26.11.10

como os olhos de um morto

apenas fecha os olhos da noite, como os olhos de um morto. e finge que a sarjeta não está ali te pedindo um beijo. você, que sempre acaba beijando a lona. que beija os pés da loucura. e sempre acaba lambendo as lágrimas pra matar a sede. apenas fecha os olhos da noite e dorme. mesmo que os demônios sejam os carneirinhos que você conta quando o sono não vem. e que eles estejam saltando pra dentro da sua alma. mesmo que a cama seja pequena demais pra sua solidão. você tem muitos travesseiros. aproveita o abraço dos travesseiros. eles nunca te abandonam. estão sempre fofos aguardando que você venha receber sua dose diária de demônios. você se lembra dos beijos da sarjeta. ela nunca te abandona, não é mesmo? como aquela música ligada no repeat na sua cabeça. de onde veio? não sai da cabeça. você e os beijos da sarjeta, calçando os sapatos da loucura e pisando a noite. onde foi que eu ouvi essa música? não sai da cabeça. você encarando os olhos da noite e os demônios correndo pra debaixo da cama. você com o inferno nos olhos. na noite arregalada, cheia de sustos. você sabe que a manhã sempre começa com pássaros cantando na sua janela, orquestra de espantar fantasmas. mas você já está bêbada demais para ouvir. a música deu stop na sua cabeça. apenas afunda nos travesseiros, sem sentir mais nada. nem precisa fechar os olhos da dor. ela morre dormindo. sempre depois de uma longa agonia. e você ainda se orgulha de vencer pelo cansaço? apenas fecha os olhos da noite, como os olhos de um morto. teus demônios não te arrastam pro inferno. e os piores pesadelos estão do lado de fora. sua mãe sempre disse “dorme com os anjos”. acredita. mães não mentem por mal.

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