14.5.08

tudo me escapa das mãos, entre os dedos, tudo vaza, tudo foge, tudo é líquido, tudo é ar, tudo é incontido, e eu preciso me conter, algum recipiente que me caiba, mas eu transbordo em fluxo contínuo sem saber pra onde vou... não tenho nada. não sei onde encontrar o que busco, porque não sei o quê. não tenho asas mas arrisco vôos em todos os parapeitos com vista pro vazio do mundo repleto de coisas. todas as coisas que eu não tenho. não me importo com elas. são o concreto da ausência. minha angústia é outra ausência. não das coisas. mas do algo. do isto que eu não sei. e a presença dessa ausência é o que me dissolve. essa ausência é o eu não estar aqui. o não saber onde encontrar o eu que me perdi. e aí mais nada. tudo escapa porque as mãos estão ausentes. e não há pés para seguir em frente. e não há quem complete a parte que não há. e nem dá para fugir daqui quando não se está. não dá para fugir de qualquer lugar quando é o não-lugar. quando é o não. queria que a vida fosse sim. e eu tivesse os olhos cheios de algo. mais. que fosse soma. mas eu me distraio. eu perco a conta. me deixo entrar no vermelho de olhos inchados. depois desboto. cores não colorem ausência. viram cinzas. cinzas de uma inexistência lançadas no abismo. se ao menos meus olhos estivessem aqui, talvez me visse lá. no fundo. mas nem isso. meus olhos são jogados de avanço a quem quiser pegar. só não deixe cair no chão não deixe cair não deixe

2 comentários:

Anônimo disse...

Gosto muito dos seus escritos. Venho sempre.

Beatriz Provasi disse...

que bom, daiza! quando vier, comente! às vezes me sinto falando sozinha... obrigada! beijos!