31.10.05

Lançamento das Folhas ao Vento... (fanzine)

Depois do lançamento do meu primeiro fanzine poético em julho, na Festa Literária de Paraty, que foi um fracasso de distribuição, por incompetência desta que vos escreve, motivado por uma timidez absurda e patética - mas incontrolável -, vou arriscar mais uma vez! O lançamento das próximas Folhas ao Vento... está previsto para esta quinta-feira, dia 3, no Circo Voador, durante a Mostra Livre de Artes (que rola também no dia 10). Na segunda, dia 7, levarei para o Dizer Poesia, na Livraria Ver e Dicto. Às segundas-feiras, distribuirei no Arte Jovem Brasileira, no Bar Convés. Ambos em Niterói. E de 23 a 27, volto ao Circo Voador, para o Poesia Voa. Fechado o mês de novembro, vou pensar no Natal e no Ano Novo, que eu também sou filha de Papai Noel!

29.10.05

Canto de Aquário

Por que olhas para baixo? Se o que procuras
Não rasteja. E nem o céu tem por limites!
Por que olhas para baixo? Por que insistes?
Não vês que sonhos nunca são loucuras?

Repara em tuas feições assim tão duras
Percebes como tão fácil desistes?
Por que não crês em ti, por que persistes?
A mirar o chão, por que perduras?

Não finca tuas raízes nessa esfera
Felizes, só se for numa outra era
Por que ela vir havemos de esperar?

Ergue teu rosto em flor ao infinito
Abre tuas asas, rufla-as, eu insisto
Ganha os ares, que tu sabes voar!...

27.10.05

D’O Homem Voador

Segue abaixo um poema do livro “O Homem Voador”, do meu amigo Ricardo Jacomo, recém-lançado pela editora Ibis Libris. Saboreiem!

ESCRITA GELATINOSA

Quando escrevo
Arranco o gomo da palavra
Com os dentes
E o visgo da poesia
Me escorre pelos lábios

Ao entreter-me nessa fruta
Meu corpo sorve o melaço
Espalho o mel pelos meus braços
Cuspo fora
O caroço da conduta

Esse desejo viscoso
De afogar-me em gozo
Transtorna o meu itinerário
Borbulha um som gelatinoso
Na mente do visionário

Calo, engulo
Esta clara preciosa
E regurgito bonito
Muito verso e muita prosa

As palavras são assim
Dentro do bicho homem
As palavras para mim
Alimentam
E me consomem

26.10.05

Olhos lidos

Nunca me lerás em meus versos
Mais do que podes ler nos reversos
de meus olhos

E se avistares uma centelha de verdade
a iluminar meu olhar,
me conta!

Se puderes discernir o que aponta
minha mira de estrabismos,
me diz!

Se fores capaz de mergulhar em meus abismos,
me ensina,
que eu não passo de aprendiz!

Se tens gosto pela leitura,
pula a sinopse, não corre ao final.
Folheia, olhos nos olhos, meu livro de capa dura!

E não me vem com críticas de jornal!...

23.10.05

Luto fechada

Minha alma está de luto fechada.
E eu, vestidinho florido a desfilar...
Contorno meu olhos tristes
com lápis preto da Payot
Cubro minha boca defunta
com um batom cor de boca
E quanto mais eu rio,
Mais minha alma correnteza!...

22.10.05

Como se morre de amor

Sou assim como um brevíssimo beija-flor
Que de flor em flor sorve o néctar da vida
De boca em boca, eu vou, vertendo o amor
Que me escorre, agridoce, da saliva...

Já não me cabe todo o amor que guardo
Há-de matar-me! Está me sufocando...
Se não escoa, frente ao teu resguardo,
Em rubras lágrimas, vai-se derramando...

Passam-se os dias e eu sem teu beijo
E as bocas outras já não mais desejo
Meus olhos secam de tanto chorar

É tanto amor que dele eu me apavoro
Já não m’escorre, eu já nem mais choro

E o meu peito pronto a rebentar!...

21.10.05

Minha cidade, meus olhos de turista

A Vinícius Piedade e Marcela Giannini

Niterói é realmente uma cidade abençoada, para quem sabe aproveitar.
Vez por outra, olho-a com olhos de turista, atenta e curiosa, desvendando seus mínimos detalhes.
Na última semana, o que me despertou esse olhar foi a visita de um amigo paulista.
Em Itacoatiara, mergulhei fundo nas ondas do mar, me pus no pôr-do-sol, voei com as asas do vento...
Em Jurujuba, ouvi as histórias da Fortaleza como se fosse a primeira vez, parei como uma perda a observar as águas batendo na pedra, comi peixe olhando o mar, caminhei e caminhei e caminhei acompanhando a orla dos pescadores...
Em Icaraí, admirei encantada a vista mais bela do Rio, viajei no museu do disco voador como uma flor que se abre ao sol, lamentei mais que sempre a poluição da Baía de Guanabara, com vontade de pisar na areia e limpar os pés na beira da praia...
Em São Domingos, a noite se fez mais som e estive sóbria a ouvir o seu canto...
Em São Francisco, o saco não esteve um saco, mas sereno como um abraço...

Hoje, meu amigo paulista seguiu viagem, e eu continuei turista em minha própria cidade. Caminhei pela Praia de Icaraí olhando céu e mar e Cristo e Pão de Açúcar e Fortaleza e MAC e Ilha da Boa Viagem e pedras portuguesas e areias e tudo o mais ao meu redor... Sentei num banco para aguardar o sol se pôr, li alguns poemas, escrevi uns versos e pus-me a contemplar o crepúsculo avermelhado que se erguia no céu, pensando orgulhosa “é pra mim que ele se faz”... Sol posto, sigo caminho para casa, com escalas na Ver e Dicto e na Vídeo e Cia. Livros e filmes serão minha companhia desta noite, decidi.
No caminho tinha um chorinho e eu parei para ouvir Pixinguinha... Encantada com os velhinhos cantando na esquina “vem, vem sentir o calor / dos lábios meus / à procura dos teus”... E a menininha com menos de dois anos aproximando-se do palco e olhando curiosa o trabalho dos músicos... Um dia seus lábios ainda vão procurar outros lábios e ela vai entender o encanto daquela gente a ouvir, a cantar e a sonhar numa esquina de Icaraí...

Não quero mais fechar meus olhos de turista, vou caminhar mais...

14.10.05

Incurável

Sim, estou amarga
amargando tanta amargura!...
Não me beba,

Eu, xarope que não cura.

12.10.05

Venha e diga!

Alguém por favor me diga:
qual é a saída?
que eu não encontro!

me confronte e me conforte
mas desperte-me da morte
que me leva em vida...

Alguém, por favor, alguém diga
qualquer coisa que me atice
que eu não agüento essa chatice

Busco alguém que, firme e forte,
fale do que quero ouvir
que me atente pro devir...

Por favor, eu peço, alguém diga:
qual é a saída?
Alguém venha ao meu encontro!

que eu me encontro tão perdida...
Eu me busco e não me acho
E chego a achar que não existo

Não desisto, venha e diga:
“Te mostro a saída”.
Que eu não dou conta!

Cansei de fazer de conta...

Ânsia de.

Eu me dilato
me espaço no tempo
me dialeto, me esperanto
não me espanto
me instigo
mastigo
a dor do mundo
me espasmo
vomito tudo!

O mundo me é indigesto.

11.10.05

Pinga

Engulo o pranto
no gole da pinga
ou pinga
ou me derramo!...

Ressaca

Entreabro os olhos
Sinto um clarão invadir minha retina
Baixo as pálpebras
A luminosidade inunda minhas têmporas
Dói-me a fronte
Numa pulsação ritmada
Sinto minhas veias saltarem do crânio
Um gosto amargo percorre todo o meu paladar
Entreabro a boca seca
Que clama por alguma salivação
O mundo gira em mim
Giro na cama
Desejo voltar a não ser no mundo
Engulo uma espessa saliva acre
Minhas vísceras clamam por água
Gélida e límpida
Preciso me reerguer
Enfrentar a luz cortante
Caminho cambaleante
Viro um copo, uma garrafa
Tudo seca em mim
Eu mesma me evaporo
Não sinto nada em solidez
Encontro-me com o espelho
Meus olhos verde-musgo
Fitam-me pesados e soturnos
Um caco de gente
Cabelos desgrenhados
Emolduram-me a face pálida
Vãos de olheiras contornam-me a vista turva
Jogo-me tapas de água na cara
Gotas me escorrem
Acariciando-me a cútis
Olho, mais uma vez, meu reflexo insólito
Sonâmbula, deixo-me cair no aconchego do meu leito
A boca ainda amarga e seca
A cabeça ainda palpitante
As entranhas retorcidas
Abandonada ao sono e à preguiça de viver
Retorno à minha não existência temporária
Ansiando por um novo despertar...

9.10.05

Chama que eu ardo!

Em teus olhos, vejo o brilho dos meus
E tua boca a despertar meus desejos
Como envoltos numa aura de ateus
O pecado é me negares teus beijos

Infla as chamas, vem arder em meu leito
Ah, me espeta com tua grelha em brasas!
Despe o pudor, sem vergonha ou respeito
Que de inferno nenhum mais te salvas!

Meus demônios são meus lábios vazios
De tua boca, teu sabor de mistérios
E a serpente é que é o meu paraíso

De teu corpo em meu corpo preciso
Rumo ao céu só de anjos venéreos
Come o fruto desses meus desvarios

3.10.05

Leva o que é teu!

Do cinzeiro sobe a fumaça da chama recém apagada
Ainda vejo teus rastros na cama que outrora era nossa
Ainda posso sentir tua saliva em minha boca, teu gozo em meu sexo
Tenho tuas digitais marcadas em todo o meu corpo
Registrando em mim tua identidade que só eu sei
Leva tuas malas, mas não podes levar tuas marcas
Carrega os retratos, rasga os contratos,
Mesmo assim não te apagas de mim
Leva teus livros, que eu li
Leva os CDs, que eu ouvi
Carrega também a TV, que esse filme eu já vi
Mas terás também de levar minha alma, que é tua
E abandonar inerte uma carcaça vazia e nula
Se queres partir, leva tudo o que é teu
Não me deixa...