30.11.06

Poeta oculto

Ontem teve Ratos di Versos e lá sorteamos o poeta oculto, uma idéia iluminada que eu tive desde a última edição do evento. Funciona assim: cada um escreve um poema dedicado à pessoa que tirou e no próximo Ratos di Versos no Beco dos Ratos, dia 13, cada um lê o poema que fez e o resto do pessoal tem que adivinhar pra quem é. Cada um faz um poema pra alguém e ganha um dedicado a si e todo mundo ganha uma confraternização de fim de ano bastante criativa! Legal, né?! Fica aí a idéia pra quem quiser copiar. Alguma coisa boa a gente tem que inventar nessa época infernal que é fim de ano às vésperas do Natal!

24.11.06

Os pentelhinhos e suas professoras encravadas

Não tenho a menor paciência com criança. Mas a verdade é que o problema não está na criança, e sim nos educadores. Os pais, mães e professores são todos uns imbecis que tratam as crianças como idiotas e de fato as idiotizam. Ok, ok, não são todos, tenho amigas professoras e amigas mães que são excelentes educadoras e conheço crianças que são seres humanos. Mas eu vivo em outro mundo, vamos combinar. Eu falava “caralho” muito antes de saber o que era um e as minhas Barbies todas trepavam e eram muito bem comidas pelos meus Kens. Nem por isso eu trepei cedo. Aliás, trepei até bem tarde pra minha geração. Agora onde já se viu uma professora retirar as crianças da sala de cinema e ir se queixar porque o ator pronunciou a palavra “viado” e “viado” é palavrão?! Ora, faça-me o favor! “Viado” só é palavrão nessas mentes deturpadas que acreditam que homossexualismo é doença, e, pior, contagiosa. Assim essa ilustre professora já começa a formar seres preconceituosos e homossexuais enrustidos no meio dessas crianças. É por isso que o mundo não evolui. Êta, gentinha medíocre! Se as crianças soubessem o quanto essa gente grande é pequena... Às vezes eu digo que eu não entendo de criança. Mas não! Eu não entendo é de adulto!
A cena descrita acima aconteceu durante o 1º Salão da Leitura de Niterói, numa das sessões de curtas que eu produzi. E olha que eu ainda me preocupei em organizar os filmes de acordo com a faixa etária do público! Imagine se essa mulher visse os filmes da noite... Ia ficar horrorizada com as cenas de sexo, já que há muito tempo não deve saber o que é isso, se é que algum dia soube, coitada.

22.11.06

Tatoo águia

Uma águia bate suas asas em mim
Quer pousar no meu ombro esquerdo feito tatuagem
Eu digo venha, tatue em mim sua liberdade
Ela passa por mim num rasante e se vai
Soprando um vento em meus ouvidos
A liberdade fica no ar

15.11.06

As asas dos suicidas

Não saberia dizer o que fazer para ser uma companhia verdadeira. Eu, de corpo presente, não estou aqui. Não nasci para completar ninguém. Cresci só fazendo aumentar minha incompletude. Tem gente que sabe, desde criancinha, o que vai ser quando crescer. Tem gente que tem sonhos inabaláveis e plenamente alcançáveis. Tem gente que até se julga feliz. Há mulheres que se julgam completas com marido e filhos. Eu nunca quis saber de carregar marido nas costas nem filhos agarrados às pernas. Tenho o ventre seco. Carregado de desejo. Mas oco. Um ventre feito para contrações sexuais, e não para gerar e guardar vida. Este vazio eu não quero preencher. Sou plena em minha incompletude.
Admiro os que se completam. Os que seguem o ciclo da vida sem muitas dúvidas. Os que crêem em Deus. Os que crêem na humanidade. Admiro os que crêem. E me solidarizo com os que duvidam. Os que duvidam, como eu, também não me são boas companhias. Os que duvidam, como eu, também se calam. Os que duvidam têm olhares traiçoeiros, têm olheiras, têm insônias, têm angústias, são instáveis, são péssimas companhias, são temíveis influências nefastas. Os que duvidam são infelizes e padecem de uma melancolia quase doce dos suicidas que só morrem porque não conseguem voar.
Eu gostaria de ser companhia para as pessoas que amo, de me sentir preenchida pelo amor que me dedicam. Mas o amor também tem seus grilhões e eu tenho medo de ser aprisionada. Então eu vôo com as asas negadas aos suicidas para bem longe daqui. Eu vôo com essa sensação de cair. Esse abismo sob os pés no chão.
Eu sequer posso me dizer má companhia, porque não chego a ser companhia pra ninguém. Os livros me fazem companhia, os filmes me fazem companhia, até peças de teatro me fazem companhia, mas pessoas de corpo presente, não. Pessoas de corpo presente são muito abruptas e imprevisíveis. Pessoas me assustam e me fazem me recolher em mim. Talvez seja por isso que eu goste tanto de arte. A arte é uma mediação entre as pessoas e eu. Entre o escritor e eu, há o livro. Entre o poeta e eu, o poema. Entre o ator e eu, o personagem. Entre o cineasta e eu, há imagens projetadas na tela. Entre o músico e eu, há a letra e há a melodia. Entre o artista e eu, há a arte. E é ela que sempre me acompanha e pra quem me entrego inteira.
Entre mim e você, há este texto, há esta tela. Mas te asseguro que aqui eu sou inteira como não me verás em lugar algum. Aqui não tenho medo de beirar o ridículo com essa minha mania de escrever umas baboseiras piegas pra caralho só pra exorcizar meus demônios quando me pego melancólica numa noite qualquer. Aqui, e somente aqui, eu posso ser uma companhia (boa ou má, pouco importa) para você que me lê. Escrever é dar um drible na solidão, mesmo que o passe saia errado e o gol seja impedido. Acho que é isso. E não há mais o que eu possa fazer para ser uma companhia verdadeira. Eu, de corpo ausente, estou aqui.

11.11.06

A Inocência d'Os Satyros

Sábado passado tive a oportunidade de ver uma montagem do grupo de teatro Os Satyros em São Paulo: "Inocência", da dramaturga alemã Dea Loher, com direção de Rodolfo García Vázquez. Poderia aqui discorrer sobre uma série de efeitos que engrandeceram o espetáculo, sobretudo as projeções de variados ângulos sobre as mais inusitadas telas (inclusive um guarda-chuva aberto) interagindo com a cena. Mas não. Apesar de à primeira vista os efeitos visuais e sonoros utilizados chamarem a atenção para a criatividade da montagem pela variedade de combinação de elementos cênicos, uma semana depois, não é isso o que fica.
O que fica?
Uma angústia.
Uma angústia que se planta na garganta durante a peça e lá permanece se fazendo cada vez mais sentida. Porque a falta de perspectiva daquelas personagens é a nossa falta de perspectiva. São personagens que se encontram em situações sem saída. E que nem a sorte de encontrar dinheiro pode lhes trazer conforto para as suas necessidades e desejos. Há os que não encontram sentido na vida e se suicidam. E os que permanecem vivos, de que adianta? Estão mortos por dentro. E o angustiante é perceber o quanto deles há em nós. O quanto vamos sendo amputados aos poucos como uma das personagens, só que não fisicamente, vamos tendo a alma amputada e vamos levando a vida em frente ou seja lá na direção que for por força do hábito, mesmo que nosso desejo seja mandar tudo pelos ares.
A peça é de uma melancolia tremenda. O amor não se realiza. É sempre uma falta. Há sempre algo que falta. Uma ausência. Absoluta (Cléo de Páris), a personagem cega, não é privada apenas da visão, é privada do amor. E o que Fadoul (Ivam Cabral) quer lhe dar é a visão. Ele não consegue lhe dar o amor. Nem a visão. Não há comunhão entre as personagens. Elas se cruzam, mas permanecem sós. É tão angustiante perceber o quanto disso tem em nossas vidas! O quanto estamos sós. O quanto somos preenchidos por ausências. O quanto estamos mortos, amputados, anestesiados. O quanto disso tudo há em nós, o quanto de nossa humanidade dilacerada foi lançada àquela arena do Teatro dos Satyros.
O pior é que eu não sei o que fazer dessa angústia. Escrevo para tentar dissipá-la. Mas sei que ela está em mim, sempre pronta a se plantar em minha garganta. E ela se planta, sempre que me ponho a pensar sobre o mundo. Sempre que alguma coisa me instiga e eu volto a perguntar que mundo é esse, meu deus, que mundo é esse?!?... Qual o sentido da existência?... Qual a razão da vida?... Pra que tudo isso? Por quê?... Poderia ser de outro modo? Como?... O que posso fazer?... Que podemos fazer?...

10.11.06

Um Almodóvar meia-bomba

Hoje fui ver "Volver" e não é daqueles filmes que dá vontade de voltar. Sempre gostei de filmes que me surpreendessem. E depois de estudar cinema e aprender a decodificar as narrativas fílmicas clássicas, os filmes quase todos se tornaram muito previsíveis. Almodóvar era a excessão. Uma das. A. Um dos diretores de cinema que mais se destacava por surpreender e chocar o espectador. Não encontrei esse Almodóvar em "Volver". É um bom filme. Mas achei um tanto previsível. No meio do filme eu já sabia o que tinha acontecido, a relação entre a mãe e a filha, o pai, a neta e a mãe da outra. A história toda já tava clara pra mim antes de ser explicitada no filme. E isso não é instigante. Isso é pouco Almodóvar pra mim. O primeiro filme que vi do Almodóvar foi "Maus hábitos", no Cine Arte UFF. Aquele filme pra mim foi uma porrada! Saí do filme chocada! Almodóvar pra mim é isso e ponto final. Não posso me contentar com pouco. Fosse de qualquer outro diretor o filme, eu o teria adorado. Mas de Almodóvar eu espero muito mais. Enfim, achei frustrante. Um Almodóvar meia-bomba que não explode.

9.11.06

"En la lucha de classes
todas las armas son buenas
piedras, noches, poemas"
Leminsky

Eis a frase de abertura da vinheta do Festival Latino Americano da Classe Obrera, que apresentamos ontem e hoje no Espaço Cultural do ICHF. Amanhã e depois, a programação se completa na Sala de Projeção do IACS.
E vem aí o Cineclube Gragoatá - a mais bela vista, quer olhe pra tela, quer olhe pro mar!... Um projeto gestado em mesa de bar, mas que vai sair do papel do guardanapo em breve, muito breve, no cinema mais perto da Baía de Guanabara!... Até já!