20.8.06

A balada

Vânia se arrumou the flash. Lápis, batom, brincos, espirrou um perfuminho, tacou tudo dentro da bolsa - carteira, celular, cigarro -, pegou as chaves e foi. Decidiu assim, de supetão. Pleno sábado à noite e ela sozinha dentro de casa. Não! Pegou o carro e se dirigiu para o bar mais longe. Queria distância de casa! Sem problemas. No Rio sempre se esbarra com alguém conhecido em tudo o que é lugar. Não há espaço pra solidão. Então, ela ria, e bebia, e conversava, e ia de bar em bar, e não se cansava. Nestes momentos, nem se lembrava de Igor. Embora fosse ele quem a empurrasse para as noitadas. A sua ausência a fazia presente em todos os lugares, dos mais badalados aos mais vulgares. Ele estava lá, na cerveja gelada que bebia sem cessar, nos amigos inseparáveis que fazia para nunca mais encontrar, nas línguas que roçavam a sua, nos risos nervosos de quem quer ser feliz a qualquer custo. Lá estava ele, mas ela se fazia indiferente à sua ausência. Era como se tudo aquilo pertencesse somente a ela. Ela tinha domínio pleno de sua vida. Ela, enfim, tinha a sua liberdade. Esta liberdade de fazer exatamente tudo aquilo de que não tinha vontade. A liberdade de se perder, para não se encontrar com a própria dor, a dor da perda. Ela sambava pisoteando a dor e exalando uma alegria radiante. Divertiu-se muito naquela noite. Vânia estava inabalável. Meteu a chave no trinco. Girou. Enfim, só. Estava tão cansada, que se jogou na cama de roupa e tudo. E chorou, chorou, chorou, chorou..., soluçando ainda na cadência do samba.

Um comentário:

Sem Cascas.blogspot.com disse...

Ai, que tem um cheiro de eu nessas linhas!
O bom - repito - é ser bom de ler. As histórias se criam...
Beijos - É BOM DE LER!