4.1.06

Marcela Giannini, finalmente publicada!

A Marcela escreve passionalmente e maravilhosamente bem, mas não publica. Essa menina, grande amiga, que me incentivou a publicar os meus escritos, ela mesma não publica os dela! E ela, sim, tem um grande talento para a escrita e uma sensibilidade rara. Já tentei editar um fanzine com ela, já tentei convencê-la a criar um blogue e, finalmente, consegui publicar um conto seu aqui - um dos que eu mais gosto! Marcela, você ainda vai me dedicar um livro!
A PRESA
“Se algum dia precisar de minha vida,
venha e tome-a.” (Tchekov, “A Gaivota”)


O amor me tomou como a uma presa desavisada, como num livro que eu li, quando era criança.Uma enorme ave de rapina a capturava- eu imaginava um falcão, mas poderia ser qualquer ave ; a presa se debatia no ar, lutava contra seu caçador.Via-se sua lânguida silhueta agitando-se violentamente contra as garras que a possuíam, e o sol que nascia ao fundo banhava de dourado seu suplício.Até que, cansada da luta inútil, a presa finalmente deu-se por vencida.Fatigada, abandonou o corpo cansado às garras do mais forte.Seu cansaço era tão grande, parecia tão pequena e frágil diante de seu caçador, que sua desistência de lutar, de se defender, faziam seu abandono parecer quase doce.

A ave grande, irmã do vento, remava o ar com suas grandes asas, segurando firme a pequena presa; tão indefesa, delicada, o peito palpitante de vida, quente, a respiração ainda rápida e sincopada, assustada...tão frágil sob o tatalar das asas gigantes que a transportavam, rasgando os céus, para lugares distantes, longínquos, que jamais sonhara conhecer, pois era, até então, apenas um pequeno animal da terra, a que não foi dado vislumbrar aquelas alturas e todo aquele mundo visto de cima; montanhas silenciosas e um céu sem fim, a temperatura que a gelava, lá embaixo passavam rios que jamais vira , imensas florestas escuras, deviam ser muito antigas, o mundo era bom de se ver lá de cima...Tudo era pequeno abaixo deles, o mundo era nada.Sentiu-se grande, sentiu-se dona do céu, tinha tudo, era falcão também...Por momentos, em seu encanto com o que via, esquecera-se de seu medo.As garras seguravam firme seu pequeno corpo, rasgando um pouco sua frágil pele, deixando escorrer um fino filete de sangue de seu peito, bem do lado esquerdo.Mas seu olhar para toda aquela imensidão a distraía de tal dor.

A presa, de olhos vidrados, já totalmente arrebatada, apenas pensava: "Não me deixe cair".

Marcela Giannini

Um comentário:

Anônimo disse...

Bia Bia, um 2006 encantado para nós.
Agora é hora de trocarmos umas figurinhas aí nos seus domínios. Te ligo. Beijos amarelos!