7.1.11

pés na estrada, 4 rodas e todo o resto...

a dois passos da estrada
o motor ligado
pisando fundo pra desacelerar a alma
o som no volume máximo
tem muita coisa pra ser silenciada
são as mesmas músicas, as mesmas músicas, sempre repetidas
todas as estradas são a mesma estrada
uma fuga & uma busca desesperada
o mesmo chão de abismos comendo poeira
toda a água do mundo é a mesma cachoeira
todo o sal o mesmo mar
isso não é razão pra não mergulhar
sempre fundo mais
no mundo
e se todo céu tem cor de infinito
por que brilham mais as estrelas do deserto?
na verdade não me importam os porquês
só quero as cores e os improvisos
eu me respiro na terra molhada
como me respiro na fumaça
e num ou noutro nunca o mesmo cheiro
as estradas são as mesmas
é a gente que muda o jeito de respirar poeira
o jeito de morder - voraz ou calmamente -
fatias de imensidão, pedaços de qualquer lugar
tudo não passa de um jeitinho novo de mastigar
trago todas as estradas
no meu paladar
e uma fome de mil léguas.

2 comentários:

Rodrigo disse...

Uma das coisas que mais curto nos teus poemas é este deslizar entre umas sensações naturais e outras artificiais com tanta sutileza, umas imagens de paz e de confusão que são realmente deliciosas - acho que é esse o significado de kaos, talvez.
este poema e o "essa mania de lamber feridas" tiram o fôlego, junto com os cigarros que acompanharam a leitura.

Beatriz Provasi disse...

pô, valeu! é tão automático o q eu escrevo... legal ler uma análise assim. beijos