20.2.11

E EU LI A HISTÓRIA QUE NÃO ESCREVEMOS

página virada, páginas viradas
páginas em branco viradas e reviradas
e perceber no final do livro
que não havia nada escrito
nada além de um único capítulo
uma única palavra: começo
nada além, nada meio,
nem um único recheio
nada curva, nada sinuosidade
ponto de partida sem linha de chegada
viagem sem estrada, vírgula sem palavra
essa página virada sem nenhuma história
nem enredo, nem um erro
final sem clímax
the end sem filme
trailer sem sessão
uma borracha nas reticências
a certeza do não
o ponto final
o livro varrido da cabeceira
papel amassado na cabeça
páginas em branco sumindo na fogueira
- o vazio do vazio -
pó e cinzas na lata do lixo
minha única dor é a inutilidade de um livro não escrito
o tempo perdido, a insistência de se lançar no vazio
de resto,
um espaço aberto na cabeceira
desejo de novos livros

17.2.11

eu não li os avisos de PARE

sua falta é uma dor não programada
sem controles com stop pause rew
sem sinais vermelhos
sem os avisos amarelos de cuidado e atenção
são todos os sinais verdes
todos os carros em colisão
o trânsito todo parado na minha garganta
e todos esses atropelamentos
sua falta é essa dor confusa de buzinas e lágrimas
sou eu perdida no meio da estrada
são essas curvas acentuadas
sem placas de sinalização
sua ausência é meu desespero, meu destempero
meu carro na contramão
meus acidentes, desastres
sua falta é uma ambulância com a sirene ligada
correndo na direção contrária
minha dor presa nas ferragens

16.2.11

alguma tristeza

tem alguma coisa de triste
nesses pássaros adormecidos
que se esquecem de cantar
há algo de muito triste
em igrejas vazias
ostentando um altar
uma tristeza imensa
nos sinais vermelhos
em ruas desertas
tem algo de triste
nas portas abertas
sem ninguém pra passar
em cadernos sem canetas
em cigarros sem isqueiros
em luzes acesas
na claridade do dia
em tudo que eu vejo
uma certa melancolia
tem alguma coisa de muito, muito triste
nos meus olhos voando
sem você pra pousar

lágrimas pela inutilidade dos olhos em enxergar

o dia em que eu morri...







Fotos da performance POETA BOM É POETA MORTO - O TRANSTORNO PASSA, A OBRA FICA, realizada em 12/02/2011, no meu aniversário de 30 anos - o dia em que eu morri.

10.2.11

fantasmas nos olhos da noite

só eu sei o quanto esses fantasmas são reais
e me tiram o sono

eles querem fumar meu cigarro
eles bebem do meu copo
eles dançam no meu corpo
são a sombra nos meus olhos
são o susto no meu rosto

são eles que dirigem meu carro
são eles na minha carne
são eles no meu osso
no escuro do meu quarto
no fundo do meu poço

são eles, sempre eles
seus olhos vermelhos
em tudo que eu faço
e que eu não faço
soprando o meu pescoço
em todos os meus passos
em tudo o que eu não posso
em todo o impossível
onde eu me jogo

fantasmas nos meus olhos
em todos os meus espelhos

8.2.11

EXTUDIO - minha festa de 30 anos!

No ano passado o estúdio do Arnaldo Brandão virou palco de uma série de eventos que promovemos, inicialmente lançamentos de livros da coleção editada por Tavinho Paes, depois a festa de 3 anos da Madame Kaos, e agora o evento EXTUDIO, com o espaço de cara nova, todo equipado com projetores e iluminação e tudo o mais. Na primeira edição do EXTUDIO, comemoro meus 30 anos! Segue o flyer.

3.2.11

um tipo de camarote

como um guardião de ferro velho
eu e meus destroços & coisas enferrujadas
peças soltas mais as inutilidades de todas as espécies
e tudo que é tipo sombrio que aparece nesse tipo de lugar
fico observando o mundo
da minha poltrona velha de couro detonado
rangendo as molas, rangendo os dentes entre cigarros
o mundo pelas carcaças dos carros, pelos vidros quebrados
quando restam vidros pra quebrar,
pego um bastão e saio detonando faróis e afins
um passatempo pras horas de tédio
é assim que eu passo os dias fazendo poemas
fazendo estilhaço, barulho,
uns versos quebrados
com todo esse lixo do mundo.

1.2.11

não adianta

quando o chão grita pedindo pés
e a alma agita gritando mais
e um carro grita atropelamentos
na sua garganta
não adianta tapar os ouvidos
nada adianta

quando o chão rasga vazando céus
e a alma vaga a rasgar papéis
e um anjo quebra as asas
atravessadas
na sua garganta
nada nada nada
não adianta

quando o chão some levando a paz
e alma vaga sem cessar
e um anjo dirige seu carro
embriagado
pra qualquer lugar
não há nada a fazer
não adianta
não tem jeito

o chão desse mundo não foi feito
pra gente pisar