29.10.06

geração

Eu vivo uma geração sem expoentes
Uma geração de estrelas cadentes que sequer se sustentaram no céu para dar-nos suas quedas em espetáculo celestial
Uma geração de trevas ofuscada pelas luzes eletrificadas que explodem retinas
A minha geração ficou no meio do caminho entre a que foi e a que talvez virá – virá?
Nem sexo, drogas e rock’n roll nem açaí com guaraná
Uma geração big mac fast food self service coca diet com entrega a domicílio que cresceu na frente da TV
Eu não sei da internet o tanto que ela sabe de mim nem li tantos livros assim
Vivo entre o passado e o futuro a semente estéril de uma geração imprensada em cima do muro
E eu aqui deslocada sem estourar numa ploc, sem entender nada de rock, achando que a minha vida é um pit stop
Onde é que isso tudo vai parar?
Sei lá, acho que a minha geração perdeu a hora, saca? Tava dormindo e não ouviu o despertador tocar. Acordou meio-dia no meio da vida na casa dos pais achando que viver ou morrer tanto faz.
É uma geração que não dá poema. Não rima nem arrebata. Não ladra nem morde. Jamais daria um uivo. E nem consegue arrancar suspiros ou suspender respirações.
Sendo fruto de uma geração que não representa nada, nem a minha própria geração eu sou capaz de representar.
Eu vivo na contramão de uma geração que não tem fluxo pra lugar algum.
Então, como é que eu posso dar em algum lugar?

Não, meu bem, eu não quero acordar. Me deixe dormir até meio-dia no meio da vida na casa dos pais achando que viver ou morrer tanto faz. Eu desliguei o despertador, então, faça o favor, não me acorde, meu bem. A minha geração dorme de olhos abertos, mas eu, meu bem, eu só quero sonhar. Me deixe sonhar que nesse meio do caminho eu ao menos sou pedra, e não terra pisada como o resto da estrada.

26.10.06

A marquinha do biquíni e outras marcas

Mais fácil tirar a roupa, que despir as defesas da alma
Desfilo nua pelo teu quarto, pela tua sala, pela tua mente
Mostro uma curva em cada curva e uma pinta em cada quina do teu apartamento
Deixo à mostra todos os meus pêlos e cada trecho depilado da minha pele
Cada marca de sol, cada marca do tempo, cada marca de corte, cada tatuagem que deixei de fazer você pode ver
Mas há tatuagens que fiz e não há remoção nem a laser, tatuagens que fiz sem querer, ou sabendo que ia doer, há muitas marcas que você não pode ver
Tenho marcas cobertas e recobertas por fortes muradas calcadas de silêncios
Um dia, sem querer, eu tropeço e a toalha cai
Me vejo verdadeiramente nua na sua frente
Me embaraço
Você chega sem delicadeza e me faz uma tatuagem a mais
Eu urro de dor, choro, me descabelo,
Sabia que não podia confiar, que convivência é dor pungente, é marca na alma pulsante em carne viva
Você me olha como se não compreendesse
Meu deus, não vê que estou nua? Não vê que você me tatua?
Eu me revisto de novos silêncios ainda mais cerrados
E eis que você é mais uma marca em mim que você não pode ver

25.10.06

Vou me apresentar com o grupo da oficina da Patricia Carvalho-Oliveira nesta sexta a partir das 19h no Ateliê Performático (Av, Pasteur 453 - Urca - casa branca e laranja na frente da Unirio).

23.10.06

Plataforma

Olho você dormir
Corpo frágil sobre a cama
Chego perto, certifico-me que você ainda respira...
Fico ali parada um tempo
Tento compreender o ciclo da existência
A pele enruga. O corpo despenca. Os órgãos se fragilizam
O ser se isola do todo, do convívio
Começa a viver só dentro de sua casca
Que vai ficando frágil como uma casca de ovo
Olho para você de novo
O amor sai pelos meus olhos e molha a minha pele
Queria parar o tempo
Impedir que as folhas do outono caíssem
Impedir que você partisse
O que é esse planeta afinal
Senão uma plataforma de chegadas e partidas?
Paramos aqui como paramos numa lanchonete à beira da estrada
Nos abastecemos de experiências
Mas sentirei falta
Dos beijos delicados
Das mãos expressivas
Dos olhos bola-de-gude cor-do-céu
Dos cabelos de algodão
E da pele desenhada pelas linhas da vida
Penso se há algo que eu queria te dizer e nada me vem à cabeça
Tudo e nada às vezes parecem a mesma coisa
Te amo para sempre
Sua ida já está marcada?
Sua passagem já foi comprada?
Prefiro esta imagem
Te ver sentadinha no avião indo embora
Do que ver o corpo botar a alma para fora

Patricia Carvalho Oliveira,
no livro "Passaporte 8574"

Da oficina da Patricia

Eu levo comigo a avó da Pati "sentadinha no avião indo embora", o anjo da Dani com essência de baunilha plantando sementes de girassol, o filho abençoado que o ventre da Maria guardará, levo a leveza do Danilo na ponta dos pés sapateado por um interior conturbado, eu levo a paz do pai da Fabi que é um aconchego cheio de saudade, do Jamil levo comigo o impulso para o primeiro passo naquela difícil caminhada, do Rugero eu levo o silêncio que mais me comunica coletividade e nossos gestos cheios de identidade, eu levo do Ruy com grande perplexidade a quebra de um ritmo acelerado que nos aponta outro tempo mais lento e mais denso, da Betina levo as mãos que acariciam e o sorriso de menina que acaricia mais ainda, da Tchuca levo algo que me toca, da Rosália o poema certo na hora certa, da Pati tímida um olhar incerto e um mundo mágico cheio de possibilidades...
Não sei o que deixei de mim. Talvez pouco, muito pouco, ou quase nada. Estava inteira, mas dilacerada. Estava intensa, mas calada. Eu me olhava no espelho tão partida! Eu me sentia tartaruga tão sem casco! Mas ali, encolhidinha naquele canto, senti que podia observar sem ser observada. Senti que podia receber sem perder nada. Não queria me doar assim tão perdida. Não sei o que deixei de mim. Talvez pouco, muito pouco, ou quase nada. O que não deixei foi o que perdi... despejei nas lágrimas que já verti.

18.10.06

Acrobática e Performática

Hoje fiz uma aula de acrobacias aéreas, que provavelmente substituirão a academia, já que trabalham o corpo sem sofrimento, ao contrário, com muita alegria e leveza!... É uma delícia subir no tecido e se pendurar de cabeça pra baixo e rodopiar e se esticar e se encolher... O trapézio não é uma delícia porque dói as mãos e eu ainda não tenho força suficiente nos braços pra girar o corpo para cima e subir nele. A lira eu não tentei. Na corda indiana eu subi um pouco, mas sem girar. Sobe segurando a corda com os pés que nem faz no tecido. Não é difícil. Dói um pouco o pé que serve de base e os braços. Mas não tem mistério. Com treino e dedicação, em breve eu já serei uma acrobata (aérea eu sempre fui)!
No final de semana vou fazer uma oficina de performance e teatro físico com a Patrícia Carvalho-Oliveira, que é fabulosa! Vai ser um intensivão sábado e domingo com montagem de performance e tudo!
Eu não devia contar para não estragar a surpresa, mas o que eu quero mesmo é fazer uma performance poética com acrobacias aéreas! Vou ensaiar o "Número da paixão" do Chacal dependurada no tecido e quando falar que "capiturarei, enfim, com a cabeça espatifada nos escombros do meu próprio coração" eu me deixo desenrolar do tecido em queda livre até quase me esparramar no chão. Vai ser lindo! Divino! Maravilhoso! Aguardem. A qualquer momento, numa noite qualquer...

16.10.06

Smile

não cabem em minha boca larga
sorrisos contidos de quem é feliz
só sei alastrar sorrisos de muitos dentes
riso nervoso, histérico, gargalhadas tenebrosas
só sei rir em desgraça com toda a graça das minhas covinhas
essas covas sonsas que me jazem no rosto
e me exumam de mim
a cada vez que morro,

busco abrigo nas covas de um largo sorriso

14.10.06

sem paixão
tudo se passa
como se não fosse
tenho uma plantação de sustos suspensos
que me regam de sombras

eu os cultivo porque dão bons frutos
salvo alguma praga ou mau agouro
colho todo ano excelentes suspiros

10.10.06

cada lágrima é um sonho aguado
sal diluído que já não salga
desesperança que deságua
pelos sulcos da face
rio que corre pro mar
e se confunde
cada lágrima é algo
que se amálgama
e já não é o que era
uma lágrima é o que
já era

8.10.06

Fotos do Magoo

O Marcelo Valle, que conheci na faculdade pelo apelido de Magoo, é um excelente fotógrafo e está com um fotologue, que linkei aqui do lado. Segue uma de suas obras primas: a vista do MAC, em Niterói, registrada com rara beleza e com a colaboração da natureza que pintou o céu em vários tons.

2.10.06

Ex-fumante

Mais de uma semana já. Uma semana sem fumar. É vero. Nem um mísero cigarrinho. Nem um traguinho só. Nada. Mais de uma semana sem fumar nada. Nem chiclete de nicotina eu masco mais. Quero meu organismo limpo dessa droga maldita. Não é fácil. Tem horas que bate aquela abstinência e parece que o corpo todo é tomado pela mesma vontade impetuosa. Mas eu não me rendo. Nem minha irmã fumando do meu lado me enfraquece mais. Eu fico oscilando entre a academia de ginástica e o armário da minha casa lotado de guloseimas... Eu malho e como, como e malho, malho e como, como e malho... Mas fumar eu não fumo mais!

É hora de aLULAr o voto!

Dois dos meus se elegeram: Chico Alencar pra federal e Marcelo Freixo pra estadual. Meu querido Paulo Eduardo Gomes, pra quem destinei meu voto no último momento, não entrou por pouco. A Jandira perder pro Dornelles foi uma surpresinha desagradável. O resto já era esperado.
Agora, vamos pro segundo turno. Heloísa já deu o recado. É claro que ela não vai apoiar o Lula abertamente, porque seria uma incoerência. Embora eu, particularmente, acredite que uma organização partidária tem que saber jogar o jogo político. O PSOL devia negociar seu apoio ao Lula fazendo-o dar uma guinada à esquerda. Lula, desesperado, faria negócio. E pra esquerda seria um ótimo negócio: impedir uma possível vitória do Alckmin e trazer o Governo Lula mais para a esquerda. Mas não, em vez disso a esquerda gosta de engalfinhar. Pelo menos Heloísa mandou bem ao falar que não apoiaria nenhum dos candidatos, mas que seus eleitores são homens e mulheres livres e não precisam de sua indicação para saber em quem votar. E que eleitor de Heloísa que vai votar em Alckmin? Eu farei campanha pra Lula. Acho uma ignorância dizer que Lula é a mesma coisa que FHC (ou pior), como parte da esquerda anda anunciando por aí. E uma puta irresponsabilidade se omitir, se anular e deixar a direita crescer nesse momento. Agora é hora de aLULAr o voto!