28.8.06

Clarice

As unhas de esmalte arranhado já não mais a preocupavam. Clarice tinha arranhões bem mais fundos. O descascar do rubro esmalte sobre as unhas era o que lhe dava a noção do tempo decorrido. Do tempo corrido que escorria entre seus dedos e escapava de suas garras, tão compridas e inúteis pra agarrar. Clarice olhava o tempo levar a tinta de suas unhas, o tempo levar a tinta de suas unhas, o tempo levar a tinta de suas unhas. Até que o tempo quebrou uma de suas unhas na base e Clarice chorou. Diriam ser chilique de mulherzinha – Onde já se viu, chorar por uma unha quebrada?! Eles não sabiam o que realmente havia se quebrado nela. O que perdera a cor, o brilho. O que o tempo não podia levar. O que o tempo não podia trazer. Porque uma unha partida, com o tempo, cresce. Um amor que parte, só faz fenecer. Mas eles não sabiam, ah, não!, eles nunca sabem os mil cacos que podem esconder as lágrimas de uma mulher sob um caco desgarrado de suas garras.

2 comentários:

Anônimo disse...

beatriz, questa donna,
contrai, contrai, contrai. tem muito florescer, fenecer. isso é do tempo que mulher se chamava pâmela. encurta essa sintaxe. corta e costura, essa escrita pamelada. dentada de amor não dói. bj, ch.

Beatriz Provasi disse...

Críticas são sempre bem vindas. Mas não necessariamente seguidas. Não vou encurtar nada. Não tenho saco de mexer em texto depois de pronto. Deixo ele florescer ou fenecer pra quem quiser. Beijos!