17.12.09

Conexões

17/12 - 22h40
Diretamente de Macau-RN. Cidadezinha inha inha. A Grande Família na televisão. Um whisky no copo. Tá bom. Tem brisa. Hoje à tarde, depois do almoço, fiquei deitada sob uma árvore na pracinha da cidade, um calor desgraçado, mas sob a sombra da árvore, um picolé de limão, e um ventinho tão bom...!

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CONEXÃO
16/12

Minha viagem começou com Kerouac. Eu disse que viria sozinha? Mas nãããão! Vieram comigo Kerouac, Bukowski, Sartre e Simone de Beauvoir, Freud, Jakobson, Tavinho Paes e Mário Bortolotto. Só amigos. Vieram todos comigo, depois de uma dificílima seleção, porque também imploravam pra vir Chico Buarque, Anaïs Nin, e até mesmo Nietzsche - mas eu tive que dizer não, não terei tempo para dar atenção a todos vocês! Então viemos uma pequena excursão, eu e meus livros. E minha viagem começou com Kerouac, ainda no aeroporto. Ele veio sentado no meu colo durante toda a viagem de avião (adorando as minhas carícias para lhe virar as páginas). Agora fumo um cigarro no aeroporto de Salvador, enquanto aguardo o vôo pra Natal. Passagem a R$179 tem seu preço: conexão. Então tive que descer pra trocar de aeronave e foi um alívio saber que eu podia sair pra fumar. Se eu soubesse... É melhor que escala, em que você tem que ficar aguardando dentro do avião, se entupindo de bala Toffe! Enfim, coisas de viciado... Mas o fato é que Kerouac repousa agora ao meu lado e eu parei pra escrever não tanto pensando em fazer um relato, mas porque é impossível ler Kerouac sem pensar nele. Então eu fiquei pensando... nessa estranha conexão, de me aproximar enquanto eu vou me distanciando... Talvez ele esteja lendo Kerouac agora mesmo. Tavez o mesmo livro, a mesma linha. Talvez a gente se encontre numa palavra, e passeie pelas entrelinhas... Pelo menos sozinha eu posso criar as minhas companhias. Ele acabou de sair, estava aqui agorinha, falando comigo. Tomamos whisky no mesmo copo, por isso só um, só por isso.
São 18h20. Daqui a 30 min. eu embarco. Eu e a minha comitiva. Só terminar esse cigarro...

...17h50. Túnel do tempo, voltei. Eu que nem uma idiota perguntando onde era o portão de embarque. Aqui não tem horário de verão. Mais uma hora de espera. Mais um capítulo. Mais três cigarros.

...18h15. Conheci um holandês interessante. Puxou assunto comigo ao ver a capa do meu livro. Kerouac, falou, é bom de ler com um baseado. Pelo sotaque perguntei, americano? Não, aí me disse que era proibido de entrar nos Estados Unidos. Por quê? Eu já interessada. Por causa de umas coisas que eu escrevi, respondeu. Sem entrar em detalhes. Entre umas palavras e outras eu voltava pro livro, estava compenetrada. Ele ainda falou de Bukowski e da legalização das drogas, da péssima qualidade do nosso baseado e da sua maravilhosa plantação na Hollanda. Logo ele partiu pra pegar seu vôo, sei lá pra onde, e eu fiquei triste por não ter lhe dado mais atenção. Por que será que ele foi proibido de entrar nos Estados Unidos? Comunista ou terrorista? O que será que ele escreveu? Jornalista ou escritor? Será que ele tinha um baseado daqueles, verdinho, pra me dar de presente de Natal? Pra onde será que ele estava indo? Por que falava portugês tão bem? O que estava fazendo em Salvador? Mais que tudo, eu queria ler o que ele escrevia, tendo como referências Kerouac e Bukowski e proibido de entrar nos Estados Unidos! E eu nem perguntei o seu nome... (apenas isso, e o google me salvaria!)

...18h45. Fui obrigada a passar um copo de milk shake de ovomaltine pequeno do Bob's na esteira de detector de metais. Mais uma hora de atraso, e embarque para Natal, com Kerouac e as magníficas balas Toffe da TAM.

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