28.6.08

INVENTOS RAIOS E TROVÕES

Lançamento do meu primeiro livro de poesias, "Inventos raios e trovões":

Dia 1º/07, terça, às 24h, no Corujão da Poesia, Livraria Letras e Expressões do Leblon.

De 2 a 6/07, na Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP)

E depois eu marco um em Niterói...

23.6.08

EPITÁFIO


+ 19/03/2008 – 07/06/2008
AQUI JAZ MEU CORAÇÃO
De tanto apanhar, parou de bater.

DANÇA COMIGO?



para Tico Santa Cruz*

me fode, eu sopro no teu ouvido
ao passar por você como se nada tivesse acontecido
o som alto, as luzes, o movimento dos corpos dançando
tudo te confunde
você não tem certeza
me fode, eu volto pra pista com a cerveja
você me olha e eu me faço de desentendida
a minha dança é sexo contido
tesão que escorre por todos os poros
a blusa é bem fina e você pode ver
os bicos dos seios apontados pra você
eu te olho, te encaixo na dança
a perna entre as tuas, o movimento, os corpos colados
você sabe que eu tô sem calcinha
molhada de suor e desejo
você sabe que eu sinto teu pau pulsar por baixo da calça jeans
eu sinto ele duro com a minha coxa
meu hálito quente no teu pescoço
tua mão firme na minha cintura
é só uma dança?
a pista tá cheia, ninguém tá olhando, me toca por baixo da saia
agora sente como eu tô molhada
eu te agarro as costas e você ouve a minha respiração cortada
me fode, eu falo bem claro, quase uma súplica, quase uma ordem
eu busco a tua boca, eu lambo a tua língua, eu mordo o teu lábio
eu puxo a tua mão
agora a gente já tá no banheiro
eu abro a tua calça de joelhos pra sentir teu pau com a boca
vai, agarra meu cabelo, empurra a minha cabeça, me chama de puta
mais alto, mais alto, eu quero teu gozo mais forte que a música bate lá fora
não ainda...
me puxa pra cima, agarra meus seios, desliza tua língua, me sobe na pia
dança tua língua no grelo, enfia lá dentro os teus dedos
eu agarro os teus cabelos e gemo mais forte
encharcada de suor e desejo
me vira de costas, me encara no espelho
me fode, eu já quase grito, mas longo engasgo no gemido
teu pau entra todo na minha buceta
a música bate lá fora, você aqui dentro, é tudo um só ritmo
um hit mixado de gemidos, música, luzes, movimentos, reflexos no espelho,
toque, gosto, cheiro, pele, banheiro, suor, tesão, desejo, eu prendo a respiração e...
vai, vai, vai, vai, vai....ah... ahh... ahhh... ahhhhhhhhhhhh...
a música pára de tocar, o banheiro some, o mundo inteiro desaparece
só nossos olhos se encontram no espelho
e sussurram um único brilho

- dança comigo? ei, tô te chamando pra dançar comigo

* Sobre a dedicatória, é bom esclarecer: não é uma experiência vivida, uma cantada nem um convite para uma trepada. Dediquei ao Tico em resposta a um texto do blogue dele, e à sua provocação para um concurso de textos eróticos lá, o que me motivou a escrever este. Segue o link do dele:
http://bloglog.globo.com/blog/post.do?act=loadSite&id=8130&permalink=true

22.6.08

o solo que brota, a asa que nasce

para Marcela, Fernão e Maysa
e todos os meus amigos

gosto da companhia de amigos
homens, gosto
dos que me fazem gozar, dos que me fazem amar
dos que me fazem sofrer e escrever um poema
também gosto
menos
mas gosto mesmo é de amigos
amigos não estão sempre bem
não estão sempre sorrindo
não estão sempre de acordo
não estão sempre falando o que você quer ouvir
mas estão sempre
sempre, sempre, sem qualquer condição
estão sempre lá
estão sempre aqui
estão sempre tão perto mesmo longe que lá e aqui parecem se fundir
amigos são sempre que não importa o que haja
você nem precisa falar
amigos se comunicam no olhar
amigos se olham nos olhos
amigos não desviam
são seis sentidos te sentindo
seis sentidos te fazendo sentir
sentidos atentos a todos os seus sentimentos
amigos não são pai e mãe não mimam nem cobram
amigo não precisa fazer nada
basta estar ali
você sabe e isso te acalma norteia deságua
você sabe e isso basta
amigo é o solo que brota sob os seus pés
quando você pisa o abismo
amigo é a asa que nasce nas suas costas
quando você nada para o precipício
amigo é a rede que te ampara numa acrobacia aérea
em qualquer queda
e antes mesmo da queda
é seu ponto de equilíbrio
e é só por saber
saber tão forte com todos os sentidos
que eu tenho amigos
é só por isso
que eu me jogo...
(se não fossem os meus amigos
eu jamais saberia o que é voar
quando pensava estar caindo...)

19.6.08

Paiol Cultural e Corujão nesta sexta em Niterói

CELEBRAÇÃO DA ARTE EM NITERÓI

PAIOL CULTURAL

O próximo dia 20 de junho será marcado pela terceira edição do Paiol Cultural. Ao unir dança, teatro, música, cinema, exposições e poesia, o Paiol busca integrar todas as artes, permitindo ao público comunicar-se com elas e, da mesma forma, divulgar a produção das cidades de Niterói e São Gonçalo.
Assim como as edições anteriores, que ocorreram em 16 de dezembro de 2007 e 30 de março deste ano, o Paiol contará novamente com a presença da Banda Mãos Calejadas, do grupo Os Ninguém, do comediante João Sena, do poeta Anísio Aguilar, dentre outros artistas. Também continua nesta edição a parceria da Editora da Universidade Federal Fluminense (EdUFF) com o evento.
Entre as revelações que serão apresentadas estão os poetas Fábio Santana e Larissa Mitrof. Porém, a grande novidade do terceiro Paiol será a inclusão de uma forma de expressão que não esteve presente nas edições anteriores: o cinema, representado pela apresentação de diversos curtas metragens.
O Paiol Cultural começará às 19 horas na Galeria de Artes do Instituto de Ciências Humanas e Filosofia (ICHF), bloco O, no campus Gragoatá da Universidade Federal Fluminense (UFF). O evento é bimestral e a entrada é franca.

Serviço:
Dia: 20 de junho
Hora: das 19 às 22h
Onde: Galeria de Artes do Instituto de Ciências Humanas e Filosofia (ICHF), bloco O, campus Gragoatá da UFF. Pça. Leoni Ramos, s/nº - Gragoatá, Niterói.

Mais informações:
Paiol Cultural
Ana Caroline Chaves(21) 96296925
Jéssica Santos (21) 81962015
E-mail:
paiolcultural@gmail.com
Site: http://paiolcultural.v10.com.br

PROGRAMAÇÃO:

MÚSICA
Os Ninguém

Lançamento do CD de Cidel Trindade

POESIA
Lisa Ster Coy
Fábio Santana
Larissa Mitrof
Anísio Teixeira
Beatriz Provasi

DANÇA
Jennifer Santos
Clarissa
Aline

TEATRO
Stand up Comedy - João Sena

ARTES VISUAIS
Cinema - Curtas

CORUJÃO PARATODOS

Nesta sexta-feira (20/06) NITERÓI tem CORUJÃO. A partir das 20h30 até às quatro da madrugada, vamos ter a Segunda Edição do "Corujão Paratodos-Universo da Leitura", no Teatro Paratodos e seu magnífico terraço, no Lido Center, na Praia de São Francisco, sobre-loja, entrada franca, bem ao lado do Conversa Fiada. O evento tem palco e microfone abertos para quaisquer pessoas que tenham vontade de expressar os seus talentos ou de descobrí-los. Teremos as homenagens aos 120 anos de nascimento do Poeta Fernando Pessoa e leitura de de textos do Livro "Cartas de Amor", de Beth Orsini. No mais é com você: apareça e mostre o seu trabalho. Na coordenação do projeto estão Betina Kopp, Beatriz Provasi, Renan Veloso, João Krain, Vinícius Figueiredo, Laura Cravo e na curadororia João Luiz de Souza, Ernesto Chini e Paulo Beto. Uma noite de muita arte e cultura. Ah, para quem estuda ainda vale como carga-horária de atividades extra-curriculares.

18.6.08

NÃO ACORDAR

tem dia que a gente não quer acordar
tem dia que é sempre noite, é sempre escuro
tem dia que eu olho tudo com a vista turva
quero fechar os olhos, tapar os ouvidos, esquecer...
esquecer a falta de cuidado, a desatenção
esquecer a mágoa sentida, a mágoa causada

apagar as carícias trocadas
que a mesma mão que acaricia bate
e é ainda a mesma que acena tchau
mas não houve sequer aceno
houve um evaporar-se
deixando o ar carregado
houve um liquidificar-se pesado
nas lágrimas do carro
chorando pneu pelo asfalto
na pressa de não acordar
dormir relaxa os músculos contraídos do rosto
do desespero, desesperança
dormir apaga a memória por algumas horas
não quero acordar
eu durmo de olhos abertos
estou amortecida, anestesiada
estou cercada de nada pelos cantos da casa
não consegui fugir, não consegui ficar
resto abandonada no meio do caminho de nenhum lugar
no meio do caminho de vocês, sem saber voltar, sem poder seguir
eu já acordei e não sei levantar
não consigo ficar em pé, não tenho equilíbrio
não tenho onde ir, não tenho porque caminhar
quero voltar a dormir, mas não me dopo
quero mais que tudo te odiar!
tirar do ódio a força pra me erguer
mas a mágoa é maior que o ódio
a tristeza é maior que o ódio
a solidão é maior que o ódio
o desamparo é maior que o ódio
tenho sono de viver
quero um dia simplesmente acordar
sem nenhuma lembrança de você
você nunca vai saber o gosto das minhas lágrimas
você não pode prová-las

13.6.08

Poemática faz São João em ritmo de Poesia


O evento “Poemática – A indisciplina da poesia” encerra as atividades do primeiro semestre em clima de festa, dia 25/6, quarta-feira, a partir das 19h, na Galeria de Artes do ICHF. Com o tema “Viva São João! – Festa da Poesia Popular Brasileira”, terá como foco a literatura de cordel e outras manifestações poéticas populares, poesia das ruas, das praças, da vida, do dia-a-dia... Além de ritmos regionais, forró, decoração, traje típico e tudo que compõe o clima das tradicionais festas de São João.
Iniciado em março deste ano, o Poemática acontece toda última quarta-feira de cada mês, sempre com um tema diferente, convidados especiais, palco aberto para manifestações do público e entrada franca. Este mês terá como convidados os integrantes do grupo de poesia Ratos di Versos (Carluxo, Dalberto Gomes, Daniel Soares, Dudu Pererê, Juliana Hollanda e Marcelo Nietzsche), a atriz Ivny Matos, o cordelista Ovídeo Pereira, os poetas Felipe Cataldo, Flavio Nascimento, Marcelo Girard, os músicos Elma Alegria, Gustavo Saba, Paulo Roberto Chumbinho e o grupo Mãos Calejadas. Os coordenadores Bárbara Araújo, Beatriz Provasi, Betina Kopp, Fernão Monteiro, Marcela Giannini, Maysa Brito e Pierre Crapez puxarão a quadrilha poética, tirando a poesia para dançar... O correio do amor especial receberá mensagens em versos, e quem for à caráter ganhará crédito na barraca do beijo!
A Galeria de Artes do ICHF fica no Campus do Gragoatá da UFF, Bloco O, térreo.
Mais informações pelo e-mail
galeriadeartes@vm.uff.br ou na página www.galeriadeartesdoichf.blogspot.com .

11.6.08

Lançamento INVENTOS RAIOS E TROVÕES


Eis a capa do meu primeiro livro de poesias, que vou lançar independente, durante a Festa Literária de Paraty. Vai ter 28 páginas, e custar R$10,00. Serão apenas 50 exemplares. Reserve já o seu!

9.6.08

Dia dos Namorados - quem se importa?

Beijos apaixonados?
Casaizinhos melosos caminhando de mãos dadas?
Jantar romântico? Japonês? Luz de velas?
Juras de amor? Flores? Bombons? Presentinhos?
Sexo com amor? Carinho? Colo? Dormir junto abraçadinho?
irgh...
É como ir com a família aos domingos no jardim zoológico dar pipoca aos macacos, e como dizia Raul Seixas, eu acho tudo isso um saco!
Mas como eu também não me sento no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar, vou passar o dia dos namorados fazendo uma das coisas que eu mais gosto: falar poesia!
Vou reunir os meus mais trágicos poemas de amor de todos os tempos e mandar de uma só vez como que para bombardear a data! Arrancar lágrimas aos solteiros e desespero aos casados, promover uma verdadeira catarse coletiva! E foda-se o dia dos namorados! Acho mesmo um saco, e que eu me lembre nunca fiz programinha idiota de dia dos namorados nos meus tempos de "casada".
Ano passado eu tava namorando, e me reuni com outro casal de amigos pra ver filmes do Woody Allen! Foi divertido! Nada romântico, nesse sentido piegas que se usa o termo. Eu sou romântica, mas ao meu modo, muito particular.
No ano aterior é que foi foda, eu tava namorando e terminei no dia dos namorados, porque o meu amado simplesmente se recusou a atravessar a poça pra me encontrar porque estava chovendo, e ele se achava feito de açúcar, mas não foi tão doce comigo. Porque eu podia atravessar a pé, enquanto ele me aguardava com seu carro na garagem! Bati o telefone e tchau. A história não terminou aí, mas não vem ao caso, o que vale é a experiência do dia. E asseguro que não foi legal. E depois dessa, nunca mais essa data me deixa mal. Prefiro estar solteira. Como diz minha amiga-parceira Juju num dos seus mais belos poemas: "úteros não se acomodam com uma companhia displicente do lado"! E também tem aquela máxima, antes só do que mal acompanhado! Menos poética, mas ainda assim muito adequada.
Eu queria estar namorando, não por estar namorando e não ficar sozinha no dia dos namorados, porque eu faço até um draminha de brincadeira, mas isso de fato não me incomoda. Eu queria estar namorando por amar alguém que eu queria ter sempre perto, que jantasse comigo, que dormisse comigo, me acordasse com sexo. Mas esse alguém já tem com quem comemorar a data e por incrível que pareça (ou pra parecer superior!) eu lhe desejo felicidade.
Ah, mas ele também será lembrado nos meus poemas trágicos, vou falar um pra ele, um pro meu ex-namorado do dia D que na hora H me deixou na mão, e um para todos os ausentes, os que se foram e os que não virão. Acho que vai ficar bacana, não?! Isso pro evento da tarde, Um Brinde à Poesia, das 15 às 17h, no MAC, que comemora 9 anos, coordenado por Lucília Dowslley. À noite eu encontro com os Voluntários da Pátria pra falar poesia no desfile da DASPU. Aí não vou decidir antes o que falar, porque com eles vale mais sentir a dinâmica na hora. Mas também não quero deixar barato não! Tenho trágicos em vários estilos, de vários tamanhos, pra vários gostos, todos na ponta da língua, e lá eu vejo o que melhor encaixa. Depois ainda tem a opção Ratos di Versos na Lapa, e aí vale rasgar até o último fio de alma... Vou falar poemas pra todos os meus ex e onde quer que eles estejam vão sentir a orelha queimar!!!... hahahahaha (credo! que horror! pareço uma louca vingativa! sendo que com a maioria fui eu mesma que terminei...)
Tudo isso foi só pra dizer que estarei muito bem acompanhada no dia dos namorados, entre amigos e poesia, entre arte e boemia! E no final das contas, quem não tem gato, caça nos ratos!...
não quero mais falar de tristeza
alguém me disse que o que escrevo é dolorido
então é isso?
não! essa não sou eu
é claro que eu choro - e quem não?
mas também me divirto muito, e dou risada, e danço e gozo loucamente...!
é que tem aquela música que diz que pra fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza
é isso. gosto de escrever quando estou triste
e acho que às vezes consigo tornar a tristeza algo belo
então tá bom, ela serviu pra alguma coisa ao menos
mas quando eu tô feliz pra que eu vou perder meu tempo escrevendo?
quando eu tô feliz, eu ando rindo por aí...
se eu tô feliz agora? bom, não estou chorando
também não estou rindo por aí
mas ontem eu ri, e dancei, e bebi, e gozei
não acordei feliz
acordei sozinha
mas não estou chorando
e não quero mais escrever coisas doloridas
quero escrever só palavras gostosas
chocolate, sexo, paixão, liberdade, o nome dele
o nome dele é gostoso de falar
mas não quero falar nisso agora, porque também é triste
vou falar o meu nome: beatriz
adoro o meu nome
chico buarque também
ele me fez uma música tão linda e eu nem agradeci ainda
mas um dia vou ensiná-lo a não andar com os pés no chão
eu não ando, como vocês podem ver
é agradável pisar nas nuvens, parece algodão
você também pode arrancar um pedaço e comer
aí vira algodão doce
a visão daqui de cima é bem legal
tudo parece tão pequenininho
parece caber na palma da mão
aliás, a minha linha da vida é muito longa
acho que ainda vou viver muito e escrever muitas coisas tristes
e dar muita risada por aí...
mas agora não
agora eu quero ver o mundo daqui de cima, pisando algodão, fora da gravidade
tem dias que o sol nasce pra mim
tem dias que eu tenho certeza que ele só nasceu pra mim
eu vejo muito pôr do sol, nascer é raro
e quando ele nasce pra mim é sempre único
hoje ele não nasceu pra mim, mas eu vi o dia amanhecer
outro dia ele vai nascer pra mim e eu venho contar como é
não quero falar do sol
essa coisa de girar em torno dele me deixa tonta
meu sol é aquário, o ascendente é áries
é ar com fogo, o ar expande o fogo, uma coisa de louco!
fogo é sempre intenso, para o bem ou para o mal
eu gosto de intensidade
por isso que eu sofro até a última gota de lágrima cair espremida do canto do olho
mas também rio alto, pro rio inteiro ouvir
agora eu tô falando baixo, só tem uma brasinha queimando
mas e daí?
a noite é agradável, eu gosto de silêncio
eu e o barulho das teclas
resolvi que vou me presentear no dia dos namorados
vou me dar vários presentes, porque eu sou várias e todas me amam
já tem tempo que eu quero um cd da dolores duran, um da edith piaf e um livro da bruna lombardi - vou me dar os três de uma só vez!
no dia dos namorados eu vou falar poesia em dois eventos, um à tarde e um à noite
acho que também vou me dedicar poemas
vou me escrever uma carta de amor
aliás, vou começar agora mesmo
é uma coisa muito íntima
de mim pra mim mesma
então, com licença

5.6.08

além das margens... (o não)

tem hora que bate um vazio tão grande
é inútil tentar exprimir em palavras
porque vazio é ausência
é silêncio
é o não dito
o não escrito
o não
palavra é sempre sim
mesmo negativa
é o sim da negação
não é a falta de que consiste o não
mas a gente que é poeta
transforma tudo em sim
vazio é o cheio que vazou
ausência é presença que escapou
solidão é o terem ido todos embora
palavra é companhia
presença que enche o espaço
por isso essa ânsia de escrever
quando parece não termos nada a falar
eu não tenho mais nada a dizer
tudo já foi dito
as entrelinhas me fogem
mas eu leio teu corpo
a ausência do teu corpo
tuas pernas que te levam pra longe de mim
teu ombro que some quando o quero travesseiro
tuas mãos que deixam vazias as minhas
o eco distante da tua voz que não me deixa dormir
(não sei dormir sozinha)
distância é a entrelinha entre eu e você


a gente pula muitas linhas


pouco se diz


a folha acaba


e eu sei que tudo o que eu preciso
é virar a página
e numa folha em branco
nela toda
não escrever seu nome
em nenhum canto

mas eu insisto em rabiscar as margens...

talvez deva largar o caderno num canto
não virar a página, e sim fechar
largar o resto todo em branco
esquecer no sótão
lembrança perdida em meio a tralhas abandonadas
andar em branco até que alguém resolva colorir
procure o caderno cuidadosamente
abra
e escreva um capítulo todo novo
é disso que eu preciso: andar em branco
acho que já estou caminhando
por isso o vazio
essas linhas que escrevo já são falhadas
são a tinta acabando...

2.6.08

















o gosto do vinho
o som do jazz
o mundo aos nossos pés
tudo ao alcance das mãos
idéias rolando pelo chão
carências se dissolvem sob a chuva
a gente rege a tempestade
direciona cada raio
de olhar
magnetiza a existência
eterniza o instante em versos
o imprevisível fluir de cada gesto
a fumaça sumindo no ar
a cadeira suspensa que gira
o som do pensamento
inevitável deixar-se ir
corredeiras da alma
simplesmente sentir
sem medo de errar o alvo
gosto dessa calma
de estar aqui
com fome de tudo
e a certeza de poder esticar o braço
e alcançar a fonte
entregar o ouro
e fincar raízes no impossível
quando acabar a gravidade
vamos plantar sementes
na imensidão

gean queiroz e beatriz provasi
domingo chuvoso, no inverno do rio de nós dois