E na terça, dia 1º, apresento "Oração", de Fernando Arrabal, com Aline e Nanda no Jardim da UNIRIO, às 19h30. Desde às 16h30 estarão rolando várias cenas. A nossa vai ser a última. O texto é foda e a nossa encenação acho que tá no mínimo interessante. (é a tal cena pra qual eu tava testando cheirar açúcar)
28.11.09
Esfinge e Oração - amostra grátis
E na terça, dia 1º, apresento "Oração", de Fernando Arrabal, com Aline e Nanda no Jardim da UNIRIO, às 19h30. Desde às 16h30 estarão rolando várias cenas. A nossa vai ser a última. O texto é foda e a nossa encenação acho que tá no mínimo interessante. (é a tal cena pra qual eu tava testando cheirar açúcar)
27.11.09
26.11.09
A menina não estava sozinha. A seu lado, um coroa vidrado na gatinha. Tavinho devia estar mais inseguro que ela, apesar de sua longa estrada. Assim, como ficam os coroas com gostosas bem mais novas e cheias de atitude, meio desconsertados... Encontrei Tavinho mais cedo transtornado pelo esporro que tinha tomado da BB por tê-la feito borrar a unha. Que nem a criança que acabou de levar uma bronca da mãe porque fez coisa errada. Tavinho seria um desses moleques bem agitados, que não pára quieto um só segundo, que é a mãe desviar o olho e ele já virou o mundo de pernas pro ar, construiu um foguete com utensílios de cozinha e já está pronto pra embarcar! E embarca... Depois volta cheio de novidades, e já marcou com o ET dono de um bar um show de poetas no meio do Sistema Solar! Tavinho é assim. E ai de quem não acompanhar! E lá estava ele no palco dizendo: “Eu só posso ser aquilo que eu sou 24 horas por dia”. Tavinho é assim. É o que ele é. E é tudo o que ele queria.
Um pouco antes eu adentrava o Canecão, junto com a minha irmã, Aninha, com um convite que dizia “Setor B, Mesa 364”. O que eu procurava era o meu lugar, e não essa indicação. O meu lugar que era junto com Marcela, Maysa, Fernão, Juju, Eliana, Tito, Adriana, Maristela, Dalberto, Ricardo, Bayard, Luiz etc etc etc. Estavam todos lá, os poetas, aglomerando mesas que não era “as suas”, pra verem juntos aquilo que seria um acontecimento poético-musical no palco de peso do Canecão. Os poetas, acostumados a viver em guetos, eventinhos de poetas para poetas, vibrando com aquela janela, portão, grade, porta de garagem, porta aberta, escancarada, dando passagem pra palavra. E foi assim que, extasiados, vimos Betina entrar. Depois Tavinho. Num bate-bola lindo! Um dando o passe pro outro marcar. Preparando o território pra Karla Sabah.
Karlinha entrou gostosa, falando o poema que ela deu o título de Madame Kaos. O show foi todo lindo, ela brilhou! No final os poetas foram todos pra linha de frente, pra beira do palco, dançar, como boa vanguarda, convidando o público todo a se levantar. E no bis do “Cala a boca e me beija”, num momento me deu um estalo, é agora: subi no palco e fui caminhando com os braços abertos em direção à Karlinha, que feliz em me ver, retribuiu o meu beijo, um estalinho, um abraço, outro estalinho, e a minha saída calmamente do palco. Não poderia sair dali sem atender ao pedido que ela me fazia no outdoor, sempre que eu passava na frente do Canecão, durante uma semana inteira, e que ela reiterava com a sua linda voz na primeira execução da música e durante todo o bis. Um beijo que diz “eu te amo” em silêncio. E fica ecoando...
Fotos: Maysa Britto
alô, alô, testando...
24.11.09
23.11.09
EXPLOSÃO
de manhã especialmente
sempre penso em explosões
ligo o gás pra preparar o café
explosões
andando pela rua vi três botijões de gás empilhados,
um em cima do outro
pensei em explosão
quando bati de carro
pensei em explosão
sempre que passo por um posto de gasolina
penso em explosão
às vezes acendo um cigarro.
BAGANA NA CHUVA
ele costumava olhar os pássaros
o retrato de uma garota e um estilete que não ia usar
caiaques no céu
baganas atiradas em poças d’água
gotas de chuva com gosto de pepsi-cola
ele nunca conseguia chegar em casa
era preciso pegar uma mulher e fugir pra algum lugar
um lugar onde não se ouvisse falar de amor
onde ninguém soubesse tocar saxofone
mas ele apenas tomava conhaque na janela ouvindo blues
(música é melhor que saber o caminho de volta pra casa)
20.11.09
BLUE EYES
blá blá blá blá
ele é totalmente demais
ele tem um grupo de green eyes
com seus olhos the blues man
the girls da sua life
as she-has do seu he-man
qualquer coisa dá o start
ele não aceita o stop
art é action, vida é arte
ele é pop, ele é top
com seus olhos de blues man
suas moças de green eyes
sua batida beat
transportada em bytes
ele não topa o stop
ele quer sempre mais
seu heart beat bate
pelas belas de green eyes
* autor de músicas como "Rádio Blá", "Totalmente demais" e "She-ha" - siiiiim..., a da Xuxa! grande poeta. e grande amigo.
ESSA COISA
essa urgência
uma ânsia
uma coisa qualquer
um impulso
um fascínio
uma atração incontrolável
isso que é inominável
sem explicação
esse jogar-se
atirar-se ao precipício
um sorriso no rosto
no abismo
o chão se aproxima
a queda é certa
vai doer, vai sangrar
vai espedaçar
você pode morrer
você pode matar
todo o risco
todo o medo
tudo o que é angústia e desespero
se desmancha no ar
naqueles segundos
em que a paixão clareia os sentidos
tudo é leve, não há gravidade
e você sabe,
contra todas as leis da física,
você sabe que não está caindo
e mais do que tudo, você sabe
tem a plena certeza
de que sabe voar
16.11.09
QUANDO NÃO SE ACREDITA
quando você não acredita
em comerciais de margarina
em novelas do manoel carlos
a vida até que é boa
quando você não acredita
em deus e no diabo
no certo e no errado
a vida até que é boa
quando você não acredita
em previsão do futuro
em remissão do passado
a vida é boa
quando não se acredita
quando ela simplesmente
(se fingindo de acaso)
te surpreende
APENAS ISSO.
você e eu
cercados de antenas
de topos de prédios
à nossa frente, o precipício
o abismo sob nossos pés
e a gente sentado em silêncio
balançando as pernas
lado a lado
um suave sorriso
e a leve impressão
de que viver vale a pena
14.11.09
GATINHO DE ESTIMAÇÃO
jogada no sofá lendo um livro, fumando um cigarro, no silêncio que é a minha calma
e um gato passeando pelas minhas pernas
vindo acomodar-se perto do meu peito
bem de mansinho...
só pra eu sentir, entre um ronronar e outro,
um leve alívio de ser amada
(mas não há gato, não há alívio, não há nada)
13.11.09
INESPERADO
é que tem coisas realmente inesperadas
é que eu não sei quantos chopps tomei
nem que horas eu vou voltar pra casa
é que de repente eu me animei
é que de repente eu não sei
eu simplesmente não sei
nem sei se eu quero saber de alguma coisa
é que eu simplesmente me deixo levar
e que tem coisas inesperadas
é que o que se espera é muito chato
o previsível, indesejado
é que de repente o desejo nasce do acaso
é que de repente o acaso é um caso sério
é que nada é de caso pensado
é que o que se pensa é muito chato
o impensado, desejado
é que de repente o dia amanhece
é que de repente a vida amanhece
é que de repente, eu ainda estou de noite
eu preciso de óculos escuros
com vista pro mar
eu preciso de você
com vista pro mar
das aves negras no céu
das ondas brancas no chão
das bebidas trancadas no bar
de burlar a segurança
das saídas de emergência
do 28o andar
de tudo o que nos ronda
de tudo o que eu nem sabia -
de tão inesperado! -
que eu iria precisar
você e eu (só)
(sem vista pro mar)
9.11.09
IMINÊNCIA
o por fazer melhor que o feito
muito maior que o ato (mais vasto...)
o que está nas mãos está nas mãos.
não é desejo de pegar
[a mão só avança pelo que fica no ar]
desejar e ter é muito bom - essa urgência...
mas bom mesmo é morder o sanduíche pelos lados
e deixar por último o meio cheio de recheio!
ou comer primeiro a parte seca do biscoito recheado
ou guardar aquele último gole de coca-cola pra manhã do dia seguinte de ressaca - hummm...
a coisa deixa de ser a coisa em si e vira um objeto de desejo
como um beijo guardado
[estamos sempre na iminência de algo]
longa viagem para avestruzia
eu queria ver avestruzes cruzando o aterro esta noite!
avestruzes enormes cruzando o aterro do flamengo
para espanto dos seres terrenos
1, 2, 3, 4, 5... vários!
nas duas pistas
correndo
não me pergunte por que avestruzes
são seres estranhos
meio pássaros, meio humanos
como um gordo americano empunhando o seu bic mac no pódio
tendo a velocidade de um keniano
avestruzes enormes, gordos, comedores de bic mac e corredores de maratona
com suas pernas finas e compridas dando largas passadas de corrida
cruzando o aterro despreocupados, desprevenidos dos carros
para espanto dos motoristas embriagados
ia dar no noticiário:
“acidente no aterro é causado por avestruz na pista”
“de acordo com testemunhas, os avestruzes desembarcaram minutos antes no aeroporto santos dumont”
“ainda não se sabe por que vieram”
“os avestruzes permanecem detidos para averiguação”
“segundo o comandante do 13º batalhão, ainda não foi possível colher os depoimentos porque os avestruzes não falam a nossa língua”
precisa-se de tradutores de avestruz – anunciaria o jornal nos classificados
tradutor de avestruz se tornaria um emprego valorizado
não por ser um trabalho assim tão bacana, mas por estar em falta no mercado
logo surgiriam os cursos especializados:
- avestruzês para iniciante
- avestruzês – curso básico
- avestruzês advanced
e as publicações:
- avestruzês para viagem – guia de bolso
etc.
e até as universidades ofereceriam habilitação no curso de letras
marque a opção de habilitação no curso desejado:
( ) inglês
( ) francês
( ) alemão
( ) espanhol
( ) avestruzês
e por aí vai...
mas tudo isso não tem a menor importância
eu só queria ver avestruzes cruzando o aterro esta noite
sem nenhum sentido político, social ou educativo
pela sua total falta de sentido
pela sua total irrelevância
só porque eu acharia bonito
como uma poesia
cruzando o aterro para estar comigo
espelho sem água
sem margem pra debruçar
miragem, miragem
caminho pra algum lugar
deserto, lugar de passagem
lugar que não dá pra ficar
sempre igual, sempre igual
duna aqui, duna ali
vários contornos
a mesma paisagem
sempre o mesmo chão
sempre o mesmo sol
sempre a mesma noite fria
depois do calor do dia
sempre o mesmo céu
sempre o mesmo sou
em busca de oásis
deserto de areias brancas
deserto sem água
sem margem pra debruçar
espelho sem fim
5.11.09
NO SILÊNCIO DAS HORAS
dolorida em todas as demoras de não ser
do não sei...
o não que se impõe no talvez
sem nunca ter sido dito
ecoando no tempo esgarçado
no espaço vazio
o não na voz são três letras
palavra de curta duração
bala que atinge em cheio
uma só dor, e a paz eterna
o não no silêncio é a sala de espera
é a sala de espera
é a sala de espera
espera
espera
hemorragia interna
eterna, silenciosa, consumida de dores de demoras
como é triste a resposta que se dá no silêncio das horas