29.11.10

Enquanto poesia houver, vamos nessa.

eu que me balanço em tantas entrelinhas dessas histórias. e que tenho por ele um amor eterno. que já passou da fase do amor romântico, suicida e homicida. que já passou da fase da raiva e da rima. que já passou por tantos percalços, por tantos tropeços. até chegar na calmaria de um amor eterno. sem dúvidas, sem dívidas. dádivas, apenas. e seus sufixos de vidas divas. terminei o livro com uma sensação muito boa de que caminhamos juntos. sem pressa. "Enquanto poesia houver, vamos nessa." tô falando do "Uma história à margem". tô falando do Chacal. tô falando dos seus uivos através dos tempos. dos seus quase 40 anos de rock e poesia. de samba e corda bamba. de invenção da vida e produção de acontecimentos. escrevi pra ele assim: "muito bonito, não o quê - o quê é fato - mas o como vc escreveu - isso é poesia!" um carro varando a noite com o motor ligado. vrruummm... e dando carona pr'um monte de gente. vrruummm... todos os ruídos dentro do poema. a ginga e a gíria. o corpo e a voz do poeta. tudo lá e a porta aberta pra quem quiser chegar. e eu pulando pra dentro do carro. mesmo quando numa bifurcação vai cada um prum lado. a gente sabe que a via volta a ser uma lá na frente. vrruummm... e o motor continua ligado. e eu tô com o dedão em riste pegando carona nesse on the road. em todos os carros, em tantos caminhos, abertos por uma certa brasília 76. allez up, meu amigo! saudações siderais, firme no leme que a reta é torta e vida longa ao pernalonga!


com a fala, o poeta:

ROCK POESIA

O grande mito da nossa geração sempre foi a cantor de banda de rock. Os grandes rituais pops. As multidões. Cenografias. Figurinos. O som, a dança e o verbo. Fomos criados com isso. Ao vivo e através de filmes e discos. Acho que o palco foi a minha folha em branco, onde tudo era escrito entre gritos e sussurros. Pelo menos aquele era nosso desejo secreto: escrever com o corpo e a voz em ligação direta com a plateia. E nós, nefelibatas de Copacabana, estávamos conseguindo juntar o prazer do verbo ao frenesi do palco. E a pegada era rock and roll, trilha sonora da nossa geração, nascida e criada à base de bate estaca e serra elétrica. (Assim foi minha infância e adolescência na rua Xavier da Silveira, em Copacabana. Meu edifício foi dos primeiros do quarteirão. Depois dele, era só a derrubada de casas e a subida de prédios). Não tínhamos como retornar ao soneto e seu remanso. Não havia silêncio para tanto. Éramos poetas da segunda metade do século XX e não negávamos fogo.
Era assim que entrávamos para fazer os recitais, como se por trás estivesse nos acompanhando uma banda de rock. Os poemas viravam letras. E na ânsia de todos em falar, cada um procurava ser rápido e incisivo como um corte, como anjo em vôo cego. Era bom falar naquela adrenalina que, afinal, era a vida que se levava. Como dizia Bernardo Vilhena: “Vida louca, vida breve, se eu não posso te levar, quero que você me leve”.
(...)

Chacal, em "Uma história à margem"
Rio de Janeiro: 7Letras, 2010

2 comentários:

Anônimo disse...

grato, bia. essa vertigem urbana sem rumo sem prumo será sempre nosso mal nosso bem. juntos nesse carrocéu infinito. bjos , ch.

Beatriz Provasi disse...

grata eu pelo livro! e vrruuummm...lá vamos nós. beijos!