28.1.12

amor é mais música


Amor é mais música que coração.
É o jeito como ele sorri com os olhos e me traduz uma letra dos Beatles.
É o jeito como ele me gira num passo de dança no meio da rua, e eu me jogo em seus braços, e a gente se desequilibra, mas ele me segura e eu não caio.
Amor é mais música.
É a gente saindo de casa às 3 da madrugada e entrando no supermercado só pra comprar outra garrafa de vinho. É a gente no supermercado deserto, o jeito como a gente ri e flana embriagados, tão fora daquele contexto de congelados e enlatados, e das prateleiras em organização perfeita.
É o jeito como a gente se esquiva dos rótulos.
É o jeito como a gente nem liga pros outros, suas fábricas de rótulos, suas máquinas registradoras.
Amor é mais.
É o sotaque daquelas boas e velhas risadas, que a gente solta por qualquer coisa ou por nada. Amor não tem nada a ver com êxtases ou desesperos – isso é sexo, carência ou medo. Amor é um olhar cúmplice de companheiros de viagem, que há muito já sacaram que não tem sentido nessa estrada; que o jeito é meter o pé, aumentar o som, e deixar o vento bater na cara. É também a gente rosnando numa manhã mal humorada, pela luz acesa, pela luz apagada. É soltar os cachorros, puxar o freio, e fazer disso outra piada. É aquele solo de guitarra.
É mais música.
É a gente dizendo poemas e acumulando livros e vidas sobre a mesa, entre as latinhas vazias de cerveja.

Hoje tem!

O melhor lugar do mundo é você

Quando eu penso que já te amo o bastante, você sempre dá um jeito de me fazer te amar mais. Um cafuné para as lágrimas e um travesseiro para o meu cansaço, eu me esqueço nos seus braços. Você consegue me arrancar as melhores risadas nos momentos mais raros. Você me traz toda a calma que me falta. E eu me pergunto mesmo, a sério, que espécie de anjo é você, meio torto, que faz da pomba símbolo de amor – seu bobo, a pomba é da paz! Aí você dá risada, e com o teu amor me dá paz. Sem dúvida que meu anjo é barbudo e tem a barriguinha mais sexy do mundo. Sem dúvida que meu anjo toma uma cervejinha comigo, até a gente fechar o boteco. Sem dúvida que meu anjo não é nenhum santo. Mas eu sei que se chover, você se transforma num guarda-chuva, só pra me proteger. Você me surpreende. Tira um coelho da cartola, uma rosa, um sorriso. Você vai tirando da cartola um mundo inteiro pra refazer o meu mais bonito. E eu nunca te amo o bastante, porque eu sempre te amo mais, e mais e mais... e você tem toda a razão na confusão dos símbolos: amor não é coração, um músculo pesado, palpitante, fechado, escuro; amor é coisa que voa leve, amor é paz.

13.1.12

E A GENTE SEMPRE ESPERA PELO FINAL FELIZ

Gostaria que todo o medo fosse causado por uma sexta-feira 13, um gato preto, a distração de passar por debaixo da escada. Que todo o medo fosse o terror nas telas de um filme B, que todo o suspense se resolvesse em alguns fotogramas, que o susto fosse rápido. Que todo o medo tivesse o “the end” em duas horas no máximo. Que o medo fosse uma máscara do Jason, uma serra elétrica, pássaros, pássaros, muitos pássaros, um símbolo facilmente identificável. Que todo o medo se dissipasse no acender das luzes. Que todo o medo se dissipasse. Que o medo não passasse de superstição, ficção, invenção da humanidade. Mas o medo às vezes surge por debaixo da porta, invisível. O medo é uma realidade não palpável. O medo, o terror, o susto, não são nenhuma invenção. Isso tudo é a própria humanidade. Eu tenho o medo na carne. Muitos medos. E um terror que é quase vertigem. Eu tenho medo de andar distraída, dos meus tropeços. E por isso essa tensão nos ombros, todas as dores, no corpo e na alma. Por esse medo que me espreita atrás do espelho, todas as dores. Todas as minhas dores são medos encarnados, meu corpo encolhido atrás de um móvel, meus olhos arregalados. O mundo podia pegar mais leve com a gente, ser mais suave. Nós, que ainda somos eternas crianças. Que precisamos desesperadamente de todas as brincadeiras, de todos os jogos e sorvetes, e das formas coloridas. E de alguns colos quentes quando alguma coisa dá errado. O mundo podia pegar mais leve, ser mais suave, dissipar os medos. Ser uma canção de ninar ao pé do ouvido. E amanhecer com aquele solzinho que aquece e acalma, aos poucos, preparando um novo dia nas nossas almas.

EU NÃO SOU CAZUZA PRA PEDIR PIEDADE

se a alma é pequena, não, não vale a pena... a pena que se usava para tingir palavras. não vale a pena, a caneta bic, a tecla. há almas que não valem nada. até o desprezo é para poucos. de outros, eu sinto pena. mas se a alma é realmente pequena, muito pequena, um quase nada. não vale o silêncio que eu respiro. quanto mais minhas palavras preciosas de poeta. não vale nada. a pena, a caneta bic, a tecla. uma alma pequena nunca pode compreender a vastidão de um poeta.
eu gosto das almas amplas, com imensas varandas. das almas arejadas, que ventam. das almas desassossegadas. das almas vastas, claras, infinitas. de almas que valem não apenas a pena, a tinta colorida de todas as palavras. de almas que valem a vida.
é para elas que eu me entrego de corpo e alma e poesia. é por elas que eu sou vasta e poeta, criança e poeta, pássaro azul e poeta... esses sinônimos.
uma alma pequena não pode compreender como um poeta pode ser ao mesmo tempo uma borboleta amarela, um boto rosa, um cisne negro e um elefante branco... uma alma pequena nunca será uma flor azul, de plástico, regada na janela. uma alma pequena não será um picolé de limão no inverno; não será uma cabana abandonada na estrada; não será a estrada... nada.
tudo pode ser um poeta. todos podem ser uma criança vasta pássaro azul, um poeta, um poema. mas é preciso ter alma, navegar no impreciso, valer a pena.