27.9.07

ICHF CELEBRA 90 ANOS DA REVOLUÇÃO RUSSA


(Cena de "Outubro", de Eisenstein)



Os 90 anos da Revolução Russa estarão em foco durante os próximos meses no Instituto de Ciências Humanas e Filosofia da UFF. Além do ciclo de debates que está sendo programado para a primeira semana de novembro, dentre outras atividades, começa, já na próxima semana, uma mostra de cinema soviético, que integra a programação do Cineclube Galeria de Cinema, com exibições às quartas-feiras, às 13 e às 19h, na Galeria de Artes do ICHF (Campus do Gragoatá, Bloco O, térreo). A entrada é franca.
Na abertura, dia 3/10, os professores José Carlos Monteiro (Cinema) e Luiz Alberto Sanz (Comunicação) contextualizarão os filmes em debates sobre o cinema soviético, após as sessões de “Um homem com uma câmera”, de Dziga Vertov, às 13 e às 19h, respectivamente.
Serão exibidos alguns dos principais filmes de cineastas que revolucionaram a linguagem do cinema tanto do ponto de vista técnico como conceitual, seja através da câmera de Vertov ou da montagem de Eisenstein, construindo um cinema verdadeiramente revolucionário na forma e no conteúdo. Clássicos soviéticos como “A mãe”, de Pudovkin, “Terra”, de Dovzhenko, e “O Encouraçado Potemkin”, de Eisenstein, compõem a mostra.
“Outubro”, de Eisenstein, realizado em comemoração aos 10 anos da Revolução, volta à tela no dia em que se completam 90, dia 7/11, às 13h. No mesmo dia, às 20h, será exibido “Réquiem a Lênin”, de Vertov, uma homenagem ao líder soviético realizada 10 anos após a sua morte.
A mostra se encerra no dia 28/11 com mais um debate, após a exibição de “Traição na campina”, filme de Eisenstein reconstituído a partir de stills, imagens e frames que sobreviveram, já que as filmagens haviam sido interrompidas e quase todo o material filmado se perdeu.
Mais informações na página www.galeriadeartesdoichf.blogspot.com ou pelo e-mail galeriadeartes@vm.uff.br.
Segue abaixo a programação completa da mostra:

Dia 3/10, 13 e 19h
UM HOMEM COM UMA CÂMERA (1929), de Dziga Vertov
Debate após o filme:
13h: José Carlos Monteiro (Departamento de Cinema/UFF)
19h: Luiz Alberto Sanz (Departamento de Comunicação/UFF)

Dia 10/10, 13 e 19h
CÂMERA-OLHO (1924), de Dziga Vertov

Dia 17/10, 13 e 19h
A MÃE (1924), de Vsevolod Pudovkin

Dia 24/10, 13 e 19h
TEMPESTADE SOBRE A ÁSIA (1928), de Vsevolod Pudovkin

Dia 31/10, 13 e 19h
TERRA (1930), de Alexander Dovzhenko

Dia 07/11, 13h
OUTUBRO (1928), de Sergei Eisenstein

Dia 07/11, 20h
RÉQUIEM A LENIN (1934), de Dziga Vertov

Dia 14/11, 13 e 19h
A GREVE (1924), de Sergei Eisenstein

Dia 21/11, 13 e 19h
O ENCOURAÇADO POTEMKIN (1925), de Sergei Eisenstein

Dia 28/11, 13 e 19h
TRAIÇÃO NA CAMPINA (1935-37), de Sergei Eisenstein
Debate após o filme.

17.9.07

+ da série poemas refeitos

quando te encaro olhos de precipício
você me diz pule
eu me dispo


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meu útero abriga uma saudade
que vai crescendo com os meses
como um feto em gestação
q
ue nunca nasce

15.9.07

DESPERTA

parece tudo tão banal
todos com seus sorrisos de superfície
em rostos de expressão vazia
nenhuma dor comove
a própria dor só dói em quem dói
a morte é um número
ou um espetáculo brutal
quando há requintes de brutalidade
arrastando corpos pelas ruas do rio
há o choque, há o espanto,
alguém se comove, alguém se move
aí vem um, dois, três casos a mais
e as mortes por arrastamento tornam-se também banais
como as balas perdidas, batidas, as bombas,
ou a eterna espera nas filas dos hospitais
e se a morte não mais comove
o que dizer da vida?!
essa vida que só há
em oposição à morte
porque respira
fora isso,
há vermes já nos comendo os corpos
urubus a bailar sobre nossas cabeças
estamos fechados como um caixão
paralisados sob a terra de apatia que nos cobre
mas aqui há a televisão ligada
e mais alguma distração
há shows de rock sem nenhuma indignação
aqui tem uma placa que diz sorria
e você sorri
simplesmente sorri
como se só lhe restassem os ossos
e a mandíbula por si só saltasse
largo sorriso de sono eterno
eu digo desperta!
e eu mesma odeio despertadores
como odeio alarmes
e trancas
sirenes
grades, blindagens, câmeras e fogos de artifício
mas como despertar se ainda não dormi?
meus olhos ardem ardor da noite adentrando o dia
doem a luz do sol na retina
e os sons de buzina e as britadeiras
zumbidos demais nos meus ouvidos
o choro da criança, o grito, o apito do guarda
e ainda tem um mosquito pousando seu som quando me deito
que vem me dizer desaforos
desaforos, como fosse eu o inseto!
você aí nesse edredom macio
e lá fora se treme de frio
e me diz que a culpa é minha – minha?!
mas que fiz eu, meu deus, pra esfriar a noite de alguém?!
eu, que não sou ninguém?! que fiz eu? o que não fiz?
o que não fiz que não aqueceu um coração
o que não fiz pra amaciar as almas
o que não fiz por aquele corpo estirado no chão
se estava vivo ou morto, não sei, eu passo
vai ver era um bêbado e o que eu tenho com isso?
não posso ser eu a catar da rua os cacos que eu não quebrei
eu mesma estou quebrada e quem me cata?
eu estou caída e quem me eleva?
os outros passam
vai ver sou uma bêbada e o que eles têm com isso?
cada um com seus cacos e todos viram farelo na poeira das ruas
farelo na poeira das ruas, é o que somos, farelo
mas o farelo..., o farelo com o vento voa
até o farelo ganha os ares!
e nós permanecemos pés fincados no abismo
tudo pesa demais sobre nossa leveza
quando virá um vento nos levantar? quando?
quando nos ergueremos do sono eterno?
ou poderemos, enfim, pousar a cabeça no travesseiro
ouvir da noite um boa noite
e dormir?

14.9.07

Hoje saiu o resultado do CONCURSO DE CONTOS NELSON RODRIGUES & AS TRAGÉDIAS CARIOCAS HOJE. Fiquei entre os 20 classificados que ganharão livros do Nelson. Mas o que eu queria mesmo era ficar entre os 3 primeiros, pra usar o prêmio em dinheiro pra bancar meu livro... Agora ele vai ter que esperar mais um pouco. Ainda bem que tem esse blogue pros textos não mofarem nas gavetas... Vai abaixo o conto que inscrevi no concurso:

DORME QUE OS SONHOS VÊM

Rita está em casa cuidando de sua filha de 3 anos e preparando o jantar. O marido chega, dá-lhe um beijo carinhoso, diz que chegou mais cedo do trabalho para ajudá-la a arrumar tudo para a visita de seus pais, que vêm para o jantar. Subitamente o chão some sob seus pés. Rita sente a velocidade da queda e a criança põe-se a chorar, suspensa no ar. Ela ouve o choro se afastar e tenta nadar para cima no vazio do abismo... Acorda assustada com porradas na porta.
Rita se levanta rapidamente e abre a porta. Canarinho entra como um furacão.

- Sabe que horas são?, pergunta.
- Heim?!
Rita ainda está atordoada.
- Hora de pegar no batente!
- Eu cochilei. Tive um sonho tão estranho...
- Não é hora de sonhar!
- Meus pais...
- Esquece seus pais!
- Eles vinham jantar...
- Vai se arrumar!
- Já vou, já vou.
Rita começa a trocar de roupa e se maquiar.
- Havia um chão que sumia... e eu estava caindo... tinha uma criança chorando... a criança era eu... e meus pais não apareceram...
- Só me faltava essa! Você não quer que seus pais apareçam agora para nos assombrar, né?! Termine logo com isso e vamos embora!
Seus pais não estavam mais lá. Haviam morrido há dois anos, quando Rita tinha 15. E mesmo quando estavam vivos, não estavam lá. Não como pais de verdade deveriam estar. Rita não tinha memória de seu pai sóbrio uma vez sequer na vida. Muitas vezes, encolhida no quarto, ouvia apenas os barulhos dos tapas. Sua mãe suportava calada. Certa vez não ouviu mais. Ele passou a entrar em seu quarto, mexer em seu corpo, e era ela quem agora calava. Com 10 anos seu pai a possuíra. E desde então, era sempre aquele horror, aquele bafo de cana, aquele corpo enorme e suado colado ao seu, aquela mulher calada no quarto ao lado. Nada podia ser pior do que aquilo! Sim, podia. E foi. Quando Rita tinha 13 anos, seu pai já acumulava dívidas exorbitantes de jogo e bebida. Seu Oséias mandou lhe cobrar, mas ele não tinha como pagar. Naquela noite chegou em casa com a cara toda arrebentada. E foi um alívio para Rita ele não ter entrado em seu quarto. No dia seguinte puxou a menina pelo braço:
- Hoje você não vai à escola.
A menina seguiu o pai pelas ruas sem nada compreender. Ele, então, bateu à porta de seu Oséias e lhe disse, apontando para a filha:
- Aqui está seu pagamento.
A mãe permanecia calada. Rita permanecia calada. Mas não podia mais suportar, além do pai, aquele velho nojento com quem tinha que se deitar. Até que conheceu Canarinho e os dois começaram a namorar. Passado um tempo, Rita resolveu contar a ele o que se passava. O rapaz foi tomado de revolta contra os pais da moça, mas o que ela poderia fazer? Foi então que os dois começaram a planejar tudo. A morte de seus pais. Nunca mais deitar-se com aqueles velhos nojentos! Nunca mais! Nunca mais ouvir ecoar o silêncio de sua mãe! Nunca mais! Canarinho comprou o veneno que Rita despejou no jantar. Naquela noite não teve fome e foi se deitar mais cedo. Naquela noite ninguém entrou em seu quarto.
Seus pais não estavam mais lá. Canarinho a conduzia pelo braço enquanto ela tropeçava nos saltos:
- Ei, vá mais devagar!
- Devagar é o caralho, tenho contas a pagar! E você já tá meia hora atrasada porque deu agora pra sonhar!
Chegam à Copacabana, onde um cliente já a aguardava.
- Desculpe o atraso. Taí a moça. Garanto que é material de primeira!
O homem entrega a Canarinho um maço de notas. Ele as folheia satisfeito.
- De primeira!
E vai se afastando.
Rita vai para a lida com o cliente que lhe foi destinado. Ainda pensa no sonho que teve, tentando visualizar algum significado.

13.9.07

A HILDA QUE VIROU ANJO

A Hilda foi minha orientadora no primeiro projeto da minha monografia. Depois mudei o projeto e a orientação. Mas continuei tendo por ela grande carinho e admiração. Só uma semana após a sua morte, recebi a notícia, por e-mail, na lista do Necine. Fiquei um minuto paralisada, lendo e relendo, tentando entender se era mesmo da Hilda Machado que se tratava. Infelizmente era. Só depois soube que foi suicidio. Outro espanto. Um tempo antes tinha escrito um poema descrevendo um suicidio assim. Quero agora dedicá-lo a ela, onde quer que esteja, seja um leve anjo a voar sobre nossas saudades...




O anjo do 18o


para Hilda Machado
Um anjo despencou da janela do 18o andar
O anjo se atirou da janela, porque anjos sabem voar
O anjo nem disso adeus, pois sabia que ia voltar
Deixou um disco na vitrola
a garrafa de vinho pela metade
três cigarros no maço
e saudade