31.5.08

a loucura me fascina
estou sempre à beira
à sua espreita
à sua espera
é sua a imagem do espelho
os olhos vermelhos
os olhos inchados
revirados
virados das noites em claro
eu conheço esse olhar assim de lado
ela me espia
por trás do espelho
por trás dos olhos
por trás de tudo
até de olhos fechados
dentro dos sonhos
e das insônias
ela se sente em casa nas madrugadas
e pelas ruas devastadas
ela se sente nua
bem à vontade
tudo o que eu não sei
ela já sabe
tudo o que eu quero
ela já tem
é um conforto
me largar nos seus braços
ela me acolhe tão calma
a gente podia dançar uma valsa
na areia da praia
na piscina da festa
a gente podia fazer seresta
em todas as janelas ao mesmo tempo
entrando por todas as frestas
fazendo o mundo dançar
um ritmo que ainda não há
a gente pode reinventar o mundo
criar um deus à nossa imagem e semelhança
um deus criança
um deus astronauta que dança no ar
não confio em deuses que não sabem dançar
ou pular amarelinha pra chegar no céu
só confio em estrelas cadentes
mais rápidas que um desejo
a vida é veloz
mas precisa de luz pra cortar o espaço
quantos interruptores eu já desliguei
pra ver seu olhar brilhar no escuro
a cidade tem muitas luzes falsas
um poste é parado como um poste
luz é movimento
lua e sol descrevem um círculo no espaço
eu descrevo vários círculos
em torno de mim
em torno do outro
e nunca volto ao mesmo ponto
olhos que brilham no escuro
eu não tenho medo
da loucura
nem da morte
se há de vir
venha sem pressa
me pegue pela mão
me dê um beijo
a vida é um sopro
eu gosto de cabelo ao vento

2 comentários:

Dani Santos disse...

Oi, Bia... o que escreves dói na carne... a loucura sempre à espreita, a corda-bamba... a intensidade do vazio...
Abraço

Beatriz Provasi disse...

viver dói na carne, mas é bom sentir-se viva, apesar de. beijos!