31.8.06

a festa ou ensaio de orquestra

mixagem de palavras de dez rodas de conversa
mais a música soprada pelo aparelho de som
e uns tantos ruídos de copos, e brindes, e passos,
e o vento assobiando na janela
e o trânsito por baixo transava com tudo
seu som era um sopro de fumaça
e um glub, glub no copo de chopp
seu som discreto atravessou a ruidosa sala
se embrenhou pelo corredor
e se trancou no banheiro
abafando aquela orquestra de gente em festa
silenciou
afundou a cara na água da pia
encarou o espelho
olhou em torno – nunca vira um banheiro tão grande!
fumegante, deixou-se absorver em si tendo a banheira como leito
molhar o rosto não disfarçava
secar o rosto já não adiantava
se encheu de lágrimas afundando na banheira
se afundou em pensamentos enchendo de si aquele banheiro enorme
quando bateram à porta,
molhou o rosto, secou os olhos, deu descarga e saiu
pegou outra cerveja na geladeira
acendeu outro cigarro
e soou seu som naquele ensaio de orquestra
fosse Fellini o diretor, restaria nada da festa!
mas em ruína, ali, só ela
a festa continuava...

2 comentários:

Fabrizio Fernandes disse...

bom juntar os padaços da cacofonia

Beatriz Provasi disse...

ruim sentir-se um caco... mas quem não é?!...