17.8.06

Salto alto

Um salto alto. É disso que preciso. Um salto alto para subir na vida. Um salto bem alto, para sentir-me viva. As unhas grandes, pintou-as de vermelho-sangue. As das mãos e as dos pés. Da cor do sangue que fervia-lhe na face. Pôs-se nas pontas dos pés sobre o salto mais alto que tinha. Um pretinho trançado que se fechava no tornozelo, modelando as pernas compridas e bem torneadas. Dispensou o pretinho básico para cobrir-lhe o corpo. Revirou todo o armário e quando o viu, revirou os olhos. Era este! Um vestido deslumbrante com rajadas de vermelho e preto. Um sensual decote em v a emoldurar-lhe o colo deixando os seios levemente a mostra, deixando os seios a desejar. Um frente única que lhe deixava as costas nuas até o cóccix, onde o tecido mole se acomodava em leves dobras, e se desdobrava pelo quadril dando molejo ao rebolado. Rebolou até o banheiro, onde o espelho lhe aguardava para dar o toque final. Dispensou o pó, pois queria nua sua pele da face. Apenas modelou os olhos com lápis, rímel e uma sombra clara. Cobriu a boca de vermelho-unhas. E sorriu para si. Cabelos revoltos, os deixou, como ela mesma era. Sentiu-se uma pantera. Felina e poderosa. Feroz. E desfilou seu rebolado para os cômodos da casa, largando um rastro de perfume fatal. Já na sala, ele a aguardava. Ela o pegou, encheu o copo, e o bebeu com tamanho prazer. Aquele whisky era tudo o que tinha naquela noite vazia.

Nenhum comentário: