10.12.10

Um chazinho prum sono tranqüilo, só isso; ou I love you Alice; ou Eu devia estar sonhando; ou Que sono de mim mesma!

Eu já ia dormir... dispensei o convite de um amigo pro bar, pq eu tô virada - uma baita insônia, e eu saí às 8 da matina e só cheguei em casa quase meia-noite, morta de cansada. Eu já ia dormir, mas fui abrir a geladeira (eu tenho esse hábito de ficar abrindo e fechando a geladeira na madrugada, mesmo que ela esteja vazia, como se de uma hora pra outra fosse brotar uma surpresa dentro). Pois bem, eu fui abrir a geladeira e a surpresa me brotou na forma de uma garrafa de cerveja. Resolvi bebê-la. Antes de dormir. Como se fosse um chazinho prum sono tranqüilo.


Resolvi beber e escrever alguma coisa. Mas que merda que eu tô escrevendo?! Que grande merda! A quem interessa que eu tava virada e fui abrir a geladeira antes de dormir, e que eu tenho esse habitozinho idiota, e achei uma cerveja e resolvi beber? Foda-se, né? Quer beber bebe e não me enche o saco. Mas me deu vontade de escrever qualquer coisa que não fosse poema. Qualquer coisa que fosse só uma garota sozinha na madrugada caindo de sono, detonada, a fim de tomar uma cerveja antes de dormir e dizer pra alguém que fez essa merda. Em vez de dormir e ter a possibilidade de sonhar com alguma coisa mais interessante, um filme do Buñuel ou umas tomadas do Bergman. Essas imagens surrealistas que inspiram os nossos sonhos. (ninguém me prova que é o contrário!)


Ou então um daqueles sonhos eróticos que a gente acorda gozando e vai se masturbar pra prolongar o orgasmo. Quem é que nunca fez isso? É bom pra caralho! Pena que eu nunca vou ter a sensação de acordar de pau duro, que também deve ser muito foda. E isso não tem nada a ver com esse papo de inveja do falo. É pura curiosidade física. Aliás, eu já sonhei que eu tinha um pau e que eu me masturbava. E não espero que ninguém "interprete" isso. Mas eu sonhei que tinha um pau e que eu me masturbava e foi muito esquisito acordar gozando sem o meu pau. Eu adoro os meus sonhos! Mas em vez de ir lá tentar ter um, vou encher meu copo que esvaziou. Tá bacana levar esse papo comigo e a cerveja tá nas últimas... será que eu peço mais no bar da esquina? vou pedir. (...) Pronto, de quebra vem tb um bolinho de bacalhau! Adoro bares da esquina e penso que eu seria muito infeliz em Brasília. Também em cidades pequenas e pacatas sem delivery às 2h30 da madruga. Seria decididamente muito infeliz. Então vou parar de reclamar da vida nos meus poemas. Afinal, o que são esses homens que não me querem? Uns babacas! Um delivery na madrugada me faz muito mais feliz. O que eu quero, do jeito que eu quero, na hora que eu quero, eu pago e tá tudo acertado. Bom, garotos de programa tb são assim.


Mas eu nunca contratei um. Ainda. Não tenho muito essa tara. Viajo mais em travesti. Tb nunca peguei um. ainda. Mas acho a maior viagem a possibilidade de ficar com alguém que é homem e mulher ao mesmo tempo. Quer dizer, no caso, uma mulher me comendo com um pau, de verdade. Eu tenho essa curiosidade. O problema é que os travestis, pelo que eu sei, gostam de homem, então nenhuma ia querer dar pra mim. Uma pena... Minha irmã morava numa rua que era ponto de travestis e tinha umas que eram mais femininas do que eu, lindas! De vez em quando eu batia papo com elas. Mas eram todas amigas. Não tavam nem aí pra mim. Só na política de boa vizinhança. E pensar que eu comecei esse texto sem ter o que dizer e tô aqui revelando as minhas fantasias sexuais mais bizarras! E nem posso culpar a cerveja. Só agora que eu terminei a primeira garrafa, e isso pra mim não é nada. É isso o que me revolta nessa onda de lei seca. Eles têm que medir a capacidade da pessoa de dirigir, se tem reflexo, equilíbrio e tal, e não o quanto ela bebeu. Cada organismo reage de um jeito, e o meu costuma ser resistente. O que não impede de terem me mandado uma multa de quase mil reais só pq eu me recusei a soprar o bafômetro, quer dizer, sem nem saber se eu tinha de fato bebido ou não. É claro que eu não paguei, nem tenho dinheiro pra isso. As leis estão todas erradas. Eu dirijo muito mal se eu fumo um baseado, mas não tem bafômetro pra isso. Tudo bem que é proibido mas todo mundo fuma e todo mundo sabe que todo mundo fuma e essa merda já devia estar liberada há 10 mil anos atrás (aliás, há dez mil anos eu acho que estava...). Tendo consciência das minhas limitações, se eu fumo eu não pego o carro, se eu pego o carro, eu não fumo. Eu sou um exemplo de responsabilidade ao volante! Falta reconhecimento... Mas um dia eu ainda vou ser reconhecida! Quando eu morrer, talvez. É sempre assim com os poetas. Como diz o título de um livro oral que eu criei com uns amigos: "Poeta bom é poeta morto - O transtorno passa, a obra fica".


A gente a caminho de Paraty em 2008, uma turma no meu carro, eu ia lançar meu primeiro livro na FLIP, e rola esse papo de poeta só ser valorizado depois de morto e o Gean diz que eu iria morrer e ele herdaria os meus livros e ficaria rico. Daí a gente começa a criar uma história, vários poetas sendo misteriosamente assassinados, uma história muito louca tendo como personagens todos os nossos amigos... a maior viagem! E aí num trecho da estrada um engarrafamento, um túnel em obras, com uma placa: "O transtorno passa, a obra fica". Porra! Até fotografamos. Virou o subtítulo desse livro imaginário. Esse livro foi lançado oralmente naquela FLIP, com várias versões, vários novos capítulos sendo improvisados, novos personagens entrando na história pra matar ou pra morrer, imortalizados. Pena que a gente não tinha um gravador. Uma pena... Era um livro bem divertido! Caramba, como é que eu vim parar aqui? O que me remeteu a essa história? Deu uma saudade danada dessa época e desses meus amigos. O Gean tá na Suécia e eu não vejo faz mais de um ano. Ele agora deve estar congelando. Mas pelo que eu sei, ele tá bem feliz por lá. E tb sente saudades. Talvez eu devesse encerrar assim, com essa saudade gostosa e essa lembrança divertida. Mas é que eu pedi mais cerveja, mais 2 garrafas. O que eu vou ficar fazendo sozinha com elas? Prefiro me acompanhar da lembrança de amigos e de momentos divertidos. Deixa eu pensar mais um... Por que é sempre mais fácil lembrar dos momentos tristes do que dos alegres? um saco, isso! Me bateu agora uma certa melancolia - será que eu tô indo da fase eufórica pra depressiva do álcool? Não, muito cedo pra isso. Já aprendi a não menosprezar a minha melancolia com TPMs e alcoolismos... Essa coisa de estar sempre sorrindo é coisa de comercial de margarina.


Com a gente não é assim, né? Tem hora que bate mesmo uma tristeza de estar sozinha tomando uma cerveja e fumando um cigarro e escrevendo num blogue e lembrando de amigos distantes e alegrias perdidas. Bate uma tristeza de lembrar de ausências. Um livro perdido na efemeridade da fala... Amigos fora do alcance dos nossos abraços... do tato. Aquelas palavras que a gente preferia não ter dito, e tudo o que precisávamos dizer e calamos. Todo o nosso medo de ganhar. Medo de perder? Não se perde o que não se tem. Nosso medo de ganhar e toda a paralisia. Tristeza de ausências. Faz parte da vida. Ninguém aqui tá dentro de um comercial de margarina. Quem bom, né? Senão a gente só ia comer pão e torradas. E ninguém é feliz só com pão e torradas. A gente precisa de um maldito torresminho que faz o nosso paladar delirar e o nosso colesterol ir às alturas! Ninguém é feliz com zero açúcar, zero calorias. Essas coisas que tentam nos empurrar com sorrisos. Eu prefiro chorar sobre um bolinho de bacalhau - é mais digno! Ou ter uma felicidade incontida com uma barra de chocolates! Qualquer coisa que seja realmente real, corporal, sentida, e não simulada. Já cheguei num ponto que eu não sei como terminar esse texto, porque qualquer coisa que eu escreva vai ser conclusiva, e eu não tenho conclusões pra nada. Eu não tenho conclusões previamente estabelecidas, emoções previamente estabelecidas, nem um fim de noite previamente estabelecido pelo meu "vou dormir" antes de abrir a geladeira. Acho que a vida é assim mesmo. Um deixar-se levar pra ver onde vai dar, e às vezes não dá em nada. Mas e o caminho percorrido? É ali no meio que alguma coisa acontece, eu acho. Ali no meio entre a felicidade e a melancolia. Entre o dito e o não dito. Entre o ir dormir e o abrir a geladeira. Uma faísca.

2 comentários:

Seiji Kimura disse...

Acordar de pau duro com uma bela se masturbando ao lado deve ser o sonho de todo marmanjo... e nada como um chazinho antes de dormir, no meu caso costuma ser um vinho barato mesmo que dá a sensação de ter dormido com uma palha de aço na boca ao acordar, bj

Beatriz Provasi disse...

hahaha...a palha de aço é boa! no meu caso o cigarro sempre torna o gosto um pouco pior... bjs