida em minhas próprias divagações
Não quero me encontrar
Não agora
Preciso fechar os olhos e não pensar em nada
Deixar de existir por algumas horas,
para uma existência tranqüila na manhã que se aproxima
A manhã se aproxima
Um amanhã que é ainda hoje
Os primeiros sinais de sono vêm acompanhados
dos primeiros raios da aurora
Nem ouço o primeiro galo cantar
No meu apagar da consciência

Toca o despertador... Sete horas
No mundo embaçado que se ergue diante de mim,
existo mecanicamente
Quase não existo
Sou uma sombra
Estou sonâmbula
Transitando por um mundo sem vida
Tão diferente do que me percorria
quando eu era na madrugada!

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