23.5.08

Poesia: com quem? pra quem?

Tenho tido momentos incríveis nessa coisa de falar poesia. Depois de quase 3 anos freqüentando eventos de poesia, nos quais fiz amigos maravilhosos, ouvi e disse muita coisa interessante, troquei muito, aprendi muito, cresci junto etc. Tenho agora encontrado outros espaços e um convite à reflexão.
O primeiro é a formação de um coletivo. Por mais que tenha estado sempre muito próxima aos Ratos di Versos e me sinta integrada, não fazia parte efetivamente do grupo. Fiz o Bia e Cia. com o Chacal no CEP, mas era um casal, e não um coletivo. Até que veio a Madame Kaos. Marcela e Juju são minhas parceiras inseparáveis. Amo trabalhar com elas, porque a gente tem uma sintonia rara. A gente troca os textos, conversa, pensa junto na performance, e sempre ensaia no banheiro! Tá explicado porque vamos juntas ao banheiro feminino?! rs... Marcela saiu da toca, Juju tá decorando os textos, e eu já perdi totalmente a timidez, com elas no palco eu sempre me sinto à vontade! Com elas também eu comecei a sair dos círculos de poesia a que estava habituada, conheci outros espaços, do Geringonça na Tijuca ao Caldo Cultural no Vidigal.

Madame Kaos no 1º Poemática

Depois veio a criação de um evento. Não se trata de mais um evento nas casas noturnas, teatros, bares e livrarias do Rio. É um evento dentro de uma Universidade. Em Niterói. Essa minha cidade tão carente de coisas legais. Consegui fazer um evento, e fazer um evento legal. Poemática - A indisciplina da poesia. Junto com a Bárbara, outra bela poeta saida do CEP que veio parar na UFF cheia de gás. Fizemos o primeiro com as mulheres, o segundo com os Voluntários da Pátria, o terceiro com o Sistema Nervoso Alterado, e mais os poetas vários que sempre vêm, a turma de Niterói, Fernão, Maysa, Betina, Marcela, Pierre, Guto, Tomasini, Lucília... a turma do Rio, Dudu, Dandan, Augusto, Aluízio... Cada mês tem um tema e a gente consegue trazer com a poesia alguma reflexão. O último foi a luta antinanicomial, e foi sensacional! O próximo será na última quarta de junho, ainda não sei qual tema...

Sistema Nervoso Alterado no 3º Poemática

Não bastasse tudo isso, o meu encontro com os Voluntários ainda me proporcionou a terceira e mais importante virada. A questão que me colocou foi pra quem falar poesia? Depois de ir com eles falar para os presos numa delegacia, e para os loucos num CAPS, fiquei me perguntando por que freqüentava eventos de poesia em que falamos pra nós mesmos e muitas vezes nem nos ouvimos. Gosto mais de ir aos eventos pra encontrar os amigos que pra falar poesia. Percebi isso. Prefiro falar poesia num CAPS ou numa delegacia. Na minha Universidade. Poesia para quem precisa.

Voluntários da Pátria no CAPS Clarice Lispector

No meio artístico as pessoas em geral querem mais aparecer por si que perceber o outro. Durante muito tempo freqüentei vários eventos sem falar nada. Tinha um quê de timidez. Mas também uma falta de vontade. Eu gostava de ouvir os outros. Hoje que sou mais conhecida no meio me sinto quase na obrigação de falar, como se ir a um evento e não falar nada fosse como uma desfeita para os amigos que organizam. Porque existe uma ânsia tão grande pelo microfone que parece estranho não participar disso. Pouco depois da delegacia, fui num evento de amigos e não quis falar. Disse apenas que não tinha vontade, não estava bem, e eles entenderam. E depois eu também entendi. Não que eu não vá falar poesia em mais nenhum evento, nem que vá deixar de freqüentá-los, não é isso. Mas como a gente não tem tempo de fazer tudo, a gente precisa ter prioridades. E eis aqui elencadas as minhas três prioridades: Madame Kaos, Poemática, e trabalhos voluntários em espaços carentes de artes, com os Voluntários, a Madame Kaos, sozinha ou com qualquer outro grupo, falar poesia para quem precisa e dar e receber o calor de um abraço de quem não tem mais ninguém para abraçar.
Voluntários da Pátria no CAPS Clarice Lispector

4 comentários:

Bárbara Araújo Machado. disse...

Lindo, Bia. Você tá construindo coisas grandes, importantes, e me sinto muito feliz por ser parte disso.
Tamo junta! E vamos em frente!
Beijão.

Beatriz Provasi disse...

Nós estamos! Grande parceria! Valeu, Bárbara! E já tenho idéias pro próximo Poemática... Te mando por e-mail. Beijos!

Anônimo disse...

bia,
tenho dito que vc está cada vez melhor. tua clareza mais tua vitalidade, te levam ainda`a lugares ainda inexplorados. essa é uma boa reflexão e é boa ouvir vindo de vc. por que escrevemos poesia ? pra que falamos poesia ? pra quem falamos poesia ? crição, transmissão, recepção. as 3 coisas andam juntas. e nas 3 devemos ser cri-ativos. ao escolher as palavras q compoem o poema, sua forma de ser dita e o público q queremos tocar. as pessoas precisam estar juntas nesses tempo de automação. mas com isso descuidam da criação que, pra mim, exige degustação, digestão, reflexão, criação, depuração. é claro q , como sempre, vamos trocando o pneu com o carro andando. mas as vezes devíamos estar juntos, só pra jogar conversa fora. mas aí entra a vaidade, a fúria do verbo, etc. etc.
aqui já me enrolo. biabia bjobjo allez up !!!! ch. ps: o coletivo está mais na forma com que a gente se relaciona com o mundo e as pessoas que o número de pessoas que formam um grupo, senhora.

Beatriz Provasi disse...

pois é, acho que seria mais válido reunir os poetas pra conversar sobre poesia, até trocar uns versos, comentar uns os dos outros, refletir sobre o quê, pra quem, como, mas uma coisa mais informal, do que eventos pra falar em público em que o público pouco tem interesse em ouvir. a gente ainda insiste em diálogos no mundo dos monólogos! e ter vc como interlocutor é sempre um prazer, meu caro! no final somos todos um só coletivo remando contra a maré... beijos!