31.5.08

a loucura me fascina
estou sempre à beira
à sua espreita
à sua espera
é sua a imagem do espelho
os olhos vermelhos
os olhos inchados
revirados
virados das noites em claro
eu conheço esse olhar assim de lado
ela me espia
por trás do espelho
por trás dos olhos
por trás de tudo
até de olhos fechados
dentro dos sonhos
e das insônias
ela se sente em casa nas madrugadas
e pelas ruas devastadas
ela se sente nua
bem à vontade
tudo o que eu não sei
ela já sabe
tudo o que eu quero
ela já tem
é um conforto
me largar nos seus braços
ela me acolhe tão calma
a gente podia dançar uma valsa
na areia da praia
na piscina da festa
a gente podia fazer seresta
em todas as janelas ao mesmo tempo
entrando por todas as frestas
fazendo o mundo dançar
um ritmo que ainda não há
a gente pode reinventar o mundo
criar um deus à nossa imagem e semelhança
um deus criança
um deus astronauta que dança no ar
não confio em deuses que não sabem dançar
ou pular amarelinha pra chegar no céu
só confio em estrelas cadentes
mais rápidas que um desejo
a vida é veloz
mas precisa de luz pra cortar o espaço
quantos interruptores eu já desliguei
pra ver seu olhar brilhar no escuro
a cidade tem muitas luzes falsas
um poste é parado como um poste
luz é movimento
lua e sol descrevem um círculo no espaço
eu descrevo vários círculos
em torno de mim
em torno do outro
e nunca volto ao mesmo ponto
olhos que brilham no escuro
eu não tenho medo
da loucura
nem da morte
se há de vir
venha sem pressa
me pegue pela mão
me dê um beijo
a vida é um sopro
eu gosto de cabelo ao vento

Poesia, você está na Barra (mas com um pezinho em Niterói)

Poesia, Você Está na Barra

POVEB 17
(O POVO DE NITERÓI)

Dia 06/06/2008 - 19h (sexta-feira)


No Piano Bar do Clube do Condomínio Novo Leblon, Av. das Américas, 7607, Barra da Tijuca, em frente ao shopping InfoBarra.

Venha com seus poemas e a vontade de dizer poesia. E traga seus amigos para curtir momentos de descontração e sonho ao lado de renomados poetas da Barra e da cidade.

Convidados Especiais

Beatriz Chacon carioca de Piedade, residindo em Niterói há bastante tempo. Poeta, jornalista e autora dos livros Mesa Posta, Surpresa de Quintal e Veios do Corpo. Começou com o seu trabalho poético em 1987, através de cartazes com versos (poesia pra “pintar paredes”).

Beatriz Provasi transita entre o cinema, o teatro, a poesia e a produção cultural. Curadora da Galeria de Artes do ICHF na UFF. Começou a recitar em 2005, na FLIP, em Paraty. Participa de vários eventos poéticos no Rio. Integra o grupo Madame Kaos, com Juliana Hollanda e Marcela Giannini.

Naldo Velho poeta, letrista, artista plástico, músico (compositor). Autor do livro Mania de Colecionador. Criador do evento Músicos Recebem Poetas, realizado junto à Secretaria de Educação de Niterói. Produtor do evento Todas Elas e Alguns Deles, junto com os poetas Sérgio Gerônimo e Márcia Leite.

Apoio: APPERJ, Associação Profissional de Poetas no Estado do
Rio de Janeiro

Coordenação: Mariangela Mangia e Aluizio Rezende
Informações:
alurez@oi.com.br ou 86257878

O Metrô-Integração deixa você na porta do Condomínio Novo Leblon

Visite o site do Poveb:
http://br.geocities.com/poveb_poesiaecultura

29.5.08

Corujão da Poesia em Niterói

No dia 29 de maio, das 20h30 às 4h, acontecerá a Primeira Edição do "Corujão Paratodos-Universo da Leitura", em Niterói, no Teatro Paratodos (e no espaço lindo do terraço e varanda, anexos ao Teatro PAraTodos, com vista para a Praia e Baia de Guanabara), na Praia de São Francisco,325, no Shopping Lido - Sobre-Loja), onde artistas e platéia terão microfones e palco abertos para darem vazão à criatividade e à sensibilidade (poesia, música, cinema, artes-plásticas, artes-circenses, dança, performances em geral). Entrada franca.

28.5.08

que bicho me deu?

eu queria ter a liberdade de um bicho preguiça subindo na árvore com o filhote agarrado no colo
queria essa liberdade agarrada, aconchegada, lenta e macia
não quero medir liberdade em tamanho das asas, altitude do vôo, no canto triste de um pássaro solitário que risca o horizonte
não quero a liberdade assim ao longe
quero antes a liberdade dos macacos catando piolhos nos outros

a liberdade dos vira-latas que acasalam nas ruas e cheiram-se os rabos despreocupados
eu quero a liberdade dos pombos que se reproduzem nas praças não se sabe como (ninguém jamais viu filhote de pombo!)
eu quero a liberdade dos coletivos dos bichos
colméias, cardumes, manadas
juntos por instinto de sobrevivência e mais nada
a liberdade não é sozinha
a liberdade é
o ser livre não se pensa livre
é
e eu, que tanto me penso livre
e não sou
quero voltar ao meu estado bicho
meu grito é o cio de um gato selvagem
o uivo de um lobo que sempre se cruza com outro
como o canto de um galo
uns que tecem noites

outros, as manhãs
e o cio do gato que tece o desejo por outro gato
gatos também choram?
sei que até os leões sangram, que todo animal tem medo
mas bicho reage, não reza
bicho até foge
só não fica parado
só bicho-homem se deixa ser massacrado
animal racional?
eu não, eu quero a irracionalidade, o instinto, a mais pura liberdade
eu quero o veneno da cobra pra me defender
enquanto os homens se envenenam a si mesmos e vagam mortos de olhos abertos
eu não me deixo tão fácil abater
antes de tudo,
eu quero viver

26.5.08


segunda feira 26 de maio / 20 hs
TEATRO DO JOCKEY

(entrada de carro = rua mário ribeiro, 410 - estacionamento gratuito / entrada a pé = rua bartolomeu mitre, 1110, entre o miguel couto e a praça do jockey )

com

madame kaos / bárbara araújo / eliza vianna / igor cotrim
gean queiróz / daniel magrão / dudu pererê / marcello magdaleno
glauce guima / kyvia rodrigues / alice sant'anna
na boa (andré maurois) / márcio januário / dado amaral
márcio-andré / cecília borges + verônica debom
tavinho paes / maurício antoum / chacal

25.5.08

Clarice & Beatriz

Existe um ser que mora dentro de mim como se fosse casa dele, e é. Trata-se de um cavalo preto e lustroso que apesar de inteiramente selvagem - pois nunca morou antes em ninguém nem jamais lhe puseram rédeas nem sela - apesar de inteiramente selvagem tem por isso mesmo uma doçura primeira de quem não tem medo: come às vezes na minha mão. Seu focinho é úmido e fresco. Eu beijo o seu focinho. Quando eu morrer, o cavalo preto ficará sem casa e vai sofrer muito. A menos que ele escolha outra casa e que esta outra casa não tenha medo daquilo que é ao mesmo tempo selvagem e suave. Aviso que ele não tem nome: basta chamá-lo e se acerta com seu nome. Ou não se acerta, mas, uma vez chamado com doçura e autoridade, ele vai. Se ele fareja e sente que um corpo-casa é livre, ele trota sem ruídos e vai. Aviso também que não se deve temer o seu relinchar: a gente se engana e pensa que é a gente mesma que está relinchando de prazer ou de cólera, a gente se assusta com o excesso de doçura do que é isto pela primeira vez.
Depois, de tanto ele relinchar, sinto cócegas na garganta e o sorriso se alargar. E é desse meu riso selvagem que o cavalo cria asas e sobrevoa a humanidade. À noite ele volta pra casa, pro meu corpo que se abre: me traz coisas do mundo, me dá suas asas, e toda a sua liberdade...!

A primeira parte do texto é da Clarice Lispector, que falei no CAPS que leva seu nome. A segunda ela me soprou ao ouvido depois, sob a lua cheia, quando olhava sozinha o mar do Arpoador... Vou falar nossa parceria no CEP 20.000!

24.5.08

eis por que eu queria ter viajado neste feriado:














gosto de chuva
não a chuva ácida das cidades
a chuva do mato, das serras
o cheiro de terra molhada
as gotas grossas caídas das folhas das árvores
um cheiro verde e molhado
um cheiro grosso e barrento
as gotas grossas massageando o rosto
os cabelos, as roupas pesadas
tudo escorrendo pra terra
onde planto meus pés-raízes
e da terra para os rios
os rios cheios, revoltos
meus pés revoltosos correndo
no molhado macio da terra
para beirar o rio
não convém mergulhar
mas ver o encanto da fúria das águas
que a chuva nele desperta
o encontro das águas do céu e da terra
a chuva vai rareando até parar
o sol entra em cena
pra evaporar lentamente as águas da terra
e torná-las mais fortes em cheiro que sobe
o rio vai se acalmando, clareando
o estalo das águas dá lugar ao canto dos pássaros
o sol pouco a pouco secando a minha roupa
queimando o meu rosto
até que retorno às águas da chuva nas veias do rio
mergulho macio
felicidade é o macio das águas
tem gosto de chuva
cheiro de terra molhada
orquestra de passarinhos
visão do mirante da estrada

23.5.08

Poesia: com quem? pra quem?

Tenho tido momentos incríveis nessa coisa de falar poesia. Depois de quase 3 anos freqüentando eventos de poesia, nos quais fiz amigos maravilhosos, ouvi e disse muita coisa interessante, troquei muito, aprendi muito, cresci junto etc. Tenho agora encontrado outros espaços e um convite à reflexão.
O primeiro é a formação de um coletivo. Por mais que tenha estado sempre muito próxima aos Ratos di Versos e me sinta integrada, não fazia parte efetivamente do grupo. Fiz o Bia e Cia. com o Chacal no CEP, mas era um casal, e não um coletivo. Até que veio a Madame Kaos. Marcela e Juju são minhas parceiras inseparáveis. Amo trabalhar com elas, porque a gente tem uma sintonia rara. A gente troca os textos, conversa, pensa junto na performance, e sempre ensaia no banheiro! Tá explicado porque vamos juntas ao banheiro feminino?! rs... Marcela saiu da toca, Juju tá decorando os textos, e eu já perdi totalmente a timidez, com elas no palco eu sempre me sinto à vontade! Com elas também eu comecei a sair dos círculos de poesia a que estava habituada, conheci outros espaços, do Geringonça na Tijuca ao Caldo Cultural no Vidigal.

Madame Kaos no 1º Poemática

Depois veio a criação de um evento. Não se trata de mais um evento nas casas noturnas, teatros, bares e livrarias do Rio. É um evento dentro de uma Universidade. Em Niterói. Essa minha cidade tão carente de coisas legais. Consegui fazer um evento, e fazer um evento legal. Poemática - A indisciplina da poesia. Junto com a Bárbara, outra bela poeta saida do CEP que veio parar na UFF cheia de gás. Fizemos o primeiro com as mulheres, o segundo com os Voluntários da Pátria, o terceiro com o Sistema Nervoso Alterado, e mais os poetas vários que sempre vêm, a turma de Niterói, Fernão, Maysa, Betina, Marcela, Pierre, Guto, Tomasini, Lucília... a turma do Rio, Dudu, Dandan, Augusto, Aluízio... Cada mês tem um tema e a gente consegue trazer com a poesia alguma reflexão. O último foi a luta antinanicomial, e foi sensacional! O próximo será na última quarta de junho, ainda não sei qual tema...

Sistema Nervoso Alterado no 3º Poemática

Não bastasse tudo isso, o meu encontro com os Voluntários ainda me proporcionou a terceira e mais importante virada. A questão que me colocou foi pra quem falar poesia? Depois de ir com eles falar para os presos numa delegacia, e para os loucos num CAPS, fiquei me perguntando por que freqüentava eventos de poesia em que falamos pra nós mesmos e muitas vezes nem nos ouvimos. Gosto mais de ir aos eventos pra encontrar os amigos que pra falar poesia. Percebi isso. Prefiro falar poesia num CAPS ou numa delegacia. Na minha Universidade. Poesia para quem precisa.

Voluntários da Pátria no CAPS Clarice Lispector

No meio artístico as pessoas em geral querem mais aparecer por si que perceber o outro. Durante muito tempo freqüentei vários eventos sem falar nada. Tinha um quê de timidez. Mas também uma falta de vontade. Eu gostava de ouvir os outros. Hoje que sou mais conhecida no meio me sinto quase na obrigação de falar, como se ir a um evento e não falar nada fosse como uma desfeita para os amigos que organizam. Porque existe uma ânsia tão grande pelo microfone que parece estranho não participar disso. Pouco depois da delegacia, fui num evento de amigos e não quis falar. Disse apenas que não tinha vontade, não estava bem, e eles entenderam. E depois eu também entendi. Não que eu não vá falar poesia em mais nenhum evento, nem que vá deixar de freqüentá-los, não é isso. Mas como a gente não tem tempo de fazer tudo, a gente precisa ter prioridades. E eis aqui elencadas as minhas três prioridades: Madame Kaos, Poemática, e trabalhos voluntários em espaços carentes de artes, com os Voluntários, a Madame Kaos, sozinha ou com qualquer outro grupo, falar poesia para quem precisa e dar e receber o calor de um abraço de quem não tem mais ninguém para abraçar.
Voluntários da Pátria no CAPS Clarice Lispector

19.5.08

das coisas simples que a gente não pode falar

as coisas são simples
eu que me perco em devaneios literários
as coisas são como são
eu sozinha no carro, dirigindo sem direção
eu com um celular silencioso nas mãos
vontade de ligar
e a razão me dizendo que não
eu paro nos sinais vermelhos
não é mais madrugada
o dia já clareou
hoje eu não vou pra casa
o sinal abre
eu sigo em frente
o farol ainda ligado
já é dia claro
apago o farol
meu carro que tava tão cheio
balança agora vazia
uma latinha de cerveja largada no chão
e no banco do carona,
em que agora repousa a minha bolsa
com o celular que eu não vou pegar,
você já esteve sentado
me pedindo pra te levar pra qualquer lugar
eu te levaria pro infinito
se você dormisse comigo
dormisse mesmo no sentido literal
você do meu lado, roncando
(será que você ronca?)
eu ia até achar bonito...
te ver dormindo
um rosto vulnerável
sem caras e bocas
sem máscaras
troco a marcha, acelero
eu te levaria ao mundo inteiro
paro no sinal (como tem sinal vermelho!)
agora eu não te levo mais pra casa
seria te largar nos braços dela, te entregar
as coisas são simples e eu não quero mais confusão
se quiser se sentar ao meu lado, eu não te entrego, eu não te largo
vai com as próprias pernas
trilhar o caminho com o qual você já tá tão bem acomodado
deixa o incomodo comigo, eu me viro
eu viro a esquina
eu hoje não vou pra casa
na minha irmã eu busco abrigo
eu estaciono, entro no prédio, subo no elevador
e o vazio do carro eu carrego comigo
eu falo oi e peço uma caneta
rabisco, rabisco, mas não consigo escrever um poema de tudo isso
como literalizar coisas tão simples
e que não têm tradução em palavras?
você nunca vai saber o gosto das minhas lágrimas
você não pode prová-las
eu sentada na cama, no quarto escuro,
a vista afogada,
eu vejo apenas você caminhando, caminhando...
levado pelas suas pernas, pelo seu desejo
e vejo também alguém te esperando
alguém talvez também com gosto de lágrimas na boca
mas é aquela boca que te espera para um beijo
as coisas são simples
eu que me perco em devaneios...

18.5.08

18/5: Dia Nacional da Luta Antimanicomial

O Movimento Antimanicomial , também conhecido como Luta Antimanicomial, se refere a um processo mais ou menos organizado de transformação dos Serviços Psiquiátricos, derivado de uma série de eventos políticos nacionais e internacionais. O termo costuma ser usado de modo generalizante e pouco preciso.
O Movimento Antimanicomial tem o dia 18 de maio como data de comemoração no calendário nacional brasileiro. Esta data remete ao Encontro dos Trabalhadores da Saúde Mental, ocorrido em 1987, na cidade de Bauru, no estado de São Paulo.
Na sua origem, esse movimento está ligado à Reforma Sanitária Brasileira da qual resultou a criação do Sistema Unico de Saúde - (SUS); está ligado também à experiência de desinstitucionalização da Psiquiatria desenvolvidas em Gorizia e em Trieste, na Itália, por Franco Basaglia nos anos 60.
Como processo decorrente deste movimento, temos a Reforma Psiquiátrica, definida pela Lei 10216 de 2001 (Lei Paulo Delgado) como diretriz de reformulação do modelo de Atenção à Saúde Mental, transferido o foco do tratamento que se concentrava na instituição hospitalar, para uma Rede de Atenção Psicossocial, estruturada em unidades de serviços comunitários e abertos.
O Movimento Nacional de Luta Antimanicomial (MNLA) é um movimento social existente há 17 anos e disseminado por todos os estados do Brasil. Tem como metas o fechamento de hospícios e manicômios do país e a promoção de uma cultura de tratamento, convivência e tolerância, no seio da sociedade, para as pessoas com sofrimento emocional de qualquer tipo.

14.5.08

tudo me escapa das mãos, entre os dedos, tudo vaza, tudo foge, tudo é líquido, tudo é ar, tudo é incontido, e eu preciso me conter, algum recipiente que me caiba, mas eu transbordo em fluxo contínuo sem saber pra onde vou... não tenho nada. não sei onde encontrar o que busco, porque não sei o quê. não tenho asas mas arrisco vôos em todos os parapeitos com vista pro vazio do mundo repleto de coisas. todas as coisas que eu não tenho. não me importo com elas. são o concreto da ausência. minha angústia é outra ausência. não das coisas. mas do algo. do isto que eu não sei. e a presença dessa ausência é o que me dissolve. essa ausência é o eu não estar aqui. o não saber onde encontrar o eu que me perdi. e aí mais nada. tudo escapa porque as mãos estão ausentes. e não há pés para seguir em frente. e não há quem complete a parte que não há. e nem dá para fugir daqui quando não se está. não dá para fugir de qualquer lugar quando é o não-lugar. quando é o não. queria que a vida fosse sim. e eu tivesse os olhos cheios de algo. mais. que fosse soma. mas eu me distraio. eu perco a conta. me deixo entrar no vermelho de olhos inchados. depois desboto. cores não colorem ausência. viram cinzas. cinzas de uma inexistência lançadas no abismo. se ao menos meus olhos estivessem aqui, talvez me visse lá. no fundo. mas nem isso. meus olhos são jogados de avanço a quem quiser pegar. só não deixe cair no chão não deixe cair não deixe

13.5.08

UMA CARA NOVA NUMA NOITE QUALQUER...

Enjoei da cara do meu blogue. Desde que o criei, em 2005, mantinha o mesmo layout. Nenhuma grande novidade, pq eu gosto simples assim. Quase deixei o fundo todo branco, mas ficou com muita cara de word. Então vai preto mesmo, que é melhor, e se assemelha mais à noite. Afinal, essas coisas eu faço mesmo é "numa noite qualquer"... especialmente as de insônia!
Boa noite, vou tentar dormir um pouco pra não pensar em toda ausência que invade as madrugadas...
ps. não consegui dormir, aí criei essa montagem aí em cima para o título. uma coisa meio egocêntrica, eu, eu, eu! bem a cara dos meus poemas... então tá bom, tá tudo certo! bom dia, vou dormir. (será?!)
ps.2 na mudança de layout, perdi o contador de visitas. alguém sabe como faço pra recuperar?

12.5.08

Mãe, compra figurinha?

De Juliana Hollanda

Para Chacal, Beatriz Provasi, Marcela Gianini, Gean Queiroz e Igor Cotrim

páginas numeradas
cromos autocolantes
em cada pacote; uns quatro ou cinco

difícil completar as páginas
muitas sãos as figurinhas repetidas
as não encontradas...
poucas as raridades,
as especiais

temas; são vários

desenhos animados, carros, futebol...

na vida, cada um procura a sua turma

e quem queira completar o mesmo álbum
quem compre os mesmos pacotinhos no jornaleiro...

completar um album é dificílimo sem recorrer à Editora

(quando faltam quatro ou cinco)

minhas (não sei se últimas ou primeiras) são meus amigos

autocolantes, brilhantes, especiais e únicos

mesmo que falte apenas àquela figurinha para o coleguinha do lado completar a última página

eu não vendo, não troco, não jogo bafo-bafo com minhas figurinhas
elas são a minha turma
a minha identidade
meu brilho
o sorriso que eu quero dar

elas são meus adesivos

e meu sossego
meu album completo e a felicidade de criança
que eu resgato quando os vejo

meus amigos são as minhas figurinhas

eles são meu álbum completo!

eles são as figurinhas que mamãe não pôde comprar

as figurinhas que eu escolhi para colar em mim.

a foto é do gui paranhos - nós no lançamento da adriana, menos chacal e igor (não tenho nenhuma da trupe toda!)

11.5.08

primeira poesia

p/ minha mãe

matéria-prima do poeta
palavra
a gente lavra, lavra
esculpe a palavra
pinta de várias cores
faz soar em vários tons
brinca na ginga
dança na música das palavras
meu primeiro poema
foi a primeira palavra falada
para o público mais comovido
mãe
é palavra, é gente
abrigo, alimento, é vida
é toda palavra já dita
toda a palavra não-dita
toda bendita palavra gerada no ventre do universo
todo verso
e toda prosa
mãe é toda, e todas são,
rima mais rara, mais cara, mais rica
e nem precisa ser escrita
mãe é

poesia

10.5.08

Neste sábado tem:

Dia de Luta pela Liberdade de Expressão, 14h, no Arpoador
Convocado pelos organizadores da Marcha da Maconha que foi proibida por decisão judicial em quase todos os estados brasileiros (+ infos. alguns posts abaixo)


Caldo Cultural
Organizado pelo grupo Nós do Morro, no Vidigal, a partir das 19h. Vou me apresentar com a Madame Kaos!

9.5.08

Liberdade, entre os presos

Tem hora que eu lembro porque eu faço poesia. Dia 19 vou falar poesia para os pacientes de um hospital psiquiátrico. A poesia é o que me salva da loucura. É meu chão. Um chão de nuvens. Mas ainda assim um chão. Um chão onde eu piso descalça pra suavizar as dores dos cacos cravados nos pés. Um chão que me eleva, me faz levitar, o chão onde eu nunca vou deixar de pisar. A poesia é o que me salva da loucura, porque em primeiro lugar a poesia em mim é extravasamento. É botar pra fora tudo o que é angústia, tudo o que é veneno, tudo o que me mata por dentro, tudo o que me invade de fora sem que eu consiga filtrar. A poesia é esse filtro que vai purificando toda a água que corre em mim, toda a água que escorre de mim para o mundo, tudo o que vaza... Sim, eu ia falar da poesia como salvação, mas em um outro aspecto. É que as palavras me vêm em jorro, é tudo líquido demais, e às vezes eu tenho que nadar um pouquinho para alcançá-las, elas se adiantam numa correnteza e eu perco o fio do pensamento. Cheguei. Ontem fomos numa delegacia. Fui com os Voluntários da Pátria, um grupo de artistas, amigos queridíssimos, parceiros, companheiros, militantes, mesmo! Quando eu fazia movimento estudantil eu acreditava que ia mudar o mundo. Era uma coisa quase religiosa. Hoje, não. Hoje eu sei que eu mudo o mundo. Não é crença. É consciência. O Voluntários é esse grupo que tem consciência da mudança que produz no mundo, e que o mundo produz em si, porque ser e meio não estão separados, afinal. Nós que fazemos o mundo em que vivemos, e é desse mundo que nós somos feitos. E a gente faz um mundo mais habitável por seres humanos mais humanos. É isso o que a gente faz com poesia. É por isso que eu não enlouqueço, e é por isso que eu vivo. Porque eu não acredito em deus, em vida após a morte, em nada disso. Inferno e paraíso, é tudo aqui mesmo. E pra ir do inferno ao paraíso, a gente tem é chão pela frente. Se um dia eu achasse que esse caminho eu não posso construir aqui, eu ia logo descansar embaixo da terra, que é bem mais confortável. Cheguei. Fui com o Voluntários pra uma delegacia em Nova Iguaçu falar para os presos, dentro das celas. Na ocasião estava se comemorando o direito conquistado lá para que os presos sem condenação possam votar nas eleições. Porque afinal eles são cidadãos. E tudo isso tem a ver com uma política de ressociabilização. Uma hora aquele cara lá que cometeu um crime, seja qual for, vai terminar de cumprir sua pena e vai retornar ao convívio social. O que ele vai fazer? Se não tiver opções, se não tiver oportunidades, se tudo o que ele encontrou na prisão foi ainda mais violência, dificilmente ele consegue sair da criminalidade. Aí ele vai voltar pra prisão, e vai voltar pra cidade, e vai voltar pro crime, e vai voltar pra prisão, e vai voltar pra cidade, e vai voltar pro crime, até morrer ou ser morto. Aí vai um grupo de malucos e monta uma biblioteca na delegacia. Aí vai um grupo de malucos falar poesia dentro das celas. Aí a gente começa a estabelecer um diálogo que eles provavelmente nunca tiverem, e de um jeito que provavelmente eles nunca tiveram, porque não é chegar julgando, e dizer pro cara o que é certo o que não é, é simplesmente apresentar uma outra possibilidade de expressão e deixar que eles assimilem do jeito deles. Pra alguns a gente não disse nada, pra outros parecemos absurdos, mas se apenas um ali sair transformado, já vale, e muito! Eu tenho certeza que eu saí de lá transformada. Eu olhava os presos e eu não via criminosos ali, eu via seres humanos como eu, que poderiam ser poetas, produtores culturais, atores, ter feito uma faculdade como eu, poderiam nunca ter cometido, e podem nunca mais cometer um crime. Vi muitos rostos jovens, uma vida inteira pela frente. Em momento algum tive medo dos presos enquanto estive lá. Isso já é uma puta transformação, porque antes de ir, eu tive medo, por puro preconceito! Confesso que tive medo dos evangélicos, mas isso é uma outra história, e é mais conceito que pré. É que quando chegamos lá estava tendo um culto evangélico dentro da cela onde iríamos entrar. E eles gritavam "deus" com tanta fúria que eu achei que iam nos engolir! Com fanatismo eu não sei dialogar. Pode até ser uma deficiência minha. Mas é que eles estão tão fechados dentro de uma doutrina, que você não encontra brecha pro diálogo. Mas mesmo na cela dos evangélicos... enfim, nem todos são evangélicos dentro da cela, alguns não deviam estar nem aí pro culto. Um parêntese: se eu fosse presa e se celebrasse um culto daquele todos os dias dentro da minha cela, perguntaria ao delegado se isso faz parte de uma nova técnica de tortura! Fecha parêntese. Pois naquela cela um rapaz pediu à Betina que lesse um texto dele, escrito numa caderneta cheia de anotações. O texto era bom, o cara tinha uma puta consciência, e pra ele ali eu sei que a nossa presença fez diferença! Só por ele já valeu enfrentar os evangélicos, ouvir um ler uma passagem da bíblia e o outro dizendo "isso que é poesia"! Se bem que a bíblia, realmente, pra mim, é literatura pura, pura ficção, o maior best seller do mundo, sem sombra de dúvidas. Na outra cela a coisa já fluiu muito melhor, não tinha culto, e tinha um pessoal mais interessado, os caras cantaram, dançaram, no final virou uma festa! Um dos presos falou com o Igor que lembrava da apresentação que eles fizeram lá no ano passado, e na saída mandou "espero que da próxima vez que vocês vierem eu não esteja mais aqui". Espero mais, que ele saia e a gente se encontre por aí, e ele esteja bem, com um bom emprego, vivendo a vida honestamente, com alegria, com esperança, com liberdade! E liberdade é muito mais que andar solto pelas ruas. É tudo o que eu quero conquistar, pra mim, pra todos! "liberdade, essa palavra / que o sonho humano alimenta / que não há ninguém que explique / e ninguém que não entenda" (cecília meireles) E eu já ia me esquecendo... é por isso que eu dizia lá no começo desse texto, que tem hora que eu lembro porque eu faço poesia. Estar na prisão deixou ainda mais vivo em mim o principal motivo. Eu escrevo por liberdade! É isso.

obs1. quem fomos: Bayard Tonelli, Beatriz Provasi, Betina Kopp, Douglas, Edu Planchêz, Gean Queiróz, Glad Azevedo, Igor Cotrim.
obs2. onde: 52ª DP - Nova Iguaçu/RJ.
obs3. dia 19 vai ser em Engenho de Dentro, também com os Voluntários.
obs4. faltou alguma informação?

6.5.08

eu só danço
que é pra não ficar parada
eu bebo e fumo
só pra ter onde meter as mãos
o mundo me constrange
eu finjo naturalidade
entre estranhos
eu sempre pareço estar mais à vontade
eu bebo pra esquecer
o futuro
acho intrigante a atitude dos suicidas
eles fazem de uma só vez
o que todos nós
aos poucos
serão eles,
ou seremos nós
os loucos?

Já ouço daqui os Pianos Invisíveis...


Amanhã tem lançamento do livro de poesias PIANOS INVISÍVEIS, de Adriana Monteiro de Barros.
Dia 7/5, quarta, às 20h, no Bar Da Graça, Rua Pacheco Leão, 780, Jardim Botânico - Rio.
Os pianos são invisíveis, mas seu som eu já ouço daqui...
E quem perder esses acordes, dormiu no ponto!...
Até lá!

4.5.08

MARCHA DA MACONHA.

Quero manifestar meu repúdio ao Ministério Público e aos setores de justiça desse país que agiram de forma arbitrária proibindo a Marcha da Maconha em praticamente todos os estados da federação. Este ato de censura representa um retrocesso na história de um país que viveu sob um regime ditatorial assassino e que agora mostra sua cara mascarada por essa falsa democracia estabelecia por homens que legislam em causas próprias e gastam milhares de reais em campanhas eleitorais para posteriormente mamar nas tetas de nossa pátria, assegurados por uma população inerte que esta mais preocupada com seus times de futebol do que com o futuro de seus filhos.

Em momento algum sou a favor ou faço apologias ao uso de qualquer substância que possa trazer danos à saúde, incluindo o álcool que tem em seus comerciais a presença de artistas e celebridades estimulando seu consumo.

Tenho vergonha de fazer parte de uma geração de artistas, salvo algumas exceções, que prefere estampar capas de revistas semanais de fofocas e desfrutar de fama e conforto numa atitude egoísta a expor suas faces para colaborar com uma discussão saudável e necessária com nossa sociedade. Sabemos que a classe artística e os intelectuais são fundamentais para que o movimento seja visto não como um estímulo ao uso de drogas e sim como um caminho inteligente para gerar políticas alternativas que possam colaborar com a diminuição do poder bélico do crime organizado e consequentemente a violência que resulta dessa repressão insana que nunca em país algum desse planeta conseguiu erradicar o tráfico e o consumo.

Creio que devamos pedir a nossos parlamentares e autoridades em geral que antes de apontar seus dedos sujos em direção a qualquer um dos presentes nessa Marcha, se coloquem a disposição de EXAMES TOXICOLÓGICOS COMPLETOS, para que possamos debater sem hipocrisia o assunto. Devemos cobrá-los tal atitude já que se mostram tão coerentes em seus discursos.

Para encerrar me coloco a disposição para participar de futuros fóruns e reuniões onde possamos estabelecer metas para que a pauta seja levada a uma organização nacional, regimentada e futuramente estabelecida visando o controle e a taxação da Cannabis revertendo seus impostos para setores onde o governo sempre se mostrou falho tais como Saúde, Educação e Cultura.

Arrisco-me a dizer que hoje no estado de GUERRA CIVIL em que vivemos quem é contra a LEGALIZAÇÃO está a favor do TRÁFICO DE DROGAS. Apoiando a contravenção e a ilegalidade.

Existem campanhas de prevenção ao uso de entorpecentes, porém como explicamos para nossas crianças que vivem em meio a este conflito como devem se prevenir de balas perdidas?
A repressão já se mostrou ineficaz.
Dêem uma chance a esta alternativa e com responsabilidade e consciência lutemos todos pelo direito e liberdade de expressarmos nossas idéias.


Tico Santa Cruz .

Repassem.

3.5.08

Alguém acha que esse carimbinho era exclusividade da ditadura militar? Pois acabam de aplicá-lo à Marcha da Maconha, que não vai mais se realizar amanhã por decisão judicial. Voltamos à ditadura ou nunca saímos dela? No entanto, por mais que seja rasgada, queimada, jogada fora, esquecida no porão, dada como morta, existe no Brasil uma Constituição, e nela está escrito que "é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença". Quem sabe agora as pessoas percebam o quanto nossa "democracia" é frágil e aproveitem essa situação pra lutar por democracia e liberdade, palavrinhas tão usadas (até pra justificar guerras absurdas!) e tão pouco postas em prática nesse nosso mundinho onde reina a hipocrisia!...

2.5.08

marcha da maconha

Domingo, dia 4, às 14h, no Arpoador


O QUE: Marcha da Maconha Brasil
QUANDO: Domingo, 4 de maio, 14hs
ONDE: Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, João Pessoa, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo, Santos
No primeiro final de semana de maio, milhares de pessoas em todo o mundo sairão às ruas em mais de 200 cidades para lembrar a luta política contra a proibição injusta que tornou ilegal o cultivo de plantas da espécie Cannabis sativa em quase todos os países do mundo.
O Coletivo Marcha da Maconha está apoiando eventos em 12 cidades em todo o país. O dia 4 será marcado com caminhadas em clima de descontração, música, concursos de fantasias, distribuição de material informativo e espaço para manifestações artísticas, performances e outras expressões culturais. Além disso, do dia 4 até o dia 9 de maio em diversas cidades ocorrerão também debates, palestras, seminários, exibições de documentários e outros tipos de eventos para discutir diversos aspectos relacionados ao tema, principalmente ligados às leis e políticas públicas sobre drogas.
A Marcha da Maconha Brasil não é um evento de cunho apologético, nem seus organizadores incentivam o uso de maconha ou de qualquer outra substância ilícita. Respeitamos as Leis e a Constituição do país do qual somos cidadãos e procuramos respeitar não só o direito à livre manifestação de idéias e opiniões, mas também os limites legais desse e de outros direitos civis.
O objetivo do Movimento é possibilitar que todos os cidadãos brasileiros possam se manifestar de forma livre e democrática a respeito das políticas e leis sobre drogas do país, ajudando a fazer do Brasil um verdadeiro Estado Democrático de Direito. Com essas atividades procuramos tão somente ajudar a fazer com que essas leis e políticas possam ser construídas e aplicadas de forma mais transparente, justa, eficaz e pragmática, respeitando a cidadania e os Direitos Humanos.
Acreditamos que já é hora de discutir reformas mais concretas nas políticas e leis sobre a planta e seu uso, de forma a incluir os dados científicos mais atuais e contando com uma maior participação da sociedade civil.
Maiores Informações:
Coletivo Marcha da Maconha Brasil
www.marchadamaconha.org
contato@marchadamaconha.org