15.12.11

SÓ UM JEITO DE ME ENTREGAR

vontade de te mostrar todos os meus truques
como pintar as unhas num trem em movimento
deixando um cheiro de acetona no ar
quando você sentir cheiro de acetona por aí
você vai se lembrar de mim
dos meus esmaltes vermelhos e dos meus beijos
eu tenho muitos truques
eu trouxe aquele teu perfume pra ficar com teu cheiro...
e quando eu finjo que não tô ligando, você sabe...
é só um jeito de ter medo
você vai saber dos meus segredos
a gente já bebeu do mesmo copo
você vai saber que quando eu caio, sou eu que me jogo...
é só meu jeito torto muito torto de te pedir colo
bom, talvez eu guarde algum segredo no fundo do cofre
só um jeito de te ter sempre aqui
tentando abrir algum cadeado
testando todas as combinações
espiando fechaduras
buscando as entrelinhas
não, você não vai saber de tudo
basta saber da minha vontade de entregar meus truques
de algumas vontades...
e da minha saudade traduzida no cheiro do teu perfume. 

5.12.11

há um momento em que você não vai estar lá, e eu sempre vou pular




Às vezes a gente fica tão feliz de ter alguém que nos carregue embora pra casa, que a gente esquece que não é sempre assim. Na maioria das vezes a gente tá sozinha. E quando aquela lágrima velha de guerra vier escorrer na nossa cara, ele já vai estar roncando ali do lado. Ele vai me acordar com um abraço e um café e eu vou continuar calada. Eu continuo querendo que os caras descubram as coisas que eu não gosto de dizer. Eu não sei dizer. Eles continuam me achando louca. Eu disse duas coisas diferentes numa mesma curta frase, o que eu queria que parecesse e o que era. Disse quase distraída enquanto comia ovos mexidos. Ele riu, porque no meio da minha loucura eu consegui ser sincera. Eu forço um sorriso, dou um beijinho seco e digo que tá tudo bem. Ele sabe que não tá. Vai ser sempre assim... Um dia ele vai lamber as minhas lágrimas e ainda não vai saber por quê. Ele vai saber que não pode mudar isso. Mas ficaremos como gatos, lambendo a pele um do outro por puro instinto. E talvez nossas salivas curem algumas feridas. Talvez ele me cure algumas feridas. Mas eu sei que vai me fazer outras. Eu posso prever. Eles sempre me deixam com alguns sinais de atropelamento. Mesmo quando o atropelamento sou eu. Mesmo quando sou eu que bato a porta. O som seco da batida me persegue mesmo quando a porta está aberta, e está um dia lindo lá fora. Eu sei que sempre vai ter uma tempestade, e que eu vou sair pra rua, que eu tenho medo dos relâmpagos mas gosto da chuva. Talvez ele esteja espiando da janela, e me fotografe, encharcada e distraída, linda e louca. Talvez ele também tenha alguns segredos. Talvez também goste da chuva, e não esteja nem ligando para os dias ensolarados do lado de fora da nossa porta. Talvez ele me carregue no colo para algum precipício, e vai ver até que a gente pula junto. Mas na hora que o chão chegar, eu vou estar sozinha. Ele não pode pular comigo, e já estar lá embaixo pra me segurar. E aquela lágrima velha de guerra vai estar sempre lá, parada no fundo dos olhos, pronta pra saltar, espreitando esse cara que me rouba sorrisos.