28.8.06

Joana

Joana tinha lá seus arranhões e uns invernos que a gelavam por dentro. Mas não, definitivamente, não tinha do que se queixar. Tanta miséria à sua volta, tanta tragédia, tanta dor. E Joana apenas olhava o mar. Cada onda a se formar, erguer-se em arco e se acabar em espuma na areia da praia. E mais uma a se formar, erguer-se e se acabar. Depois outra, e outra, e outra. Em cada onda, se deixava levar. Joana estava calma. O mar, sereno. O sol, ameno. Era uma perfeita sintonia. Joana vivia um amor com gosto de rede e água de coco, com clima de tarde em Itapoã. Sabia que cedo ou tarde poderia cair da rede e quebrar o coco. Amaldiçoaria Vinícius e todas as canções de amor! Mas agora, neste momento, Joana só sabia amar e olhar o mar, amar o mar, olhar o ar, arar o amor, olhar os olhos do seu amor saindo do mar a encontrar os seus. Davi lhe dá um abraço molhado, gelado, salgado, gostoso que só! E Joana sorve um pouquinho do mar dos lábios de Davi, beijando a um só tempo seus dois amores. Joana sorri. Com a boca, com os olhos, com o corpo todo. E o sorriso que se forma em si nada mais expressa que a serena alegria de quem simplesmente se deixa sorrir.

Nenhum comentário: