23.6.11

PROIBIDO ELEFANTES E OUTROS PENSAMENTOS AMORFOS



Como definir a minha linha de pensamento, se o pensamento não tem linhas retas? As coisas me perpassam num emaranhado difuso. Agora mesmo eu pensei uma imaginação, e ela era a minha realidade naquele momento. Lembrei de um sonho com dedos caindo das mãos, e dor. Volto aos meus dedos segurando um cigarro, e logo batendo essas teclas. Onde eu estou é tanto lugar, e quem eu sou tanta gente. Só sei definir a imprecisão de tudo. Nada tem contornos claros, nada é definitivo. O trânsito indiano com elefantes, carro e gente, sem hora de parar e seguir ou direções pré-traçadas, essa coisa caótica, o pensamento; com esse tanto de gente, de carro e de elefante, indo pra tanto lugar diferente, num mesmo e em outros tempos. Foi a melhor imagem que me apareceu de passagem. Nunca estive no trânsito indiano. Fiz uma colagem de novela, filme, reportagem e coisas que se falam e eu nem sei quem. Armazenamentos breves, que vez em quando vem e a gente lança, junto com todas as luzes vermelhas, verdes e amarelas dos sinais de trânsito que vez em quando avanço, todas as placas e cintos de segurança. E toda essa necessidade de catalogar e organizar o caos que é a gente. Eu queria escrever o caos, com esse tanto de bolha de sabão, barrete de ferro e neon. Esse tanto de tudo e de coisa nenhuma jájá e ainda ontem, com previsão de futuro. Mas o futuro é o... ih, já foi. O tempo é inapreensível. As coisas me escapam. Balões de gás hélio subindo subindo... balões estourando. Ploct. Pensamentos onomatopéicos. Zumm, ploft, nham; essas coisas dizem. Não precisa querer dizer. Tudo diz. Fazer sentido. A gente sente. E se não sente é porque anda tomando comprimidos demais, que pra tudo hoje tem anestesia. Eu me deixo invadir por essa dor que é a de não saber, e que é ao mesmo tempo o prazer da descoberta iminente. Eu me deixo sentir no mundo. Mas eu falava era do pensamento. Ele me dá rasteiras. Já eu aqui querendo organizar as coisas. Eu que me desorganizo toda. Eu queria um pensamento arquitetônico pra erguer construções, mesmo que pra implodir depois. Uma arquitetura curva como Niemeyer, e bastante inútil como lugar de não morar. Porque essas arquiteturas de pensamento costumam ser bem inúteis mesmo, até as curvas. As retas são mais irreais, porque a realidade é fluxo, e fluxo não tem moldura. É que da poeira das implosões eu poderia ter uma visão qualquer, que fosse real e fantástica, como um espanto. É que me dizem que eu preciso de uma questão. Eu que já tenho tantas e me abro a tantas outras. Mas esta deve ser precisa, uma única, bem formulada, com objetivos claros e justificativa coerente. Eu na correnteza das incoerências... Por acaso este mundo é coerente; preciso, claro, bem formulado, ÚNICO? Tenho um pensamento mundo que me atrapalha. Por onde eu começo? Eu, que vivo num mundo sem ponto de origem, linha de chegada? Eu não sei. E não saber talvez seja a minha única certeza, a que eu preciso implodir, pra quem sabe conseguir ver uma poeirinha qualquer, um grãozinho de infinito preciso, único, claro, objetivo, minha obra bem acabada. Mas eu penso em nachos. Não tenho fome. Pássaros, sinos, cubos, vermelho, cachimbo, escorrega, folha seca, bambolê, televisão, satélite, assoalho... Estou à procura. Boto uma placa: compro. Depois tiro o preju: vendo. Quem sabe pelas leis de mercado eu consigo organizar o pensamento...

 
ps. Depois devolvo os elefantes aos cruzamentos.

ps2. acabei de lembrar q até o mercado entra "em crise", sofre "abalos" e fica "tenso". é tudo especulação... até o capital é volátil. retiro a placa. estou sendo atropelada por elefantes furiosos...

4.6.11

UM BAYGON NO SILÊNCIO

a TV ligada a noite toda o dia inteiro
distraidamente esquecida
vozes pra me fazer companhia
nessa casa vazia
tenho medo do silêncio escuro de estar sozinha
e de baratas impossíveis nas janelas da madrugada
ainda preciso uma fórmula
para espantar baratas
- sem encará-las -
a TV ligada é uma chinelada nos meus mais espantos