21.8.05

No âmago de uma paixão...

“Onde aprender a odiar para não morrer de amor?”
(Clarice Lispector)

Não conseguiste viver
A espessa paixão que dediquei a ti
Levei meus olhos ao encontro dos teus
Que desviaste para o teto ou para o chão
Fixaste o horizonte e seguiste teu solitário rumo
Tomaste meu corpo de um só gole
Mas não suportaste o peso de minha alma
A ti, entreguei meus versos, meu ser
Não soubeste simplesmente ser
Não contemplaste por um segundo sequer
A beleza de uma entrega abnegada
Recusaste, sem te dares conta
O que há de melhor em mim
O que só a ti poderia dar
O que se perdeu ao vento
Do meu abandono total
Ao teu desinteresse atroz
Agora, entregue à melancolia
De quem viveu demais, amou demais
Foi a própria essência de uma paixão
Boiando no ar da indiferença
Mergulho na solidão
E me entrego a mim
Vivo, lésbica de mim mesma,
Toda a densidade de uma alma intensa
Que contigo impulsionei-me a partilhar
E arremessei ao encontro de teu vulto inerte
Com toda a ânsia de meu instinto feroz
Entregue ao vendaval de um vazio
Numa brisa leve retornou
Ao âmago de minhas entranhas
Onde habita a imensidão
Onde reluz a escuridão
Onde tudo se mistura a um gosto agridoce de vida e morte
De tudo ou nada
De antes, agora e depois
De ser ou ser, eis a questão!

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