23.10.06

Da oficina da Patricia

Eu levo comigo a avó da Pati "sentadinha no avião indo embora", o anjo da Dani com essência de baunilha plantando sementes de girassol, o filho abençoado que o ventre da Maria guardará, levo a leveza do Danilo na ponta dos pés sapateado por um interior conturbado, eu levo a paz do pai da Fabi que é um aconchego cheio de saudade, do Jamil levo comigo o impulso para o primeiro passo naquela difícil caminhada, do Rugero eu levo o silêncio que mais me comunica coletividade e nossos gestos cheios de identidade, eu levo do Ruy com grande perplexidade a quebra de um ritmo acelerado que nos aponta outro tempo mais lento e mais denso, da Betina levo as mãos que acariciam e o sorriso de menina que acaricia mais ainda, da Tchuca levo algo que me toca, da Rosália o poema certo na hora certa, da Pati tímida um olhar incerto e um mundo mágico cheio de possibilidades...
Não sei o que deixei de mim. Talvez pouco, muito pouco, ou quase nada. Estava inteira, mas dilacerada. Estava intensa, mas calada. Eu me olhava no espelho tão partida! Eu me sentia tartaruga tão sem casco! Mas ali, encolhidinha naquele canto, senti que podia observar sem ser observada. Senti que podia receber sem perder nada. Não queria me doar assim tão perdida. Não sei o que deixei de mim. Talvez pouco, muito pouco, ou quase nada. O que não deixei foi o que perdi... despejei nas lágrimas que já verti.

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