28.4.08

poemática

p/ os Voluntários da Pátria

poetas do mundo, uni-versos!
enquanto homens se travestem de máquinas
cálculos, matemáticas
nós instauramos a poemática
a indisciplina da poesia
contra tudo o que disciplina
contra tudo o que freia e atrofia
contra tudo o que compra e vende
contra tudo o que domina, depende
e ainda mais alto que os “nãos”
nós cantamos os “sins”
como sinos intermitentes
nessa igreja que congrega a gente
mas não somos fanáticos
não somos lunáticos
embora, sim, uivemos pra lua
uivemos pra rua
uivemos pros becos, pros gatos, cachorros, pros lobos
porque quando um poeta uiva aqui
mais pra lá outro uiva também
e ainda um outro uiva além
e todos ouvem
e aí percebem que é lua cheia

e que isso é mais importante que os valores da bolsa
porque isso é humano
e os universos dos poetas
seus versos unos
os seus “uni-vos”
seus uivos incontidos
que fazem descer lá do céu
e pousar no chão da realidade
o de que o homem mais precisa
nesse mundo controverso
um pouco mais
de humanidade

26.4.08

Porquinho-da-Índia

Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele pra sala
Pra os lugares mais bonitos, mais limpinhos,
Ele não se importava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...
- O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada.

Manuel Bandeira

22.4.08

Atrás da Lola

para o Felipe e seus olhos que não me vêem

Folhinha Verde, 1987.
Quando eu tinha 6 anos, tinha 3 garotos apaixonados por mim. Um era um anjinho de história em quadrinhos, seus cachos loirinhos, os olhos azuis, e seu ar doce, tão doce que me causava enjôo. O outro era um gordinho desbocado. Desbocada eu também era, mas ele era estúpido e mal-educado, um protótipo do playboy que deve ter se tornado (eu o achava parecido com o Brutus da Olívia Palito). O outro era um menino chamado Felipe que eu chamei namorado. Tinha cabelos castanhos, lisos, olhos expressivos, era bem parecido comigo. Foi dele o meu primeiro beijo, atrás da Lola, no recreio. A Lola era um elefante cor-de-rosa com laço de fita plantado no pátio. A tromba era o escorrega. Foi um beijo com a mão na frente da boca. Mas eu nunca me esqueci daquele beijo atrás da Lola, com gosto de pacto, de segredo. Meu primeiro namorado. A gente terminou a alfa e ia fazer prova pra mesma escola. Ele não foi, não fez a prova. Eu fiz, passei. Nunca mais o vi. Foi minha primeira decepção amorosa. Acho que ainda carrego a sua ausência comigo. Sequer pude tê-lo como amigo. Nem pude odiá-lo. Ele simplesmente desapareceu da minha vida, como se jamais tivesse existido.
Passaram-se 10 anos até que eu elegesse um novo namorado, e eu nem o amava. O tempo passou, namorei outros caras, amei, fui amada. Fui mais amada que amei, sempre rejeitando anjos e homens brutos. Sempre buscando aqueles olhos castanhos, expressivos, sinceros como o olhar de uma criança, espertos como uma criança esperta. Sempre com medo da solidão, sempre essa ausência. Tenho a impressão de nunca mais ter levado ninguém pra trás da Lola, para um beijo com a mão na boca. Hoje faço sexo no pátio aberto, no trepa-trepa, na gangorra, na montanha russa! Mas aquele cantinho escondido atrás da Lola ninguém mais conhece. E ninguém nem percebe que é lá que eu estou escondida, aguardando um beijo, apenas um beijo. Um beijo inocente com a mão na frente. Um beijo de amor.
Você me lembra o Felipe. Não o beijo. Mas os olhos. A ausência.

Voluntários da Pátria no Poemática


vídeos, fotos e release em www.galeriadeartesdoichf.blogspot.com

21.4.08

Madame Kaos no Geringonça

Dia 24/4, a partir das 17h, no SESC Tijuca.

20.4.08

E ainda tem...

Dia 25, às 19h, Ateliê Performático na Urca:


E às 21h, Filé de Peixe na Lapa:

13.4.08

CASA DE AUSÊNCIAS

para todos eles, os que se foram, os que não virão

sala de estar
de ser
sala de jantar
incandescente de velas
salas de esperas
um quarto
dois quartos
três quartos
nenhum inteiro
chuveiro com água quente
blindex
vapor no vidro
um nome escrito
nada falta no banheiro
cozinha com sugar
toda equipada
alarme de incêndio
e ninguém pra incendiar
jardim de inverno
em qualquer estação
faz frio no inverno
lareira no escritório
pouco esquenta
mas queima
fotos, cartas, poemas
e livros proibidos
varanda com vista
pro sol poente
é sempre noite quando se olha em frente
há também um jardim lá fora
todo plantado com girassóis
uivando pra lua
parquinho, casa de bonecas, contos de fadas
casinha de cachorro
com sapos de estimação
garagem pra cavalos brancos
apinhada de abóboras podres
estufa de plantas carnívoras
lago de jacarés
labirintos
muro de eras
lá dentro, lá fora, aqui dentro
em todos os cômodos
o mesmo incômodo
uma ausência
uma espera

12.4.08

"peixinhos embarcam na minha ressaca"

Eu, Juju e Marcela: Madame Kaos no Iceberg!

Foi ótimo o lançamento da Juju! Quer dizer, na verdade, eu chegei no final. Mas estavam todos lá, e a gente foi comemorar no bar, e a gente fechou o bar, e foi pra outro, e o dia amanheceu, o iceberg derreteu, meu carro virou abóbora...! Acordei hoje com uma puta ressaca! Mas tudo bem. A ocasião merecia muitos brindes e aí, não tinha jeito, depois de brindar tem que beber, né?! E mais brindes virão... Terça-feira, homenagem à Juju no Corujão! Eu e o engov estaremos lá! Até.

6.4.08

E o Iceberg acorda...

Falta pouco!... A imagem ficou pequena, então lá vão as informações:
Lançamento do livro ACORDEI NUM ICEBERG, de Juliana Hollanda, dia 11/04, a partir das 19h, na Casa França-Brasil.

São coisas lindas assim que a Juju escreve:

um dia eu acordei tão triste. sem a possibilidade de você. tão... triste.
tão triste que ao invés de chorar, sorri. tão nada que na impossibilidade de te achar, parti. tão longe que sem sapatos, sentei. tão idiota nem sequer pensei em voltar para onde te perdi. tanto frio que sem lençóis, congelei na praça. tão lua que sem calefação fotografei ruas.

sem passos que na areia deixei pegadas e peles do pé.
adormeci no desmaio da noite.
sem chão,
sem fim...
para morrer em paz
sem a paisagem que me faz ser vida.

E é pra ela que escrevem coisas lindas assim:

dona jupyholanda
acordei com você hoje
tretando no pensamento
tramando rimas e versos

diva dos ratos diversos
antena da raça autóctone
jambete transfigurada
na noite noturna da lapa

jupyjujuba de jurujuba
minha geléia de almíscar
meu toddinho de jasmim
meu bolinho de aipim

dona jupyholanda
muito além da trapobana
fiapo de desconserto
juju teu nome paixão.

desse um que i love you

chacal

4.4.08

como é que se arruma isto?!...

minha vida anda espalhada como a roupa sobre a cama
vem passada e vai amarrotando, vem limpa e vai sujando
eu separo tudo o que é sujo, levo pra fora
mas ela volta
venho corrida da poeira da cidade
com todas as suas impurezas
ainda impregnadas na minha carne
a roupa fica sobre a cama
estampando a bagunça que está em mim
misturando a sujeira que eu trago com tudo o que eu tenho lavado
não foi sempre assim
minha vida já foi mais reta, minhas roupas na gaveta
hoje eu olho à minha volta
e estaco
não sei por onde começar
minha vida não cabe nos armários
das gavetas saltam poemas que não podem ser guardados
os sapatos misturados trazem a marca dos meus passos
tão embaralhados
que não sei mais por onde ando
tantos papéis na mesa
tantos papéis na estante
me cerco de tantos papéis
que já não sei qual é o meu
o quarto eu arrumo, eu sei
mas e essa coisa toda que se acumula em mim?
o que é limpo, o que é sujo, o que eu posso ou não devo jogar fora?
eu sou a cama em que eu não durmo
uma cama de coisas acumuladas que me fazem restar acordada
essa cama, essa estreita cama de solteiro que nem serve aos amantes
desconfortável, dura, cama de pregos, colchão d’água estourado, vazando pra tudo que é lado...
queria ser cama larga, macia, acolhedora,
cheia de calor nos pés e leveza nos travesseiros
queria piscar os olhos e ver tudo arrumado no quarto de um segundo
os desejos bem acomodados na gaveta das calcinhas
os sonhos macios perfumando as camisolas
um caminho certo repousado nos sapatos
decisões corretas alinhadas nos cabides
alegrias penduradas nos vestidos de noite
certezas, muitas certezas, todas limpinhas, bem dobradas, completando as gavetas
e um poema, um único poema, definitivo
me aguardando pronto sobre a mesa.

3.4.08

Não arranhão: soco seco no fundo da gente.
Não dor, não mágoa: uma tristeza molhada,
borrada de tanta possibilidade desfocada,
não concretizada,
de tanto porvir que não veio, que não vem
e será quando que virá meu deus?!


Um aperto forte sufocante,
abraço de polvo que envolve, esmaga
e faz da gente polpa, massa disforme,
bloco mole de tristeza que despenca pesado no chão.


Tanta coisa bonita dentro e quem pra querer entrar?
Tanto canto entalado escapando desafinado da garganta
já desaprendida desse cantar,
a gente querendo se dar e quem pra ler essa carta, pra
abrir esse presente?


Quero também receber, ando cansada de ser só
rementente.

Maria Rezende, do livro SUBSTANTIVO FEMININO

1.4.08

H.E.R.Ó.I.S. (ou meu herói!...)

Agora que aprendi a postar vídeos, vou abusar!... Segue o vídeo da nova peça do meu amigo e maravilhoso ator e gostoso e tudo de bom Vinícius Piedade, H.E.R.Ó.I.S. Vocês vão ouvir falar mais dessa peça aqui, pq sou sua produtora na turnê Rio-Niterói. Segue um gostinho: (a degustação completa, em breve, nos melhores teatros...)



Agora, sim: Madame Kaos aqui!