22.9.05

Ouve o mar!

“Ouvindo o mar de Itapoã
Falar de amor em Itapoã”
(Vinicius de Moraes/Toquinho)

Ouço o barulho das ondas que lambem a praia
Num infindo vaivém, vejo além do horizonte
Mesmo que o Sol mergulhe, que a tarde caia
A Lua nua que me enlouquece não te esconde

Não entendo o que o mar orquestra em seu som
Eu não sei o que a luz aponta no brilho do céu
Nesse leito de areias finas não conto um só grão
Nem te conto como me abandono assim ao léu...

Sei que estás em mim, ainda que tão distante
Quero ouvir teus passos firmes na beira-mar
Que do barulho, faz sinfonia; da luz, brilhante
Quero sentir o calor do teu corpo a me evaporar

Sei que ainda virás embalado na maré-cheia
Ainda me tomarás em teus braços quentes
Atraído e dominado por meu canto-de-sereia

Unidos que estamos por não sei que correntes...

21.9.05

Não sigo só...

“é mais fácil mimeografar o passado
que imprimir o futuro”
“nem quero ser estanque
como quem constrói estradas e não anda”
(Zeca Baleiro)

Eu sinto a vida entrecortada
Corto meus próprios caminhos
Caminho só no breu da estrada
Ao extremo sul, sigo sozinho

Ando seguindo a pista oculta
Que pisca e pesca o meu olhar
Eu olho e vejo, estou na escuta
Não sigo só, ando a sonhar...

Eu vejo a vida aniquilada
Aquilo pesa, há só espinho
Espio perto essa caçada
Sou eu a caça, um passarinho

A passos largos, vou à luta
Estufo o peito e tomo ar
Artista louco, louco batuta
Não sigo só, vou a voar...

Eu canto a vida nesta toada
Fora do tom faço meu ninho
Tomo de assalto a barricada
A outros tantos me avizinho

A noite é longa, a vida curta
Curto a imensidão do mar
A maré enche e tudo muda
Não sigo só meu caminhar...

7.9.05

Como quem vaga...

Escrevo assim como quem não quer nada
E tudo quero como quem nada fala
E como quem cala a voz do silêncio
Irrompo em versos como penitência

Sem paciência, as palavras emanam
E me enganam dizendo-se belas
Não sendo mais do que vãs e profanas
Ah, condenadas! Malditas sejam elas!

Mal escritas em meus versos tortos
São verbos mortos em putrefação
Se empilham lado a lado absortos
Na vala funda que se cava ao chão

Eu não escrevo seguindo estradas
Eu me afundo, eu vou ao deserto
Sou a poetisa das horas vagas
Que vai vagando sem rumo certo...

4.9.05

Sem título

"Eu vou pagar a conta do analista
pra nunca mais ter que saber quem eu sou"
(Cazuza)

Eu leio livros gastos
Gasto no que não preciso
Gosto do que não toco
Sinto o gosto do não vivido

Caminho por ruas tortas
Me entorto na linha reta
Me corto, mas não me curvo
Não curto a palavra certa

Me faço bem com o que faz mal
Fico de mal não sei com quem
Espero alguém pra me guiar
E não me guio por ninguém

Sinto vazio quando me encho
Eu me transbordo no mar profundo
No mar-de-rosas, eu me afogo
E me sufoco no ar do mundo

Eu ando sempre a dar de ombros
Soterrada em meus próprios escombros
Viro pó na poeira espalhada
E me espelho nas margens do nada