2.3.10

ÁLIBI

eu quero um álibi pra minha loucura
um álibi pra noites insones
a garantir que eu não saí de casa
quando minha alma vagava por esquinas, becos e botecos sujos
a garantir que eu dormia sono tranqüilo
quando minha alma pirava, e uivava e gritava sob as janelas vizinhas
um álibi pra garantir o meu silêncio dentro da lei
quando é nessa hora que a minha alma mais grita
um álibi pra deitar do meu lado enquanto eu durmo
e me fazer cafuné nos cabelos
e ver um sorriso se esboçar no meu rosto
sem que eu nem o perceba
mas a minha alma está pelas ruas
bêbada
a brigar com o garçom pela conta errada
e a xingar o motorista que fechou meu carro
com um carro de polícia de faróis apagados
a minha alma não pode ser algemada, não pode ser.
então ela briga com a polícia e xinga essa lua escrota
que faz questão de brilhar quando eu estou triste
VAI SE FODER, LUA! VAI SE FODER, LUA!
é o que eu uivo pra ela com minha alma de lobo
minha alma de lobo que é um cão vira-lata
se virando nas ruas do jeito que dá
minha alma que rasga cheques e queima dinheiro
e taca fogo num posto de gasolina
que bebe sozinha no canto de um bar
eu quero um álibi pra garantir que EU NÃO ESTAVA LÁ
que me arranque do incêndio com um cobertor
e me leve para um local seguro
que me traga cobertas e travesseiros e um beijo de boa noite
mas a noite insiste em não ser boa
não há álibis, travesseiros nem cobertas
não há lugar seguro
apenas a minha alma bêbada, louca e descabelada
vagando nas ruas
uivando pra lua
bêbada, louca, descabelada e perdida
cavando com as unhas as paredes de um beco sem saída
sangrando as pontas dos dedos em total desespero
minha alma bêbada, louca, descabelada, perdida e cansada...
tão profundamente cansada de tudo
tão cheia de tudo
de óculos escuros na manhã que se anuncia
voltando pra casa
sozinha

vazia

4 comentários:

Rafael disse...

Já acompanho seu blog há um certo tempo. Minha admiração é tanta que nunca consegui vir aqui comentar nada.

Quebrei o gelo e vim aqui pra te dizer que o leio todos os dias e que seus escritos são alimento pra minha pequena arte.

Sempre a acompanhar.

Abraços,
Rafael Ramalho.

Beatriz Provasi disse...

puxa, rafael, obrigada! e pode comentar à vontdade, viu. nesse mundo virtual às vezes eu tenho a sensação de falar com as paredes. é bom saber que tem vida do outro lado da tela! beijos

Rafael disse...

pode até falar com as paredes, mas aqui elas tem ouvido!

Beijos

Beatriz Provasi disse...

aqui também. beijos