23.10.06

Plataforma

Olho você dormir
Corpo frágil sobre a cama
Chego perto, certifico-me que você ainda respira...
Fico ali parada um tempo
Tento compreender o ciclo da existência
A pele enruga. O corpo despenca. Os órgãos se fragilizam
O ser se isola do todo, do convívio
Começa a viver só dentro de sua casca
Que vai ficando frágil como uma casca de ovo
Olho para você de novo
O amor sai pelos meus olhos e molha a minha pele
Queria parar o tempo
Impedir que as folhas do outono caíssem
Impedir que você partisse
O que é esse planeta afinal
Senão uma plataforma de chegadas e partidas?
Paramos aqui como paramos numa lanchonete à beira da estrada
Nos abastecemos de experiências
Mas sentirei falta
Dos beijos delicados
Das mãos expressivas
Dos olhos bola-de-gude cor-do-céu
Dos cabelos de algodão
E da pele desenhada pelas linhas da vida
Penso se há algo que eu queria te dizer e nada me vem à cabeça
Tudo e nada às vezes parecem a mesma coisa
Te amo para sempre
Sua ida já está marcada?
Sua passagem já foi comprada?
Prefiro esta imagem
Te ver sentadinha no avião indo embora
Do que ver o corpo botar a alma para fora

Patricia Carvalho Oliveira,
no livro "Passaporte 8574"

2 comentários:

Gean Queiroz disse...

bia....estou só começando minha carrreira de blogueiro, seu blog sim é lindo, como vc e sua cebeça cheia de idéias inspiradoras....saudade de vc...bjos

Beatriz Provasi disse...

Valeu, Gean! Saudades de vc também! Bjs!