30.11.10

Os tigres à solta

Amanhã tem o lançamento do livro do meu amigo Augusto, com esse título que eu amo: "Os tigres cravaram as garras no horizonte". segue o flyer:


E um texto do primeiro livro dele, "Poemas para se ler ao meio-dia", que eu gosto pra caralho: (ele fez pra mim, embora ainda nem me conhecesse - essas coisas acontecem...)

CAPA DE ABISMO

Veste teu manto de loucura e sai pela noite. Sai pela noite porque tudo é tão misterioso. Que todas tuas ilusões perdidas são só algum brilho desvairado. Ri do seu próprio ser atropelado, mas que a noite é tua. A barba que te cerra a cara é o destino que veste dentro de cada olhar. Como uma estrela desgovernada. Teus medos, tua parafernália de exageros. Que a noite é tua loucura, tuas utopias despedaçadas. De claridades noturnas você sai por aí como um lobo atrás da caça. Teus segredos se desfazem, mas tudo permanece em aberto. E você nem nota que a sarjeta é tua liturgia bela pulsação de delírios. Tira essas roupas que incomodam tua existência e anda com teus pés descalços. Que tudo que sobrou foi uma música tocando baixinha, uma música que talvez nem exista mais. Pisa de leve sobre tais ruínas. Quem sabe assim pelo menos a noite possa parar de morrer. Coloca tua máscara, anda com tua classe de príncipe sobre teu reino depredado. Tira esse relógio da parede, utiliza teu relógio imaginário. Recolhe tuas migalhas, veste tua capa de abismo. Veste teu manto de loucura e sai pela noite. (e quem sabe desse jeito um dia a noite possa parar de morrer)

Augusto de Guimaraens Cavalcanti,
em "Poemas para se ler ao meio-dia"
Rio de Janeiro: 7Letras, 2006

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