17.9.06

corro entre gente que eu não sei o nome que eu não vejo o rosto que eu não sinto a dor que eu não sei de nada nem quero saber quem sabe que a pressa é a alma dos nossos negócios a nossa alma perdida entre o preto e o branco de pedras portuguesas calçadas descalças de passos leves livres soltos...
meus passos solteiros se vão casados com o tempo marcando a cadência da decadência se perdem no vão entre o ir e o para o deslugar algum...
meus passos pesados afundam o asfalto me afundam no mar de piche avançam o sinal sempre verde verde verde sem esperança...
eu corro descarregando a descarga elétrica que eu tomo na veia pico na veia todo dia todo me pico em espasmos epiléticos...
eu passo meus passos para o passado para o passado para o passado eu passo para o passado que o presente não me apresenta o futuro o futuro a Deus pertence e Ele também não há quem me apresente...
quando eu chegar lá onde quer que seja no meu passo apressado entre vultos passados sem nome sem rosto sem nada atravessada por ruas avançada por sinais desterrada por aterros tragada por fumaça náufraga no mar do tempo em ressaca... quando eu passar por lá a vida passou por mim e eu corria tanto que nem vi...
mas eu paro. de repente. sem aviso prévio. eu paro o tempo. encaro seus olhos de furacão. indago seu nome. questiono a que veio. para onde me leva? não vou mais com você. é você quem vai comigo. e eu sigo afundando passos leves na areia... um cafuné de brisa me emaranhando os cabelos... o mar me beijando os pés...
se eu já sei para onde vou? não. ainda não. talvez nem nunca saiba. mas ao menos eu sei como!...

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