27.2.12

OS LADOS DA CAMA

minha cama
subitamente
perdeu os lados
ela é toda um meio
onde eu me afundo
atravessada
entre tantos travesseiros
perdeu os lados
e tem um abraço infinito
repouso para todos os cansaços
a cama inteira, sem lados
grande demais para o meu corpo
pequena demais para a solidão
que insiste em ocupar todos os lados e meios
edredons, lençóis e travesseiros...
espaçosa, me empurrando
me descobrindo os pés
me deixando
subitamente
encolhida
como se a cama
tão inteira
não fosse minha

AQUELA CASA EM JURUJUBA

Minha casa em Jurujuba desmoronou
E eu nunca tive casa em Jurujuba
Todas as minhas casas
sempre foram castelos de cartas
feitas sob medida pra qualquer vento levar
A casinha em Jurujuba era de pedra,
tinha muro, um fila brasileiro latindo no portão,
banho de mangueira na varanda,
criança jogando bola na calçada.
Era simples, e era feliz.
E desmoronou no primeiro vento.
A casinha em Jurujuba tinha um casal de velhinhos briguentos,
como todos os casais são.
Tinha um amor infinito e sincero.
E desmoronou.
Olho para as pedras que eu carregava
na construção da casa
sem saber o que fazer com elas.
Não são mais como as cartas dos meus castelos.
São pesadas
e grandes demais pra esconder debaixo do tapete da sala.
Olho para as pedras no meio do caminho da minha casa desmoronada
Sozinha, não tenho forças para retirá-las
Permaneço parada, olhando as pedras, contando as perdas e os estragos.
Parada com o coração na mão, sem saber o que fazer com ele.
Querendo deixá-lo no meio da estrada, junto com as lágrimas, no lugar das pedras.
Carregar as pedras no peito.