24.3.06

...certo brilho...

Nada de extraordinário, apenas um estranho brilho no olhar, um brilho inconveniente, perturbador, reluzindo incessantemente. Pois foi o intrigante brilho daqueles olhos de favo de mel que o atraiu. Olhos de abelha rainha. Num deslumbre, ele quis saber o que se passava por trás daqueles amendoados olhos que o amedrontavam, o que ia por dentro daquela alma de aura dourada que o instigava tanto. Seu olhar desfilava na passarela de concreto. Ele petrificou. Ela passou olhos fixos no nada ou tudo. Ele estava confuso. Ela passou sem saber o que se passava, dando uma profunda tragada no cigarro como quem suspira de tudo, e evaporou-se num rastro de fumaça... ele cego a tatear o ar ainda tentava senti-la na brisa leve que a levou. Tal luz intensa ofusca a visão, ela lançou seu farol alto, ele não viu mais nada. Teve medo da escuridão eterna de quem, por muito tempo privado de luz, enfrenta o sol cara-a-cara. Deixou-a partir. Preferiu habituar seus olhos à luz de dias-a-dias nublados. Ela passou iluminada. Ele se apegou ao que se apaga. Mas um certo brilho, em noites de lua, refletia em sua alma, percorrendo-lhe num arrepio a espinha. Ela, sozinha no quarto, ainda transmuta seus olhos de fogo em olhos d’água.

2 comentários:

Anônimo disse...

quem nunca comeu melado sabe os olhos que tem.

Beatriz Provasi disse...

heim?! je n'ai pas compri...