20.8.06

O ritual

Murilo a aguardava. Ele sempre a aguardava. Giulia se demorava pelo simples prazer de fazê-lo aguardar por ela. Antes de sair de casa, já totalmente pronta, fumava calmamente um cigarro, só para alongar o tempo da espera. Horas depois, batia à porta de Murilo. Era sempre o mesmo ritual. Um beijo casual, um leve roçar de lábios. Um drinque. Um longo bate-papo sobre as coisas da vida. Como se o assunto, ali, não fosse sexo. Horas depois, ele vinha da cozinha com um copo, ou voltava do banheiro, tanto faz, Giulia já o aguardava no corredor, com os braços ansiosos por tocá-lo, com a boca já se abrindo para o beijo. Giulia cravava as unhas em suas costas, enquanto Murilo cravava os dentes em seu pescoço. As mãos de Giulia deslizavam das costas para dentro das calças de Murilo. As de Murilo subiam dos joelhos apertando-lhe as coxas; uma a segurava por trás, enquanto outra lhe afastava a calcinha com os dedos penetrando a quentura úmida daquele corpo que se entregava. Giulia jogava a cabeça para trás num leve gemido, enquanto suas mãos buscavam tocá-lo mais e mais. Assim, emaranhando os braços entre seus corpos iam girando pela casa até encontrar o quarto. A camisa de Murilo ficara pelo caminho, como os sapatos de ambos. Giulia joga-se na cama com Murilo por cima a descobrir-lhe os seios com a boca, a descobrir-lhe todo o corpo com a língua. Giulia se inverte na cama para baixar as calças de Murilo, dando de cara com o objeto de seu prazer. E sua boca o faz gemer de prazer, mais e mais. Ela aperta a cabeça de Murilo entre suas coxas, eriçada. Até que suas bocas novamente se encontram, os dois já totalmente nus e aflitos por se possuírem. Giulia está por cima de Murilo. Ela pára. O encara com um olharzinho cínico e um sorriso maléfico jogado no canto da boca. Ele franze as sobrancelhas, sem compreender. Giulia estava disposta a quebrar o ritual. Ela se levanta, cata suas roupas e apesar das insistentes interrogações de Murilo, somente diz “tchau”. Murilo a aguardava. Ele sempre a aguardava. Giulia se demorava pelo simples prazer de fazê-lo aguardar por ela. Antes de sair de casa, já totalmente pronta, fumava calmamente um cigarro, só para alongar o tempo da espera. Horas depois, batia à porta de Murilo. Era sempre o mesmo ritual.

5 comentários:

Beatriz Provasi disse...

Cada um com a sua interpretação... Quem sou eu pra desmentir?!...

Sem Cascas.blogspot.com disse...

BOM, NEGUINHA!
Bom é saber traduzir as brincadeiras da nossa e das imaginações alheias!
Quantas rolam por aí...
Texto que nos leva até o fim entertida é bom demais de ir!
Beijukas

Beatriz Provasi disse...

Valeu, Maris! Já leu aqueles contos da Ivana? E aí? Beijos!

Unknown disse...

interessante o ritual do quase...eu quase acreditei q ela ia quebrar a rotina rsrs

Estive nos versos da 1/2 noite ontem... foi ótimo!

poetabraços

clauky saba (Movimento inVerso)

Beatriz Provasi disse...

E eu quase fui lá ontem. Quase. Beijos!