31.7.07

Paradoxos

para Juju Hollanda

Tem algo nesses olhinhos que é inquietação e angústia
e os olhos brilham, doces, serenos, quase inocentes
como se a noite fosse uma criança com quem se brinca
Tem algo nesses olhinhos que é desejo e fúria
e tem um quê de amor e calma
Tem brilho que é luz refletida das ruas,
e tem toda a luz que emana da alma.

Tem algo nesse sorriso que é pureza e doçura
e o riso se expande numa gargalhada
como se fosse espanto a madrugada!
Tem um rir que é de histeria e medo
Tem algo que é um leve abandono
Há um riso que ri de si mesmo
e os sorrisos que vagam sem dono...

Tem algo nesses versos que é noite sem fim
que se acua sem saída em becos escuros
Mas há sempre, nesses versos, uma luz que raia
Tem sempre algo que amanhece
pés descalços na areia da praia...

29.7.07

2 versões d'a volta

a volta (primeira versão)

teus olhos apontados pra mim como punhais
me punham cega
de medo
e eram giletes que eu via em ti
no lugar dos dedos
nossos beijos selavam pactos de morte
mas era só eu quem morria...
- e sem enterro, sem missa de 7º dia!
eu corri dos olhares que me apunhalavam
eu fugi de abraços fortes que me cortavam
quis me livrar do veneno que escorria de nossas bocas juntas...
por um longo longo tempo
caminhei pela areia pra suavizar os pés
depois de sapatear sobre os nossos cacos
andei, andei, andei,
dei a volta
só pra tornar a ver estes teus olhos
se oferecerem a mim como girassóis
só pra sentir teus dedos serem veludos na minha pele
e tua boca, e nossas bocas, num brinde à vida,

se reencontrarem!

a volta (segunda versão)

teus olhos apontados pra mim como punhais
me punham cega
de medo
e eram giletes que eu via em ti
no lugar dos dedos
nossos beijos selavam pactos de morte
mas era só eu quem morria...
- e sem enterro, sem missa de 7º dia!
eu corri dos olhares que me apunhalavam
eu fugi de abraços fortes que me cortavam
quis me livrar do veneno que escorria de nossas bocas juntas...
por um longo longo tempo
caminhei pela areia pra suavizar os pés
depois de sapatear sobre os nossos cacos
andei, andei, andei,
dei a volta
só pra me retalhar de novo nos mesmos velhos cacos

ah, quer saber?! um brinde ao nosso fracasso!

27.7.07

Êita porra, Quampa!...

Belvedere, o livro do Chacal que fica em pé sozinho (já virou jargão...) na prateleira, sem precisar se escorar nos outros, é sensacional! Ainda não li todo, mas acho que as melhores poesias eu já conhecia. A novidade pra mim é o Quampérius, um livro fininho fininho que vem encartado! Não é novo, data de 76/77, mas foi reeditado especialmente pra sair com o Belvedere. Quampérius é um herói nacional, tal qual um Macunaíma! Muito bom acompanhar suas peripécias em verso e prosa e outras formas... Sim, outras formas! Como por exemplo as questões de múltipla escolha de "Quem?":

em mineápolis, outubro de 1957,
surgiu a seguinte questão:
- quem disparou a flecha que vai para niterói?
a) o cristo redentor.
b) quampérius.
c) guilherme tell me who.
em belfort roxo, anos depois,
a questão aumentou.
- a quem atingirá a flecha?
a) araribóia.
b) gerson, o canhotinha.
c) o saco de são francisco.
tan tan taran tan tan tan tan taran tan tan tan

Claro que tem referências no livro que não são da minha época e que eu não peguei, outras captei pelo que eu sei li estudei do período. E no período de ditadura descrever cenas de tortura, mesmo que numa "fábula", me parece bastante transgressor. Sim, trasgressor no conteúdo, mas também na forma, e pra mim é aí que se dá a verdadeira revolução! Porque ficar bradando frases feitas com punhos cerrados dentro das estruturas carcomidas do Estado não leva a lugar nenhum... (talvez um dia ao poder, vide Lula lá...) Putaqueopariu, a luta de classes entre o chato e o piolho é foda!
Bom, e ainda eu cá com as minhas referências pós-modernas devo dizer que a "Grande corrida a Lua" me lembrou muito a "Corrida maluca", um desenho animado que eu adorava (aquele da Penélope Charmosa, em que o Dick Vigarista sempre armava pra tirar os adversários do páreo), só que nesse caso, Quampérios é o que arma, e não é o vilão, mas o nosso herói! O final é surpreendente e com sabor de crítica política, mas eu não vou contar... hahaha
Tem que deixar só o gostinho pra quem ainda não leu correr pra ler... Então finalizo com outro ótimo trecho, sobre poesia marginal:

- ALÔ, É QUAMPA?

- não... é engano.
- alô, é quampa?
- não, é do bar patamar.
- alô, é quampa?
- é ele mesmo. quem tá falando?
- é o foca mota da pesquisa do jota brasil. gostaria de saber suas impressões sobre essa tal de poesia marginal.
- ahhh... a poesia. a poesia é magistral. mas marginal prá mim é novidade. voce que é bem informado, mi diga: a poesia matou alguém, andou roubando, aplicou algum cheque frio, jogou alguma bomba no senado?
- que eu saiba não. mas eu acho que é em relação ao conteúdo.
- mas isso não é novidade. desd'adão... ou voce acha que alguem perde o paraíso e fica calado. nem o antonio.
- é verdade. mas deve haver algum motivo prá todos chamarem essa poesia de marginal.
- qual, essa!? eu tou achando até bem comportada. sem palavrão, sem política, sem atentado a moral cristantã.
- não. não to falando desse que se le aqui. to falando dessa outra que virou moda.
- ahhhh ......... dessa eu não tou sabendo. ando meio barro-bosta porisso tenho ficado quieto em casa. rompi meu retiro prá atender esse telefone. e já que ti dei algumas impressões, voce vai mi trazer as seguintes ervas prá curar meus dissabores: manacá carobinha jurubeba picão da praia amor do campo malva e salsaparrilha. até já foca mota.

Depois rola uma receita excelente com essas ervas! E várias outras peripécias quampéricas recheiam o livro! Esse não fica em pé sozinho, é um fininho, mas dá uma oooonda!...
CEP 20.000
Terça, 31/07 - 20h - R$ 6
TEATRO DO JOCKEY
Com...

NUVEM CIGANA

OPAVIVARÁ

BIA & CIA

DUDU + IVNY

GRAÇA CARPES

ALUNOS DO ANDRÉ MAUROIS

HENRIQUE TAVARES

PATRÍCIA CARVALHO OLIVEIRA

LÉO POETA

ÉBER INÁCIO

DANIEL SOARES

DANÇA DENÇA

NIL

20.7.07

Gean Queiroz para nós!


LONGA VIAGEM DE UM DIA NOITE ADENTRO

Já faz um tempo que estou por escrever algo sobre este verão sueco cheio de flores que insistem em não acreditar que a primavera já passou, algumas já estão murchando e eu não posso descrevê-las fotograficamente com a exuberância perfumada em que me parei a a dmirá-las e a respirá-las em cada esquina em cada janela em que elas derramavam suas cores, agora restam algumas pétalas espalhadas colorindo as calc,adas, e não posso evitar esse arrebatamento esse deslumbre essas rimas pobres no meu escrever repleto de encantamento. Hoje faz sol, um sol imponente, impiedoso, que espalha toda essa luz na tarde sonolenta que se prolongará até quase o fim das horas ignorando a existência da noite. Alguns dias atrás foi Mitsöma, e todos os suecos comemoraram o dia mais longo do ano, quando se pode contemplar o sol da meia-noite, é uma beleza implacável , a ausência de escuridão espalha uma penumbra única e uma energia que leva as pessoas para as ruas como se aquele fosse o último dia na terra, e tudo vai além do meu entendimento e eu me sinto absolutamente confuso e eufórico como se estivesse cheio de ácido numa rave que só terminaria quando finalmente anoitecesse e todos adormeceriam para sempre, um prenúncio de morte, um vislumbre de apocalipse, e é tudo tão belo tão calmo tão divino, que imagino ser assim uma morte por overdose de luz, pequenas doses letais penetrando os olhos e os póros até que uma claridade eterna illumine todos os pensamentos e tudo se torne tão puro e óbvio numa verdade absoluta…e pronto…e fim…Mas a noite veio tardia, e com ela o vento frio, e acendemos as velas e nos abrac,amos e oferecemos nossos carinhos de luva, meus instintos de animal noturno agradecem e deixo-me envolver pelo breu e por milhões de pensamentos absolutamente devassos, minha memória fervilha cheia de pecados, pois foram todos fabricados pelos demônios que me habitam dentro da noite eterna, mas agora eles não estão aqui, e foi tanta luz que estou cego para estes seres todos que me perseguem, o sol apagou toda a podridão e acendeu a faísca do olhar na ponta do dedo de Deus que fura o céu e risca de nuvens a distância embalada pelo vento das lembranc,as, é tempo de viver na claridade dos dias que se prolongam por dentro do sonho, o novo a cada estalo de pálpebras flamejando de beleza, e as velas acesas me trazem a presenc,a de bruxas e outras criaturas mágicas e forc,as invisíveis, e todo esse mistério me enche de vontade de sair voando e abrac,ar a paisagem e engolir o horizonte e dovorar minha própria fome de estar vivo atravesssando esse tempo onde tudo já tão velho tão antigo abre espac,o para que o novo me atropele com a forc,a da natureza que se renova a todo instante, a fudida arrebatadora perfeic,ão da natureza, essa forc,a que vem lá das profundezas da terra e acende tudo de verde em volta e se perde ao longe no voô de um pássaro, e eu aqui sentado colado a este tronco de árvore sendo fuzilado de pensamentos de luz, explosões de cores no meu silêncio cheio de música por dentro do corpo anestesiado, posso ficar aqui escrevendo sem parar e descrever a eternidade através das estac,ões que seguem seu fluxo absolutamente divino num encaixe que vai além de qualquer estudo ou compreensão humana, e sei que todas essas folhas vão ficar amarelas e cair, deixando as árvores nuas e o caminho coberto de um tapete amarelo e depois tudo vai congelar e um manto branco vai cobrir a paisagem e depois de um longo período em que o tempo também parece não passar, finalmente o sol vai voltar derretendo tudo e vai ser uma explosão de cores e sentimentos e tudo vai nascer novamente, novas flores novas folhas e novos amores e novos sonhos, e o sol poderoso na ponta do dedo de Deus ficará cada vez mais presente, ignorando a existência da noite, da escuridão, de meus instintos de animal noturno cheio de podridão, e eu ainda estarei aqui colado a este tronco absolutamente iluminado, cego de tanta luz, vivo dentro da eternidade, morto de perplexidade no encantamento que não permite qualquer descric,ão fotográfica de minha limitada literatura, mesmo que eu fique aqui escrevendo através das horas infinitas…escrevendo…escrevendo…escrevendo…respirando…escrevendo…respirando…escrevendo…respirando…escrevendo…sem parar nunca…nunca…nunca…nunca…nunca…nunca…
g.q.

19.7.07

Poemas remexidos

Ando mexendo em poemas antigos. Ando pensando em publicar um livro. Vou republicá-los aqui, aos poucos, com suas devidas alterações. A sua opinião é muito importante pra mim! Então, comente! As pessoas geralmente comentam o que gostam. O que é muito bom (quem não gosta de ouvir elogios?)! Mas eu quero ouvir também as críticas ácidas, perversas, destrutivas, porque a destruição pode servir à reconstrução em outras bases, mais sólidas, melhores. O poema abaixo eu tinha abandonado porque os dois últimos versos não funcionavam. Peguei e mudei. Ainda não estou muito satisfeita, não. Mas será que agora funciona? Não sei...

Um frio (segunda versão)

Um frio de gelar os ossos
de ranger os dentes
de moer a carne
estirar os músculos
triturar a alma
de encolher o corpo
recolher os cacos
se esconder sob a coberta
sob a casca
um frio de se trancar
de se quebrar
de se acuar
um frio que nada aquece
lã, fogo ou furor
um frio que não se esquece
de mim

um frio que corre nas veias

frio que o coração bombeia

18.7.07

Parte de mim

p/ Matheus Accorsi

Já tive o coração partido por um
Agora, o tenho partido em dois
E devo abrir mão de um pedaço
O primeiro tem jeito, se rejunta, cola os cacos
Já no outro, uma parte é partida, ir-se embora
Prefiro um coração todo trincado
A ter, cravado no peito,
este coração pela metade.

10.7.07

Fim de festa

p/ Ricardo Chacal


Queria tirar o sapato e dançar o resto da vida
Mas a festa acabou e há cacos quebrados no chão
O pé vacila e se mantém sobre os saltos
O pé hesita e não se solta nos passos
O pé fica atrás

Chego a fechar os olhos
pra me deixar levar no seu ritmo
Mas a luz acendeu e de repente ficou tudo tão claro!
Olhos claros de mágoa a se espiar desconfiados
Meu olhar borrado de lápis e rímel e lágrima

A música parou de tocar e teu sussurro é um berro
Um brado desesperado de amor
que me faz dançar com os pés do ouvido

Se nenhuma música mais tocar pra gente dançar
Você dança um poema comigo?

3.7.07

O que há no final do arco-íris?


A chuva parou. Que bom que era verão e as chuvas eram fortes e rápidas. Ainda se podia aproveitar a noite. Fazia calor. Quando chove, um bafo quente sobe do asfalto e transforma a cidade numa enorme sauna a vapor. Ricardo pôs um regata bem fresca, um pouco justa, e um jeans básico. Sábado era o dia das melhores noitadas. E o pai sempre lhe dava um dinheirinho a mais... para o motel, caso arrumasse uma gata. O pai falava "gata" de maneira forçada, pra parecer cúmplice de sua juventude, mas sempre usava umas gírias do século passado. Se tivesse uma filha, talvez lhe desejasse um "pão-de-ló". Mas era bem mais provável que lhe impusesse a castidade, com a formação machista que tinha e de que se orgulhava. Mas Ricardo não queria saber do machismo nem da cumplicidade forçada do pai. Apenas pegou o dinheiro, deu até logo e foi curtir a noite na companhia de seus amigos. Iam a uma boate das mais badaladas.

A madrugada já ia alta nas pistas do Rio. Luzes, som alto, embriaguez, corpos dançando. Tadeu já tinha tomado várias e mal se agüentava em pé, mexia com toda mulher que passava, pegava nos cabelos, falava gracinhas no ouvido quase caindo sobre as moças que se desviavam e desvencilhavam. Até que puxou uma pelo braço e veio junto o namorado tomar satisfação.

- Qualé, meirmão?! Tá querendo arrumar confusão?!
- Ih... o cara tá pensando que é macho! Tu é, é corno, que essa aí já rodou na mão de geral!...
A risada de Tadeu logo se interrompeu com um murro na cara, que o lançou ao chão. Tadeu se ergue cambaleante, mas parte pra cima do cara. Abre uma roda na pista, as mulheres gritam, alguns homens se aproximam pra ver. Tadeu apanha mais que bate, mas quatro amigos seus entram na confusão e o cara acaba levando a pior. Os seguranças da boate chegam pra separar e põem Tadeu e seus amigos pra fora.
- Caraca, rapá, tu viu a cara dele?!, exclama o Maneco já a caminho do carro.
- Deu pra partir umas costelas!, responde o Cacau.
- O nariz também já era!, complementa Cabeção.
E todos dão boas risadas. Quem dirige é o Felipe, o dono do carro, que é ainda o mais embriagado. Canta pneu e segue pela orla avançando os sinais à toda.
- E agora, maluco, vamo zoar aonde?! Eu tô na maior pilha!, é o Maneco quem fala e todos concordam, as vozes se confundem e ninguém mais sabe quem fala o quê.
- Ali, ali, ali, um bando de viadinho!, um deles aponta.
- Reduz, reduz, vamo dar um corretivo nessas bichas!, sugero outro.
- Pára naquela rua ali, vamo ficar na espreita.
O carro passa pela entrada da boate e vira numa rua, todos descem e aguardam de olho na esquina. Ricardo se despede dos amigos e segue naquela direção sozinho.

Ricardo não vê de onde surgem aqueles caras que o cercam. Sente os golpes, um após outro, tentando se desvencilhar inutilmente, balbucia alguma súplica, mas é tudo muito rápido, socos, chutes, xingamentos, palavrões, empurrões, se desequilibra, cai, a cabeça no meio-fio e nada mais.

- Ih, rapá, sujô, sujô!
- Vamo dar o fora!
Os cinco pulam pra dentro do carro, que canta pneu e some pela noite, deixando uma cabeça espatifada para trás.

Demétrius é quem prepara tudo para o enterro do filho, muito reto, muito digno, mas visivelmente abalado. O luto se abate sobre sua família. Demétrius carrega em si um luto redobrado. Não é apenas um filho que ele enterra. Enterra junto sua reputação, sua moral. Aquela morte brutal, naquelas condições, não era só triste, era humilhante. Demétrius jamais aceitaria a homossexualidade de um filho em vida. E não era agora, depois de morto. Se ele não tivesse ido àquela boate... Se não andasse com aquela gente... Se não tivesse esse comportamento imoral, nada disso teria acontecido. De certa forma, culpava pela morte do filho mais a sua homossexualidade, do que os rapazes que o atacaram. A ocorrência fora feita por uma prostituta que passava no local e viu tudo. O delegado foi quem informou ao pai. A prostituta faria o reconhecimento dos rapazes, com mais algumas testemunhas, que reconstituiriam a trajetória deles naquela noite. A imprensa exigia justiça. O pai não queria gravar depoimento e proibiu o assunto a qualquer membro da família.

A imprensa insiste no caso, quer vender notícias sensacionalistas. A polícia insiste no caso, quer a publicidade de sua eficiência. Demétruis quer dar o caso por encerrado. Não lhe faz bem esse tipo de publicidade, um filho gay. Aquela prostituta, que interesse teria no caso? O que uma mulher da vida tinha a ver com seu filho, com sua família? O que aquela vadia pensa que está fazendo?! Resolveu chamá-la e oferecer-lhe uma boa quantia para que se calasse, para que sumisse do mapa, para que deixasse a memória de seu filho em paz, para que o deixasse em paz!

- Engraçado, diz a moça, o pai de um dos rapazes também me procurou, também queria comprar meu silêncio. Era pai de um assassino. Mas o senhor...?! O senhor é pai da vítima!...
- Pois aceite o dinheiro dele, e também o meu, aceite o dinheiro de todos os pais de todos os garotos. Não creio que eles tivessem intenção de matar. Estavam apenas se divertindo às custas de um pervertido. Não merecem que suas vidas sejam destruídas. Já basta a minha. Um filho gay não é algo que se ostente por aí. Já basta um filho morto! Não quero mais saber dessa história! Vejo como as pessoas me olham na rua, no trabalho, pessoas que me respeitavam... Todos sabem, entende? Sabem o que meu filho fazia. Aceite o dinheiro e dê o caso por encerrado. A polícia não terá com o que trabalhar. E a imprensa logo esquecerá, vai arrumar outro pra atormentar.

A prostituta hesita. Não acha justo que a morte do rapaz fique impune. Meu Deus, não é nenhum crime ser gay! Pobre rapaz. Vítima da brutalidade humana. Morto. A prostituta. Vítima da brutalidade humana. Viva. Diante da possibilidade de arrumar sua vida. Era um bom dinheiro, este mais o do outro. Dava pra sair das ruas. Hesita. Emudece.

- E então?, indaga Demétruis.
Ela estende a mão. Afinal, que interesse teria no caso? Dá de ombros e se vai.

Não demorou para que a polícia esquecesse o caso. Não demorou para que a imprensa esquecesse o caso. Demétrius jamais esqueceria. Mas estava mais aliviado.
Naquela tarde choveu pouco. Já era outono. E logo abriu o sol, formando no céu um imenso arco-íris. Neide não se prostituía mais. Comprara uma casinha modesta, mas bem ajeitadinha. E de sua janela contemplava o arco-íris no céu, sendo inundada por uma doce alegria que poderia chamar de felicidade.
Logo anoiteceu. E com seu carro Felipe pegou um a um em casa: Tadeu, Maneco, Cacau e Cabeção. Era sábado. Dia das melhores noitadas do Rio!...

1.7.07

"Belvedere" na FLIP


Roubei lá do blogue do Chacal a divulgação do lançamento de seu livro de obras completas, Belvedere. A imagem aqui ficou pequena, então seguem as informações:
Festa de lançamento do livro "Belvedere" na FLIP
Recital com o autor, Augusto Massi, Carlito Azevedo e eventuais surpresas
Festa comandada pelo DJ Dany Roland
Quinra-feira, 05 de julho, das 22 às 02h.
Bar do Lucio
Pça. da Matriz, 03
Centro Histórico, Paraty
Entrada grátis