21.11.10

Maratonas poéticas

Então eu voltei viva. Estou viva. Depois de uma viagem à São Paulo, intensa como aquela cidade. Uma pneumonia, que mal curava eu já me metia em shows e viagens. Um super show do Arnaldo Brandão. FLIPORTO em Olinda. Poesia nas escolas. etc etc etc. Foi assim. São Paulo teve a Bienal, a foto aí em cima é de uma instação que eu achei o máximo, meio casa meio labiritno, com as portas e paredes e tapetes feitas com capas de livros e discos, e dentro uma sala de leitura, onde eu deixei um exemplar do meu livro na seção de azuis. Trata-se da obra "Longe daqui, aqui mesmo", dos artistas Marilá Dardot e Fabio Morais. Muito bacana.


Aí teve também o lançamento do meu livro lá, que essa foto expressa lindamente. O carinho dos amigos e dos amigos dos amigos. Uma delícia! Aí a pneumonia na volta, e logo que eu consegui me levantar da cama, ainda com a saúde fragilizada, minha participação no show do Arnaldo Brandão, esse músico foda pra caralho e amigo dos mais queridos, que o Vitor Vogel flagrou nessa foto lindíssima, digna de capa de álbum:

Infelizmente eu não pude ficar até o final do show. Nunca imaginei que eu fosse achar ruim um lugar onde se pudesse fumar - que ironia! O fato é que tinha um monte de gente fumando lá dentro e eu ainda me recuperando da pneumonia tive que me mandar logo depois da minha participação. Uma pena, o show tava muito bom! Casa cheia, vários amigos. Mas eu tinha que estar bem no dia seguinte pra embarcar pra Olinda. Não me restou alternativa a não ser poupar os pulmões... e ir pra casa dormir.


Aí lá fui eu pra FLIPORTO, em Olinda, ainda tomando um monte de remédios, sem poder beber, sem poder fumar, mas com fôlego suficiente pra falar poemas, e é isso o que importa. Com essa turma do Corujão da Poesia, que na foto abaixo posa para uma propaganda de óculos escuros:


Estava praticamente uma santa, como comprovam essas fotos com Betina Kopp, minha irmã poética, na porta da Igreja:


"Deus, dai-me forças", eu rezava pra conseguir resistir firme e forte sem cerveja e sem cigarro naqueles dias...


 Aí lá fui eu falar poesia em bar à base de água e refrigerantes. E lá fomos nós em cortejo falar poesia na casa de Alceu Valença, que nos recebeu com flores lançadas da sacada... lindo!   


Sempre acho muito foda poder trabalhar com poesia. Viajar, ser remunerada pra falar poesia. Muito foda estar em companhia de amigos poetas, músicos, nos apresentando em eventos de grande porte tipo a FLIPORTO, ou em escolas, dentro de delegacias e hospitais psiquiátricos, nos palcos de casas de shows, a poesia nos leva pros lugares mais diversos... e isso é do caralho! Nem sempre rola grana. A gente faz por puro tesão. Mas quando rola, dá aquela sensação de que o nosso trabalho é reconhecido, valorizado, dá aquela esperança de que é possível viver de arte... e quem sabe daqui há um tempo, vai ser o meu rosto pintado assim, como o da Clarice Lispector, num evento em minha homenagem:


Enquanto isso não acontece, eu me contento em posar ao lado de celebridades, como nesta foto com a maior celebridade presente na FLIPORTO, conhecido como Bé:


 Em pensar que eu já comi carne de bode... nunca mais! Me apaixonei por esse bodinho presente numa festa improvisada no último dia num casarão de Olinda - dia que por sinal, eu voltei a beber e a fumar. Missão cumprida, fim dos antibióticos, volto à minha vida desregrada... Quer dizer, mais ou menos. Porque mal voltei de Olinda, já tinha um trabalho agendado em algumas escolas, poesia para alunos de 15 anos, num horário ingrato que me obrigou a dormir cedo e ficar pianinha a semana inteira. 


O trabalho nas escolas foi muito, mas muito foda! Levar poesia contemporânea e ver a garotada se interessando por Juju Hollanda, Chacal, Mário Bortolotto, Augusto de Guimarães Cavalcanti, Luiz Felipe Leprevost, Patricia Carvalho Oliveira, Adriana Monteiro de Barros, Maria Rezende, Michel Melamed... Falar, além dos meus, poemas de Tavinho Paes, Chacal, Leminski, Marcela Giannini... Muito foda ver que a garotada se interessa, sim! Só não encontra na escola poetas que falem a sua língua. Porra, que saco Álvares de Azevedo, que chama tesão de volúpia, puta de meretirz, putaria de "saturnal" (esse só com nota de rodapé pra entender... e mesmo assim traduz como orgia. e a gente sabe que não tem nada como uma boa putaria!), e enche os poemas de "oh donzela!"... Tá, bacana que eles têm que estudar romantismo e todos os outros movimentos literários. Tem que estudar mesmo, não tem jeito. Mas como é bom levar pra eles outras referências que não estão no currículo escolar, e ver que isso gera interesse, incentivar o gosto pela leitura. O que eu mais li na adolescência foi Nelson Rodrigues, que eu fui conhecer num curso de teatro. Meu colégio nunca mencionou esse nome, nunca! Um dos maiores dramaturgos brasileiros passou despercebido na escola... As escolas ainda fazem isso, criam tabus, autores e assuntos que não são tocados. Na terceira escola que eu fui, os poemas com palavrões foram censurados e eu tive que recolher alguns livros - tava livre demais pra ser verdade! Mas ainda assim tô tendo uma margem de liberdade muito bacana pra trabalhar com a garotada, e tô muito, mas muito feliz com esse trabalho! Um daqueles trabalhos que você fala, porra, isso vale muito a pena, isso faz uma puta diferença no mundo! Segue um poema do Chacal que tá abrindo a minha apresentação nas escolas:

DESABUTINO

quem quer saber de um poeta na idade do rock
um cara que se cobre de penas e letras lentas
que passa sábado a noite embriagado
chorando que nem criança a solidão

quem quer saber de namoro na idade do pó
um romance romântico de cuba
cheio de dúvidas e desvarios
tal a balada de neil sedaka

quem quer saber de mim na cidade do arrepio
um poeta sem eira na beira de um calipso neurótico
um orfeu fudido sem ficha nem ninguém pra ligar
num dos 527 orelhões dessa cidade vazia

E aqui vai um vídeo da minha apresentação com o Arnaldo no ano passado, na Cinamathèque:



E aí depois dessa postagem eu abro o meu e-mail e preciso voltar aqui para um adendo, porque recebi uma mensagem de um garoto de uma das escolas que eu visitei, parabenizando o meu trabalho e coisa e tal, e me mandando um link para os seus poemas, entre os quais encontro imagens lindas tipo "ela sorri pra você como um anjo sentindo pena de uma criança" ou "você é só mais um punhado de areia para enterrar minha solidão"... O nome dele é Diogo de Souza Barros e seus poemas estão em http://recantodasletras.uol.com.br/autores/diogosbar . O mais legal de tudo é essa troca! Em outra escola foi o coordenador, com quem troquei livros, Douglas Fagundes Murta, autor de versos como esses: "Existe um ponto além de nós / Seguramos a segunda-feira nos olhos. // Nós dois no escuro e perplexos / Desejamos o chão." Bonito isso, né?!

4 comentários:

Rodrigo disse...

Quem dera alguém tivesse lido um poema do Bortolotto nos meus dias de escola! Acredite, no mínimo, como diria outro Mário poético (o Quintana) você salvou um afogado...

E espero que o Diogo de Souza leia o que você escreveu... é importante!

Beijo, e parabéns pela jornada.

Beatriz Provasi disse...

sim, ele leu, me mandou e-mail.
tb queria ter tido na escola as referências que eu fui descobrir na vida... por isso eu fiz questão de levar esses caras! abrir a mente da garotada, que poesia não é só álvares de azevedo, castro alves, bilac e cia. a poesia não tá enterrada lá no passado. a poesia é hoje! a poesia é viva! beijos

Gean Queiroz disse...

estive por aqui, acompanhei sua viagem com lágrimas nos olhos, neva lá fora, e a saudade é grande como um elefante.

Beatriz Provasi disse...

ai, q saudade imeeeeensaaaa...! por que tem esse oceano tão grande entre a gente?! eu pensei em vc hoje, sabia? tava pensando como eu sinto falta de vc aqui pra incentivar minhas loucuras... lembrando daquela festa em que eu mergulhei na piscina e os seguranças queriam me expulsar da festa e vc me dizia "reage, bia, reage!" hahaha sinto uma falta danada disso! entre outras coisas... vc sempre tornou a minha vida muito mais divertida, e com muito mais poesia! tb pensei em vc esses dias pq rolou o sorteio do poeta oculto, e eu lembrei q no primeiro foi vc q me tirou e me fez um dos poemas mais lindos q eu já ganhei. te amo, gean! beijos!