29.12.09
TODOS OS RISCOS
o risco é acreditar demais
e se perder no meio do caminho
e se enrolar no fio do novelo
e se envolver na trama da novela
e se acabar no meio-fio
chorando sozinho
quando se viver de amores inventados
o risco é se arriscar demais
e caminhar no fio da navalha
e se atirar sem pára-quedas
e se lançar no pára-peito
e ameaçar um passo
e retornar assim, meio sem jeito
quando se vive de amores inventados
o risco é apostar demais
e fazer só lances altos
contando os centavos
e jogar todas as fichas
num cavalo dado, meio sem dentes
perder o último cigarro
e implorar um trago
quando se viver de amores inventados
o risco é embaralhar tudo
jogar cartas de amor e enviar tricas de áses
se lançar de isca e engolir o peixe
desinventar o fim e começar do meio
não saber que lugar é esse, que horas são, nem por que veio
se envergonhar da confusão
e sair de fininho
quando se vive de...
...é escrever poemas mal acabados
sobre coisas mal entendidas
e ter sempre o que acabar
e ter sempre o que desvendar
e nunca ficar entediado
inventar um amor
é desejar ardentemente
todos os riscos!
19.12.09
17.12.09
Conexões
Diretamente de Macau-RN. Cidadezinha inha inha. A Grande Família na televisão. Um whisky no copo. Tá bom. Tem brisa. Hoje à tarde, depois do almoço, fiquei deitada sob uma árvore na pracinha da cidade, um calor desgraçado, mas sob a sombra da árvore, um picolé de limão, e um ventinho tão bom...!
...
CONEXÃO
16/12
Minha viagem começou com Kerouac. Eu disse que viria sozinha? Mas nãããão! Vieram comigo Kerouac, Bukowski, Sartre e Simone de Beauvoir, Freud, Jakobson, Tavinho Paes e Mário Bortolotto. Só amigos. Vieram todos comigo, depois de uma dificílima seleção, porque também imploravam pra vir Chico Buarque, Anaïs Nin, e até mesmo Nietzsche - mas eu tive que dizer não, não terei tempo para dar atenção a todos vocês! Então viemos uma pequena excursão, eu e meus livros. E minha viagem começou com Kerouac, ainda no aeroporto. Ele veio sentado no meu colo durante toda a viagem de avião (adorando as minhas carícias para lhe virar as páginas). Agora fumo um cigarro no aeroporto de Salvador, enquanto aguardo o vôo pra Natal. Passagem a R$179 tem seu preço: conexão. Então tive que descer pra trocar de aeronave e foi um alívio saber que eu podia sair pra fumar. Se eu soubesse... É melhor que escala, em que você tem que ficar aguardando dentro do avião, se entupindo de bala Toffe! Enfim, coisas de viciado... Mas o fato é que Kerouac repousa agora ao meu lado e eu parei pra escrever não tanto pensando em fazer um relato, mas porque é impossível ler Kerouac sem pensar nele. Então eu fiquei pensando... nessa estranha conexão, de me aproximar enquanto eu vou me distanciando... Talvez ele esteja lendo Kerouac agora mesmo. Tavez o mesmo livro, a mesma linha. Talvez a gente se encontre numa palavra, e passeie pelas entrelinhas... Pelo menos sozinha eu posso criar as minhas companhias. Ele acabou de sair, estava aqui agorinha, falando comigo. Tomamos whisky no mesmo copo, por isso só um, só por isso.
São 18h20. Daqui a 30 min. eu embarco. Eu e a minha comitiva. Só terminar esse cigarro...
...17h50. Túnel do tempo, voltei. Eu que nem uma idiota perguntando onde era o portão de embarque. Aqui não tem horário de verão. Mais uma hora de espera. Mais um capítulo. Mais três cigarros.
...18h15. Conheci um holandês interessante. Puxou assunto comigo ao ver a capa do meu livro. Kerouac, falou, é bom de ler com um baseado. Pelo sotaque perguntei, americano? Não, aí me disse que era proibido de entrar nos Estados Unidos. Por quê? Eu já interessada. Por causa de umas coisas que eu escrevi, respondeu. Sem entrar em detalhes. Entre umas palavras e outras eu voltava pro livro, estava compenetrada. Ele ainda falou de Bukowski e da legalização das drogas, da péssima qualidade do nosso baseado e da sua maravilhosa plantação na Hollanda. Logo ele partiu pra pegar seu vôo, sei lá pra onde, e eu fiquei triste por não ter lhe dado mais atenção. Por que será que ele foi proibido de entrar nos Estados Unidos? Comunista ou terrorista? O que será que ele escreveu? Jornalista ou escritor? Será que ele tinha um baseado daqueles, verdinho, pra me dar de presente de Natal? Pra onde será que ele estava indo? Por que falava portugês tão bem? O que estava fazendo em Salvador? Mais que tudo, eu queria ler o que ele escrevia, tendo como referências Kerouac e Bukowski e proibido de entrar nos Estados Unidos! E eu nem perguntei o seu nome... (apenas isso, e o google me salvaria!)
...18h45. Fui obrigada a passar um copo de milk shake de ovomaltine pequeno do Bob's na esteira de detector de metais. Mais uma hora de atraso, e embarque para Natal, com Kerouac e as magníficas balas Toffe da TAM.
15.12.09
Brisa
Deixarei aqui meus amigos, meus livros, minhas riquezas, minha vergonha.
Deixarás aqui tua filha, tua avó, teu marido, teu amante.
Aqui faz muito calor.
No Nordeste faz calor também.
Mas lá tem brisa:
Vamos viver de brisa, Anarina.
Manuel Bandeira
Na verdade eu vou levar meus livros. Mas pretendo viver de brisa... Durante um mês e meio, entre o Rio Grande do Norte e a Bahia. Quando tiver acesso à internet, quando tiver novidades ou histórias interessantes pra contar dessa viagem, publico aqui no blogue. Embarco amanhã. Fico na casa do meu pai. Não quero ter histórias interessantes pra contar. Quero ler meus livros. Andar pela praia. E descansar... Viver de brisa! Só isso.
eu sou a sua solidão, de Tavinho Paes
para Bia Provasi
eu sou a sua solidão
sou eu quem preenche o vazio
que você não pode preencher
sou eu quem te confirma a falta de alguém
que nem falta faz
quando você está com alguém
vivendo em paz
eu sou a sua solidão
o movimento que você não previu
o acidente do qual não se escapa
o que vê o que você não viu
o acontecimento que não passa
eu sou a sua solidão
sou eu quem te laça e desenlaça
sou eu quem te oferece lágrima e lenço
sou eu quem pede silêncio ao silêncio
sou eu quem grita uma agonia
que nem a alegria disfarça
eu sou a sua solidão
quando quiser se livrar de mim
não me esquece nem me ameaça
não sou seu caçador
nem você é minha caça
eu não sou uma desgraça
sou sensível ao seu acaso
me importo com a sua graça
eu sou o seu caso
eu sou a sua solidão
posso causar ou aliviar sua dor
não tenho nada a ver com amor
não tenho modo de usar
não tenho pressa
nem ando devagar
não sou nem triste nem carente
não sou casual nem frequente
na minha presença
quem está ausente
está exatamente
onde eu estou
quando, comigo mesmo
estou transparente
eu sou a sua solidão
não estou no seu coração
nem possuo a sua mente
até gosto da sua imaginação
mas a minha emoção
não é nem fria nem contente
não tem culpa nem se arrepende
eu sou a sua solidão
a diferença que te faz
diferente
sou a sua solidão
a sua que não te pertence
eu sou sua ... só sua
... eu sou a sua solidão
11.12.09
A NOITE DE ONTEM. E APESAR DE TUDO, ESSA SOLIDÃO.
(Os dois egos começam a fazer uma série de exercícios físicos um de cada lado do palco. Júnior e Jony são seus treinadores e é como se o palco fosse um ringue de luta livre.)
JÚNIOR: Senhoras e senhores. Ladies and Gentlemen. Essa é a luta do século. Do lado de cá nós temos o apocalipse, a barbárie, a anarquia como única saída, a esperança repousando na destruição, no future. Do outro lado, o otimismo, a força jovem de quem toma Cebion todas as manhãs e ainda acredita na Rainha da Inglaterra e no Santo Papa. (para os dois) Ok, vocês já sabem as regras, nada de golpes baixos e para o bem da humanidade que vença o menos pior.
(Jony toca um sininho)
EGO 2: Eu vou despedaçá-lo, verme.
EGO 1: Eu carrego a esperança da humanidade nos ombros. Não irei decepcioná-la. Eu acredito na Carla Perez e na paternidade do Gugu.
EGO 2: Acho melhor então começar a se defender porque eu vou começar a atacar. Sid Vicious.
(Ego 1 sofre um impacto, mas se mantém de pé.)
EGO 1: Dj Marky.
(Ego 2 fica desnorteado, mas permanece firme.)
EGO 2: Combat Rock.
(Ego 1 cambaleia)
EGO 1: Madona. (Ego 2 quase cai) Rainha Elizabeth, Georg Bush, Daniel (Ego 2 cai). Jean Claude Van Damme, Spice Girls, Jota Quest, Adriane Galisteu, Otávio Mesquita, Edir Macedo, Alexandre Pires…
JUNIOR: É sensacional, senhoras e senhores. A barbárie está sendo impiedosamente derrotada pela força do otimismo, da esperança. O apocalipse acaba de beijar a lona, senhoras e senhores. Ele já não encontra forças para resistir aos golpes sucessivos da alegria de viver, mas não... esperem.... parece que o pessimismo ainda tenta uma desesperada reação...
EGO 2: Frank Zappa.
(Ego 1 cai como se tivesse levado uma rasteira.)
JONY: Sensacional, seus porcos, reação brilhantíssima. O otimismo sem razão cai de bunda no ringue. É o final do primeiro round. (Toca o sininho.)
JÚNIOR: (para Ego 1) Você bobeou. A luta tava praticamente ganha.
EGO 1: Foi bobeira minha. Mas ele não perde por esperar.
JONY: (para Ego 2) Teve um momento que eu pensei que tinha sido o fim.
EGO 2: Nesse segundo round eu acabo com ele.
(Jony toca o sininho anunciando o segundo round.)
JONY: Vai lá, ataca primeiro, não dá chance pra ele.
EGO 2: Lou Reed. (Ego 1 vai cedendo) Vítimas da Candelária, do Carandiru, Mick Jones, Etiópia, flagelados do Nordeste (encosta Ego 1 nas cordas) Sem terra, Sex Pistols, Cólera, Olho Seco, Sub, Detrito Federal...
EGO 1: (num esforço sobre-humano) Back Street Boys (Ego 2 cai longe). NSync, KLB, Twister, Shakira, Nelson Ned.
(Ego 2 leva a mão a pélvis e solta um grito)
JUNIOR: (toca o apito) Eu avisei que não valia golpe baixo. Vou ter que descontar ponto de você, Ego.
EGO 1: Sacanagem.
JÚNIOR: Continua a luta. (falando baixo para Ego 1) Aproveita que ele tá agonizando e dá o golpe de misericórdia.
EGO 1: Deixa comigo. (falando bem alto) É o Tchan no Hawaí.
EGO 2: Nããããoooo!!!!
(Ego 2 voa para fora do ringue como se atingido por um golpe violentíssimo.)
JÚNIOR: Sensacional, senhoras e senhores. A rebeldia sem causa foi atirada para fora do ringue. Um golpe violentíssimo. A barbárie agoniza. Parece que a luta terminou. A torcida da “galera feliz” está em delírio. Mas esperem... não, não é possível. Parece que o pessimismo ainda encontra forças para se levantar. O pessimismo vai voltar. A ameaça ainda paira sobre a humanidade. É inacreditável.
JONY: Ok, seus porcos, podem parar de guinchar, ainda não foi dessa vez. Os abutres da felicidade sem razão não vão se alimentar do inconformismo salutar. A contestação volta ao ringue. O inconformismo não se dá por vencido. Os seus olhos brilham como se tivesse um golpe mortal preparado.
EGO 2: Dogma 95, Sid and Nancy, Torquato Neto...
(Ego 1 cai desfalecido, mas ainda assim consegue balbuciar.)
EGO 1: (balbuciando) Paulo Ri... car... do...
(Ego 2 cai e os dois ficam no chão um de cara pro outro como se estivessem trocando tapas já no limite de suas forças.)
EGO 2: The Damned.
EGO 1: Domingão do Faustão.
EGO 2: Pj Harvey.
EGO 1: Banheira do Gugu.
EGO 2: Nick Cave e Tom Waits.
EGO 1: Caldeirão do Huck.
EGO 2: Latão de lixo.
EGO 1: Caviar.
EGO 2: Barata com molho de pimenta da Cica.
EGO 1: Abobrinha.
EGO 2: Melancia.
EGO 1: Hebe Camargo.
(Suas últimas palavras são praticamente inaudíveis, mas mesmo assim continuam falando até tombarem definitivamente desfalecidos.)
Deu pra sacar mais ou menos como deve ter sido, né? Uma leitura dramatizada totalmente improvisada, no palco do CEP 20.000, com Betina de EGO 1, Marcela de EGO 2, eu de JÚNIOR, Juju de JONY, e a Karlinha lendo as rubricas. Destaque pra Juju impagável fazendo o sininho, e Marcela rolando no chão com um vestido preto deslumbrante! Foi tudo filmado pela câmera do Tavinho - quero muito ver isso! O Mário faz teatro pra se divertir com os amigos, e foi o que a gente fez, acho que ele vai gostar disso.
Depois rolou o "poeta oculto", que é um amigo oculto de poemas, num barzinho em Botafogo, que foi caótico, como tudo o que a gente faz, mas muito muito bom!
Esrevi esse pra Betina:
a poesia impressa no corpo
a poesia expressa na fala
poesia nas veias
olhos, sorrisos
no coração
a força de mil cavalos
a fome de cem leões
o fogo de dez dragões
e o canto de uma sereia
na sua voz
e ela é só uma menina
bailarina, serpentina
brincando de ser feliz
é uma atriz que esbarrou na poeta e disse:
- desculpa, não vi que você estava aí...
e a poeta já estava nela
poética, com cores vibrantes
corpinturada na sua pele
luminosa nos olhinhos que pedem mais
a poeta rompeu o casulo
borboleta colorida
e saiu voando por aí...
levando a atriz, a bailarina, a menina
a voar mais alto, mais leve, sempre mais...
um dia ainda vejo ela na tevê, na tela do cinema
num close up que faz ver a alma
e vou dizer: que linda! ela é poesia...
ela ainda é a menina que brinca.
E ganhei esse do Pedro Lage:
Meu Poeta Mais que Oculto
Onde se perde, no labirinto dos lábios,
uma romã de olhos verdes e andar de colibri?
- Você acredita em cinema?
- Sim.
- Você acredita em poesia?
- Sim.
- Você quer ser uma princesa?
- Aí, depende.
- Você depende do caos?
- Também.
Ela se move na noite dos beijos mais...
e passa, deusa-menina, no lapidário dos ecos
para me dizer que escapou por um triz.
- Você acredita em teatro?
- Mas, é claro que sim!
Ela é o amor que não se deu porque voou
com seus olhos de aurora
e a vida ficou toda aa sua frente, cheia de ninhos
e bosques sensuais, até se perder nas moléculas
inchadas do futuro. Nunca é demais lembrar
mesmo no abismo dos versos
que por ela suspirou o poeta, que por ela
morreu o poeta – quem, mais que tudo, a quis
até queimar-se nas asas do outono.
Ai de mim!, como imaginar que eu poderia
na várzea da cidade insone, imprimir meu nome
e dar dizer colar o meu amor a Beatriz!
Mas mesmo entre os suspiros dos poetas, essa semana eu ouvi de um amigo sobre mim o que é certeiro e definitivo: "Você é a garota mais solitária do Rio de Janeiro". Eu já chorava de soluçar numa mesa de bar, e fiquei com aquilo ecoando: "Você é a garota mais solitária do Rio de Janeiro". Ele é um cara que enxerga além. "Você é a garota mais solitária do Rio de Janeiro". Suspirei, conformada. Eu sou mesmo.
10.12.09
É HOJE

ESPAÇO CULTURAL SÉRGIO PORTO
rua humaitá, 163 (fundos / 2266 0896)
10/12, quinta feira
de 20 às 22:30 / 4 reais.
HOMENAGEM A MÁRIO BORTOLOTTO

À SAÚDE E À RECUPERAÇÃO
DO GRANDE ARTISTA E IRMÃO
com leitura e textos de / para mário por
rogério skylab, chacal, fausto fawcett, carmen molinari, fabrício corsaletti, graça carpes, edu planchêz, mano mello, beto brown, pardal, ericson pires, fran fillon e quem chegar
*******************************************************
art-action com
tavinho paes, arnaldo brandão, betina kopp
beatriz provasi, juju hollanda, marcela giannini, layanna lossë
******************************************************
marco gringo carioca, daniel, zé urbano, gabriel, ricardo rodrigues, microfone aberto
apoio: prefeitura do rio
8.12.09
PRA SER BEM CUIDADO
pra você olhar quando acorda
e que elas ponham cd's de blues
pra você ouvir enquanto dorme
que os anjos te apliquem remédios
e os médicos digam poemas
pra você voltar logo
a dizer poemas, a cantar um blues
com os amigos
para as moças bonitas
e os anjos caídos
7.12.09
POEMÁRIO BORTOLOTTO NO CEP 20.000 / DIA 10 DE DEZEMBRO
Preferia que isso fosse cena de uma peça.
Mas temos que conviver com esse horror.
O que fazer ? como o pessoal dos Parlapatões,
cantar bem alto a poesia, de mário e em sua homenagem
para que a nuvem negra se dissipe,
mário volte a conversar com a gente e
que a vida possa ser vivida plenamente
sem medo ou terror.
A MORTE COM SEU HÁLITO FRIO
BAFEJA EM MINHA NUCA
COMO QUEM NÃO QUER NADA
COMO QUEM ESTÁ SÓ DE PASSAGEM
ELA SABE QUE EU NÃO QUERO NADA COM ELA
A VIDA É UMA BELA SACANAGEM
MORRER É UMA PUTA VIADAGEM
Como se ele viesse me dizer: "Fica fria, eu vou sair dessa!" E eu sei que vai.
5.12.09
Mário,
segura essa, rapaz.
agüenta firme.
tem umas minas chorando por você.
tem uns amigos que hoje não vão beber.
tem até ateu que vai entrar na igreja, você vai ver.
agüenta firme, segura mais essa.
você é forte, rapaz.
eu sei que é.
é um cara que protege.
que merece proteção.
eu queria te proteger.
agora.
te tirar toda a dor.
agora.
trazer logo de volta
sua cara de mau
e o coração de menino.
trazer de volta pra uma mesa de bar.
pra um jogo de bilhar.
agora.
te dar um beijo numa esquina
com o dia amanhecendo.
agora.
te deixar sob o ventilador
com uma moça linda
adormecendo na sua cama.
agora.
te deixar numa janela
ouvindo blues
com um blue label nas mãos.
agora.
te deixar a sós
com o amor da sua vida
te dizendo docemente que te ama.
agora.
te deixar
agora
num lugar qualquer
que seja o melhor lugar pra você.
só pra você não me deixar
com essa angústia no peito
e essa cara de sala de espera.
pra você não me deixar
com essa lágrima parada
no canto do olho
com esse olho parado
na tela
pra você não me deixar.
não deixar essas minas chorando...
e os amigos sem beber...
e os ateus numa igreja
pedindo aos anjos
que te protejam...
3.12.09
ORAÇÃO
mas anjos têm asas
a gente segue voando
e se espatifando no chão
só queríamos ser anjos
mais nada
mas anjos têm asas
pra atravessar a escuridão
só queríamos ser anjos
tocadores de harpas
mas tem uma guitarra
arranhando o coração
anjos, anjos, mais nada
mais uma dose
mais um trago
mais uma droga
um beijo, um escarro
mais um salto
mais um chão
anjos tocadores de harpas
anjos portadores de asas
todos rindo da nossa cara
(verdade ou alucinação?)
2.12.09
DEUS É FODA!!!
28.11.09
Esfinge e Oração - amostra grátis

E na terça, dia 1º, apresento "Oração", de Fernando Arrabal, com Aline e Nanda no Jardim da UNIRIO, às 19h30. Desde às 16h30 estarão rolando várias cenas. A nossa vai ser a última. O texto é foda e a nossa encenação acho que tá no mínimo interessante. (é a tal cena pra qual eu tava testando cheirar açúcar)
27.11.09
26.11.09
A menina não estava sozinha. A seu lado, um coroa vidrado na gatinha. Tavinho devia estar mais inseguro que ela, apesar de sua longa estrada. Assim, como ficam os coroas com gostosas bem mais novas e cheias de atitude, meio desconsertados... Encontrei Tavinho mais cedo transtornado pelo esporro que tinha tomado da BB por tê-la feito borrar a unha. Que nem a criança que acabou de levar uma bronca da mãe porque fez coisa errada. Tavinho seria um desses moleques bem agitados, que não pára quieto um só segundo, que é a mãe desviar o olho e ele já virou o mundo de pernas pro ar, construiu um foguete com utensílios de cozinha e já está pronto pra embarcar! E embarca... Depois volta cheio de novidades, e já marcou com o ET dono de um bar um show de poetas no meio do Sistema Solar! Tavinho é assim. E ai de quem não acompanhar! E lá estava ele no palco dizendo: “Eu só posso ser aquilo que eu sou 24 horas por dia”. Tavinho é assim. É o que ele é. E é tudo o que ele queria.
Um pouco antes eu adentrava o Canecão, junto com a minha irmã, Aninha, com um convite que dizia “Setor B, Mesa 364”. O que eu procurava era o meu lugar, e não essa indicação. O meu lugar que era junto com Marcela, Maysa, Fernão, Juju, Eliana, Tito, Adriana, Maristela, Dalberto, Ricardo, Bayard, Luiz etc etc etc. Estavam todos lá, os poetas, aglomerando mesas que não era “as suas”, pra verem juntos aquilo que seria um acontecimento poético-musical no palco de peso do Canecão. Os poetas, acostumados a viver em guetos, eventinhos de poetas para poetas, vibrando com aquela janela, portão, grade, porta de garagem, porta aberta, escancarada, dando passagem pra palavra. E foi assim que, extasiados, vimos Betina entrar. Depois Tavinho. Num bate-bola lindo! Um dando o passe pro outro marcar. Preparando o território pra Karla Sabah.
Karlinha entrou gostosa, falando o poema que ela deu o título de Madame Kaos. O show foi todo lindo, ela brilhou! No final os poetas foram todos pra linha de frente, pra beira do palco, dançar, como boa vanguarda, convidando o público todo a se levantar. E no bis do “Cala a boca e me beija”, num momento me deu um estalo, é agora: subi no palco e fui caminhando com os braços abertos em direção à Karlinha, que feliz em me ver, retribuiu o meu beijo, um estalinho, um abraço, outro estalinho, e a minha saída calmamente do palco. Não poderia sair dali sem atender ao pedido que ela me fazia no outdoor, sempre que eu passava na frente do Canecão, durante uma semana inteira, e que ela reiterava com a sua linda voz na primeira execução da música e durante todo o bis. Um beijo que diz “eu te amo” em silêncio. E fica ecoando...
Fotos: Maysa Britto
alô, alô, testando...
24.11.09
23.11.09
EXPLOSÃO
de manhã especialmente
sempre penso em explosões
ligo o gás pra preparar o café
explosões
andando pela rua vi três botijões de gás empilhados,
um em cima do outro
pensei em explosão
quando bati de carro
pensei em explosão
sempre que passo por um posto de gasolina
penso em explosão
às vezes acendo um cigarro.
BAGANA NA CHUVA
ele costumava olhar os pássaros
o retrato de uma garota e um estilete que não ia usar
caiaques no céu
baganas atiradas em poças d’água
gotas de chuva com gosto de pepsi-cola
ele nunca conseguia chegar em casa
era preciso pegar uma mulher e fugir pra algum lugar
um lugar onde não se ouvisse falar de amor
onde ninguém soubesse tocar saxofone
mas ele apenas tomava conhaque na janela ouvindo blues
(música é melhor que saber o caminho de volta pra casa)
20.11.09
BLUE EYES
blá blá blá blá
ele é totalmente demais
ele tem um grupo de green eyes
com seus olhos the blues man
the girls da sua life
as she-has do seu he-man
qualquer coisa dá o start
ele não aceita o stop
art é action, vida é arte
ele é pop, ele é top
com seus olhos de blues man
suas moças de green eyes
sua batida beat
transportada em bytes
ele não topa o stop
ele quer sempre mais
seu heart beat bate
pelas belas de green eyes
* autor de músicas como "Rádio Blá", "Totalmente demais" e "She-ha" - siiiiim..., a da Xuxa! grande poeta. e grande amigo.
ESSA COISA
essa urgência
uma ânsia
uma coisa qualquer
um impulso
um fascínio
uma atração incontrolável
isso que é inominável
sem explicação
esse jogar-se
atirar-se ao precipício
um sorriso no rosto
no abismo
o chão se aproxima
a queda é certa
vai doer, vai sangrar
vai espedaçar
você pode morrer
você pode matar
todo o risco
todo o medo
tudo o que é angústia e desespero
se desmancha no ar
naqueles segundos
em que a paixão clareia os sentidos
tudo é leve, não há gravidade
e você sabe,
contra todas as leis da física,
você sabe que não está caindo
e mais do que tudo, você sabe
tem a plena certeza
de que sabe voar
16.11.09
QUANDO NÃO SE ACREDITA
quando você não acredita
em comerciais de margarina
em novelas do manoel carlos
a vida até que é boa
quando você não acredita
em deus e no diabo
no certo e no errado
a vida até que é boa
quando você não acredita
em previsão do futuro
em remissão do passado
a vida é boa
quando não se acredita
quando ela simplesmente
(se fingindo de acaso)
te surpreende
APENAS ISSO.
você e eu
cercados de antenas
de topos de prédios
à nossa frente, o precipício
o abismo sob nossos pés
e a gente sentado em silêncio
balançando as pernas
lado a lado
um suave sorriso
e a leve impressão
de que viver vale a pena
14.11.09
GATINHO DE ESTIMAÇÃO
jogada no sofá lendo um livro, fumando um cigarro, no silêncio que é a minha calma
e um gato passeando pelas minhas pernas
vindo acomodar-se perto do meu peito
bem de mansinho...
só pra eu sentir, entre um ronronar e outro,
um leve alívio de ser amada
(mas não há gato, não há alívio, não há nada)
13.11.09
INESPERADO
é que tem coisas realmente inesperadas
é que eu não sei quantos chopps tomei
nem que horas eu vou voltar pra casa
é que de repente eu me animei
é que de repente eu não sei
eu simplesmente não sei
nem sei se eu quero saber de alguma coisa
é que eu simplesmente me deixo levar
e que tem coisas inesperadas
é que o que se espera é muito chato
o previsível, indesejado
é que de repente o desejo nasce do acaso
é que de repente o acaso é um caso sério
é que nada é de caso pensado
é que o que se pensa é muito chato
o impensado, desejado
é que de repente o dia amanhece
é que de repente a vida amanhece
é que de repente, eu ainda estou de noite
eu preciso de óculos escuros
com vista pro mar
eu preciso de você
com vista pro mar
das aves negras no céu
das ondas brancas no chão
das bebidas trancadas no bar
de burlar a segurança
das saídas de emergência
do 28o andar
de tudo o que nos ronda
de tudo o que eu nem sabia -
de tão inesperado! -
que eu iria precisar
você e eu (só)
(sem vista pro mar)
9.11.09
IMINÊNCIA
o por fazer melhor que o feito
muito maior que o ato (mais vasto...)
o que está nas mãos está nas mãos.
não é desejo de pegar
[a mão só avança pelo que fica no ar]
desejar e ter é muito bom - essa urgência...
mas bom mesmo é morder o sanduíche pelos lados
e deixar por último o meio cheio de recheio!
ou comer primeiro a parte seca do biscoito recheado
ou guardar aquele último gole de coca-cola pra manhã do dia seguinte de ressaca - hummm...
a coisa deixa de ser a coisa em si e vira um objeto de desejo
como um beijo guardado
[estamos sempre na iminência de algo]
longa viagem para avestruzia

eu queria ver avestruzes cruzando o aterro esta noite!
avestruzes enormes cruzando o aterro do flamengo
para espanto dos seres terrenos
1, 2, 3, 4, 5... vários!
nas duas pistas
correndo
não me pergunte por que avestruzes
são seres estranhos
meio pássaros, meio humanos
como um gordo americano empunhando o seu bic mac no pódio
tendo a velocidade de um keniano
avestruzes enormes, gordos, comedores de bic mac e corredores de maratona
com suas pernas finas e compridas dando largas passadas de corrida
cruzando o aterro despreocupados, desprevenidos dos carros
para espanto dos motoristas embriagados
ia dar no noticiário:
“acidente no aterro é causado por avestruz na pista”
“de acordo com testemunhas, os avestruzes desembarcaram minutos antes no aeroporto santos dumont”
“ainda não se sabe por que vieram”
“os avestruzes permanecem detidos para averiguação”
“segundo o comandante do 13º batalhão, ainda não foi possível colher os depoimentos porque os avestruzes não falam a nossa língua”
precisa-se de tradutores de avestruz – anunciaria o jornal nos classificados
tradutor de avestruz se tornaria um emprego valorizado
não por ser um trabalho assim tão bacana, mas por estar em falta no mercado
logo surgiriam os cursos especializados:
- avestruzês para iniciante
- avestruzês – curso básico
- avestruzês advanced
e as publicações:
- avestruzês para viagem – guia de bolso
etc.
e até as universidades ofereceriam habilitação no curso de letras
marque a opção de habilitação no curso desejado:
( ) inglês
( ) francês
( ) alemão
( ) espanhol
( ) avestruzês
e por aí vai...
mas tudo isso não tem a menor importância
eu só queria ver avestruzes cruzando o aterro esta noite
sem nenhum sentido político, social ou educativo
pela sua total falta de sentido
pela sua total irrelevância
só porque eu acharia bonito
como uma poesia
cruzando o aterro para estar comigo
espelho sem água
sem margem pra debruçar
miragem, miragem
caminho pra algum lugar
deserto, lugar de passagem
lugar que não dá pra ficar
sempre igual, sempre igual
duna aqui, duna ali
vários contornos
a mesma paisagem
sempre o mesmo chão
sempre o mesmo sol
sempre a mesma noite fria
depois do calor do dia
sempre o mesmo céu
sempre o mesmo sou
em busca de oásis
deserto de areias brancas
deserto sem água
sem margem pra debruçar
espelho sem fim
5.11.09
NO SILÊNCIO DAS HORAS
dolorida em todas as demoras de não ser
do não sei...
o não que se impõe no talvez
sem nunca ter sido dito
ecoando no tempo esgarçado
no espaço vazio
o não na voz são três letras
palavra de curta duração
bala que atinge em cheio
uma só dor, e a paz eterna
o não no silêncio é a sala de espera
é a sala de espera
é a sala de espera
espera
espera
hemorragia interna
eterna, silenciosa, consumida de dores de demoras
como é triste a resposta que se dá no silêncio das horas
4.11.09
PERFORMANCE

31.10.09
NUMA NOITE QUALQUER...
quando colhemos a poeira das ruas
e os postes iluminam apenas poças d’água que refletem solidão e dor
e uma criança vende chicletes na madrugada
e um bêbado grunhindo gemidos desconexos
corta o silêncio, invade o poema
falar de flores e da luz da lua
não vale a pena
II
um hippie corta palha e me faz uma esperança
eu não quero, estou dura
um hippie corta palha e me faz uma flor
eu não quero, estou dura
me faz um peixe, um pássaro
várias formas de dobradura
quando ele já está convencido
me presenteia
de peixe, pássaro, flor
de esperança
e eu tiro do bolso um sorriso
quase doce
de criança
III
uma sirene de polícia
de ambulância ou de bombeiro?
uma rajada de tiros
ou de fogos de artifício?
uma confusão
ou um festejo?
um bêbado xingando
ou bradando versos de amor?
é de alegria ou dor
de medo ou esperança
a síntese dos sons da madrugada?
Difícil ser funcionário
Difícil ser funcionário
Nesta segunda-feira.
Eu te telefono, Carlos
Pedindo conselho.
Não é lá fora o dia
Que me deixa assim,
Cinemas, avenidas,
E outros não-fazeres.
É a dor das coisas,
O luto desta mesa;
É o regimento proibindo
Assovios, versos, flores.
Eu nunca suspeitara
Tanta roupa preta;
Tão pouco essas palavras —
Funcionárias, sem amor.
Carlos, há uma máquina
Que nunca escreve cartas;
Há uma garrafa de tinta
Que nunca bebeu álcool.
E os arquivos, Carlos,
As caixas de papéis:
Túmulos para todos
Os tamanhos de meu corpo.
Não me sinto correto
De gravata de cor,
E na cabeça uma moça
Em forma de lembrança
Não encontro a palavra
Que diga a esses móveis.
Se os pudesse encarar...
Fazer seu nojo meu...
Carlos, dessa náusea
Como colher a flor?
Eu te telefono, Carlos,
Pedindo conselho.
19.10.09
16.10.09
Eu era o pacote completo, e eles fizeram um lindo laço de fita pra enfeitar a caixa (ou poemas de amigos)
Bia Provasi
voz suave e tranqüila
divertida e atenta
sempre em paz
sempre faz
acontece
ama
ri
.
recita
a vida
poesia
que faz
a cada dia
um verso
a cada gesto
e o ritmo
no pulso
seu olhar de anjo
o jeito de ocupar o espaço
a dança que faz com o braço
a vida que dá ao poema
abrem portas no universo
para acompanharmos
sua vida a cada verso
15/09/09
(AMIGOS: Eu, Fernão, Maysa, Marcela, Maíra, Juju e Célio)
Atemporal
para a grande amiga, Beatriz Provasi.
Artista de verso e de palco

(AMIGOS: Lucio, Tamara, Natália, eu e Jacomo)
10.10.09
NU ARTÍSTICO
tento esconder as gordurinhas dos meus pensamentos
mas elas pulam pra fora, formam pneuzinhos
meus poemas são repletos de pneuzinhos
são o corpo imperfeito de um espírito inquieto
não uso maquiagem e vivo descabelada
meus versos têm um dentinho torto que aparelho nenhum dá jeito
cansei de sorrir com a mão na frente pra esconder o defeito
hoje sou só gargalhada!...
desfilo versos desengonçados pelas passarelas
me deixo fotografar com as expressões mais ridículas
o amor é ridículo – por que meus versos têm de ser bonitos?
eu defendo a feiúra da obra de arte
a estética da feiúra, da imperfeição,
do exagero, do excesso de informação
a estética dos engarrafamentos, da fumaça, das buzinas
do muro pichado, do lixo revirado
de tudo o que é caótico, urbano
de tudo o que é humano
a nudez mais funda é a alma exposta, ferida aberta,
coração dilacerado atirado no asfalto
que ainda pulsa, pulsa, pulsa...
antes de ser esmagado pela roda do carro
o motorista apressado nem vê
(está sempre atrasado pra viver)
eu desacelero, recolho, emolduro, exponho:
é o meu poema
que ainda pulsa, pulsa, pulsa...
eu estou nua dentro de um carrinho de compras no meio da rua
mas são poucos que têm olhos pra ver.
15.9.09
uma carta (ou história de ninar)
Beijos,
Bia
ps. este texto integra o livro em processo "Oscar manda lembranças"...