24.12.05

o resto são fogos de artifício e pisca-pisca!...

Em breve, pousarei e repousarei no Pouso da Cajaíba. Nada de e-mails!... meus meios de comunicação serão ventos, mares, matas, céu estrelado, lua, sol, areia, terra, sombra e água fresca... (e uma cachacinha de vez em quando, que ninguém é de ferro!...) vou dilatar meu tempo, vou devagar no tempo, vou divagar no espaço... – já vou tarde!... vou sem deus, vou em paz, vou com os meus... ficarei na casa das onze mulheres – e temo pelos pescadores da região, que podem virar pesca!... vou me ditar tudo o que pretendo realizar em 2006, meditar... e me ditar tudo diferente... meditar mais uma vez... até não me ditar mais nada e simplesmente ser... talvez, quem sabe, na medida do impossível, eu tenha um feliz ano novo... E é na medida do impossível que eu desejo a quem pousar neste blogue, neste tempo de vacas aladas, um natal longe da histeria frenética do consumo, dos presentes sem amor, dos sorrisos sem calor... um ano que não seja novo só no nome, mas que renove em cada um a disposição de construir um mundo novo... o resto são fogos de artifício e pisca-pisca!...

Republico abaixo meu texto sobre o natal, pra que repique como um sino pequenino blém, blém, blém...

Clima de Natal

Calor infernal!
Pessoas se acotovelando, nos shoppings, nas ruas do Centro, por todos os cantos, piscam luzes, luzes, lu-zes co-lo-ri-das, piscam, piscam, fre-né-ti-cas-co-lo-ri-das, nas árvores da cidade, nas sacadas dos edifícios, nas barracas de camelôs, na sua casa, na cabeça pisca-pisca, lojas lotadas, vendedoras frenéticas empurrando tudo: “compre, compre, compre”, “ai, tá uma graça!”, “é a sua cara!”, “tá na última moda!”, “tem saído muito!...”, “quer que embrulhe pra presente?” Presente... Pressente que tem alguma coisa errada? Papais Noeis encasacados, coitados! - calor infernal! - trabalham, trabalham, trabalham suados..., dão beijinhos nas filhinhas da mamãe - “Eu quero a Barbie super-splish-splash-glitter-girl-pink-link-now!”, “eu quero, eu quero, eu quero!!!” Papais Noeis cansados, ensopados, desempregados, desanimados dizem “ho, ho, ho”! Piscam pessoas de todos os lados, acendem co-lo-ri-das, apagam desbotadas, ascendem co-lo-ri-das, descendem desbotadas, sobem, descem, escadas rolantes, rodam, rodam, rolam, doam um quilo de alimento pra ceia natalina daquele miserável ali da esquina – e que se dane o resto do ano! -, e armam presépios, e trocam presentes, e rezam, e ceiam: “Feliz Natal!”, “Feliz Natal!” (no subtexto eu te odeio, mas não faz mal...) E mais um ano se vai... - e tá tudo igual: menino malabarista no sinal tentando se equilibrar na vida... “Liga não, daqui a pouco é carnaval!” Mas nada como esse clima de natal! Infernal!
É..., se nascesse hoje um menino Jesus, ele mesmo que se pregava na cruz!

23.12.05

Odiável diário, hoje eu não prestava, hoje o metrô era mais que uma boa metáfora, hoje vi que os olhos do cristo eram cegos e de concreto, hoje senti de novo o empuxo pelos avessos, hoje queria me jogar fora, hoje eu era uma pedra no sapato, hoje os trilhos falaram meu nome, hoje foi salgado o preço da lágrima, hoje eu quis dar um chute no traseiro, hoje queria ser veloz, veloz, veloz até sumir daqui, hoje sentei e pensei um modo de me dar um murro bem dado no focinho, hoje eu quis ser uma parede, hoje eu sei o de que eu quero me esquecer, hoje o vagão me levou mais um rosto borrado na janela.

22.12.05

corpo-a-copro

devora a minha boca
ávida de teus beijos
agarra minhas ancas
grávidas de desejo
arranca minha roupa
despe minha alma
com teu verso cru
com teu corpo nu
meu corpo nu
teu corpo
no meu

21.12.05

carta fora do baralho

meu verso é carta
fora do baralho
carta curta que me ronda, decisiva
às vezes carta-bomba!
outras carta suicida...

meu dragão

meu dragão
é puro fogo
e cospe fumaça
meu dragão
de pequeno porte
porta em si o universo
sobrevoa as estrelas
e vira láctea

20.12.05

Veja bem, meu bem

de Marcelo Camelo

Veja bem, meu bem:
sinto te informar
que arranjei alguém
pra me confortar.
Este alguém está
quando você sai
e eu só posso crer,
pois sem ter você,
nestes braços tais.

Veja bem, amor,
onde esta você?

Somos no papel
mas não no viver!

Viajar sem mim,
me deixar assim...

Tive que arranjar
alguém pra passar
os dias ruins.


Enquanto isso,
navegando eu vou
sem paz.

Sem ter um porto,
quase morto,

sem um cais.
E eu nunca vou
te esquecer, amor,

mas a solidão
deixa o coração

neste leva-e-traz.

Veja bem além
destes fatos vis.

Saiba: traições
são bem mais sutis!

Se eu te troquei
não foi por maldade...

Amor, veja bem,
arranjei alguém
chamado saudade.

Flor da pele

de Zeca Baleiro

Ando tão à flor da pele,
que qualquer beijo de novela me faz chorar
Ando tão à flor da pele,
que teu olhar flor na janela me faz morrer
Ando tão à flor da pele,
que meu desejo se confunde com a vontade de não ser
Ando tão à flor da pele,
que a minha pele tem o fogo do juízo final

um barco sem porto sem rumo sem vela cavalo sem sela

um bicho solto um cão sem dono um menino um bandido
às vezes me preservo noutras suicido

19.12.05

Veja bem,

nem todo fogo
é de artifício
nem todo osso
é de ofício
nem toda carne
é de pescoço
nem todo fruto
chupado é caroço
nem toda matéria
é disciplina
nem toda poesia
é rima

e eu...
não rimo com nada disso!

sou fogo!
de carne e osso
sou fruto
de matéria e poesia

18.12.05

tratante,

não quero mais trato contigo
trate de ir embora!
já não te basta tratorar meu coração?!
não, não...

é preciso triturar ainda.

15.12.05

entre sem bater

se fosse cela
meu coração era superlotado
mas livre e vasto
te cabe folgado
entre e fique à vontade!...

cláusula de escape

já rasguei tantos contratos
que nem assino mais
amor não reconhece firma
só se afirma, se afirma, se afirma...

não me venha com artigos e normas!
meu parágrafo é primeiro e único:
na alínea da paixão não há burocracia
só se cria, se cria, se cria...

ps. "a vida é curta pra ser pequena” (Chacal)

12.12.05

A bonequinha viu...

Tudo bem que eu não sou nenhuma bonequinha, e me comparar ao bonequinho d’O Globo é uma afronta... A MIM! Mas hoje senti vontade de dar uma de crítica de teatro e de cinema, que são minhas grandes paixões – mais que poesia, mais que literatura...! Ainda estou embriagada pela peça e pelos chopes que se seguiram a ela, mas putaqueopariu, o Armazém Cia. de Teatro é realmente um dos melhores grupos de teatro deste país! Já vi tantas atrocidades feitas a partir de textos de Nelson Rodrigues, tantas!... E “Toda nudez será castigada” nas mãos de Paulo de Moraes e daquele elenco de feras, mesmo depois de ler a peça quinhentas mil vezes, ainda conseguiu me surpreender!... Uma conjunção de talentos, desde o gênio do autor, ao diretor, atores, cenógrafos... Que cenário! Quase nada e era tudo!... O ritmo da montagem, quase cinematográfica... plano-a-plano... os “cortes” quase imperceptíveis... a iluminação, o som... que precisão! tudo impecável... e todos os pecados rodrigueanos lá! todas as vírgulas, todos os parêntesis, todas as rubricas... e a força da montagem era tal que ultrapassava o texto, embora se mantivesse “fiel” (entre aspas, porque esse conceito de fidelidade é problemático e eu não quero desenvolver conceitos, só impressões, que isso aqui não é um trabalho acadêmico). Enfim, enfim... enfim, uma excelente montagem de Nelson Rodrigues! Antes dessa, a única que me vem à mente é a do meu ex-professor de teatro, Luiz Carlos Persy, de “O beijo no asfalto”. Mas isso foi em 1997, se não me engano... E eu negligenciei algumas, porque me recusei a assistir! Os filmes, eu vi quase todos! - só não vi o que não tinha disponível em locadora... E não gostei da maioria! Mas “A falecida”, do Leon Hirszman (que eu vi no telão do Cine Arte UFF!), e o “Boca de Ouro”, do Nelson Pereira dos Santos, são indispensáveis! Este último me rendeu até um trabalho acadêmico... Aliás, as análises do Ismail Xavier em “O olhar e a cena” são também muito boas! Mas de cinema eu ia falar mesmo é do “Vinícius”... O Vinícius eu amei, mas o filme nem tanto... Pra mim o que segura o filme é a figura fantástica do Vinícius de Moraes, seus textos, suas músicas, suas histórias de vida... (bons depoimentos!) Mas da estrutura narrativa do filme eu não gostei, não. E achei que a Camila Morgado, que considero uma boa atriz, estava declamatória demais... O Ricardo Blat falou os textos com simplicidade e profundidade. A Camila estava um pouco acima do tom. E aquele palquinho eu achei desnecessário. Nada melhor pra ambientar os textos e músicas do Vinícius que os cenários do Rio de Janeiro, as praias, as esquinas, os botecos, as calçadas... as garotas de Ipanema... Tudo bem que elas não sejam mais as mesmas, mas... Aquela formalidade toda me pareceu firula de diretor... e as paisagens eram pausas, não eram textos! (Eduardo Coutinho que faz uma imagem falar mais que mil depoimentos!...) Além dos textos e músicas de autoria reconhecível, não vi muito Vinícius de Moraes ali! Ele não cabia naquele espaço! Ele é muito maior!... Mas é graças a ele que o filme se sustenta e termina super “happy end”... Isso até me lembrou um pouco o “Cazuza”, aquele vídeo-clipe com um sósia perfeito que tem uma historinha mal contada no meio... Você vibra com o Cazuza, porque é o Cazuza, mas o filme em si... deixa muito a desejar!... No mais, vou desejando, boas peças, bons filmes, boas poesias, boas músicas, arte, arte, arte!... E o mercado que se exploda!!!

9.12.05

A rede é boa, dá pra pescar!...

O Chacal publicou meu texto no blogue dele, e o Paulo Stocker pescou de lá, e eu pesquei essa tira no blogue do Stocker...
Paulo Stocker

7.12.05

CEPisca-pisca

CEP 20.000, dia 13, terça, às 20h, no Sérgio Porto: eu vou falar essa palavra presa na garganta!

6.12.05

Clima de Natal

Calor infernal!
Pessoas se acotovelando, nos shoppings, nas ruas do Centro, por todos os cantos, piscam luzes, luzes, lu-zes co-lo-ri-das, piscam, piscam, fre-né-ti-cas-co-lo-ri-das, nas árvores da cidade, nas sacadas dos edifícios, nas barracas de camelôs, na sua casa, na cabeça pisca-pisca, lojas lotadas, vendedoras frenéticas empurrando tudo: “compre, compre, compre”, “ai, tá uma graça!”, “é a sua cara!”, “tá na última moda!”, “tem saído muito!...”, “quer que embrulhe pra presente?” Presente... Pressente que tem alguma coisa errada? Papais Noeis encasacados, coitados! - calor infernal! - trabalham, trabalham, trabalham suados..., dão beijinhos nas filhinhas da mamãe - “Eu quero a Barbie super-splish-splash-glitter-girl-pink-link-now!”, “eu quero, eu quero, eu quero!!!” Papais Noeis cansados, ensopados, desempregados, desanimados dizem “ho, ho, ho”! Piscam pessoas de todos os lados, acendem co-lo-ri-das, apagam desbotadas, ascendem co-lo-ri-das, descendem desbotadas, sobem, descem, escadas rolantes, rodam, rodam, rolam, doam um quilo de alimento pra ceia natalina daquele miserável ali da esquina – e que se dane o resto do ano! -, e armam presépios, e trocam presentes, e rezam, e ceiam: “Feliz Natal!”, “Feliz Natal!” (no subtexto eu te odeio, mas não faz mal...) E mais um ano se vai... - e tá tudo igual: menino malabarista no sinal tentando se equilibrar na vida... “Liga não, daqui a pouco é carnaval!” Mas nada como esse clima de natal! Infernal!
É..., se nascesse hoje um menino Jesus, ele mesmo que se pregava na cruz!

4.12.05

Dizer Poesia

Dia 05/12 - O Projeto Cultural Dizer Poesia, iniciativa artístico-cultural-extensionista da UNIVERSO, realiza sua última edição do ano em Niterói, reunindo poetas e amantes da poesia para a leitura de suas próprias obras ou textos de seus autores prediletos. O grande e esperado momento do Dizer Poesia é a roda aberta, quando todo o público pode protagonizar a cena principal, dizendo os poemas que sente vontade. Entrada franca. Apoio cultural: Ótica Maxvision, Editora Impetus e ONG LEIA BRASIL.
Local: Livraria Ver e Dicto. Rua Moreira César, 158 - Icaraí.
Horário: 19h30


Fonte: Assessoria de Cultura - UNIVERSO

3.12.05

Amanda Petardo

Ao ouvir falar dAmanda,
fui tomada duma inveja.
Mas veja só!
Ao vê-la assim tão bela,
tal estrela, tão nadela,
não quero sê-la,
quero tê-la,
ela na minha tela:

Amanda Petardo é uma pantera caótica, o alicerce de todas as paixões possíveis. No dia em que a conheci, foi tesão à primeira vista, eu nunca havia visto um espectro com tal aspecto. Ao dar de cara com essa fera mitológica, górgona dos olhos azuis, todo homem é tomado por um estranho estado de estupor não-estipulado. Diante da improbabilidade de tê-la como propriedade, cientes da impossibilidade de possuí-la por completo, hordas de investidores se debatem num desespero wallstreetiano. Nada a compra. Homem nenhum conquistou nem vai conseguir conquistar o coração e alma dessa top-model-pop-rock-star, Amanda escapa por entre seus dedos, tal qual uma lavadeira a voar veloz. Pasmos com sua auto-suficiência, sua ignorância, seu coração de aço, filósofos e boêmios especulam em rodas de bar - de onde Amanda vem, pra onde Amanda vai? Será que existe vida após Amanda, será que existe Amanda após a morte? Será que Amanda tá com encosto, será que Amanda é o Anticristo? Será que Amanda veio ao mundo somente para partir os pobres corações de jovens poetas românticos da Zona Sul como eu, ou será que Amanda é só mais uma ingênua Julieta, à procura de seu Romeu?


prAmandaPetardo

nAmanda questá meu mundo

Amanda no mundo anda

a mando dAmanda

amando Amanda

Amanda manda

Amanda anda

Amanda dá

Aman-dá
Daniel Soares&Dudu Pereira

Trem de samba e chuva pra lavar a alma!

“Foi um rio que passou em minha vida, e meu coração se deixou levar...” Ao som deste samba, partia o trem pra Oswaldo Cruz. E meu coração se deixava levar, e minha alma se deixava lavar... Chovia uma chuva fina e insistente. Eu olhava pela janela experimentando a sensação (nova para mim) de pegar um trem da Central. A batucada no vagão dava o ritmo da minha pulsação. As paisagens do Rio que não estão estampadas nos cartões postais passavam quadro-a-quadro na minha frente. O trem lotado pulava sobre os trilhos e todas as vozes entoavam as canções e todas as mãos se faziam percussão... E assim seguia o Trem do Samba... E assim, no Dia Nacional do Samba, tomamos banho de chuva e de samba em Oswaldo Cruz pra lavar a alma... Eita, trem bão!

1.12.05

Tá comprovado: vaso ruim não quebra fácil!

Deu hoje no Jornal Hoje:
A maior expectativa de vida do país é no Distrito Federal...
(e o povo continua nessa expectativa de morte...)